Novo ensaio de medicamento contra cancro do pulmão com resultados “extraordinários”

Maioria dos pacientes que tomaram lorlatinib não teve progressão da doença em cinco anos. É uma nova esperança para um subtipo do cancro do pulmão que afecta sobretudo não fumadores jovens.

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O cancro associado à mutação do gene ALK representa 5% dos diagnósticos de cancro do pulmão de células não-pequenas REUTERS/MAGALI DRUSCOVICH
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Os resultados de um novo ensaio clínico de um medicamento que travou o avanço do cancro do pulmão em dezenas de doentes durante mais tempo do qualquer outro tratamento estão a ser descritos por médicos e investigadores como "extraordinários" e "fora do normal".

Os dados, apresentados esta sexta-feira na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), em Chicago, nos Estados Unidos, mostram que mais de metade (60%) dos doentes diagnosticados com formas avançadas de cancro do pulmão que tomaram lorlatinib estão vivos cinco anos depois, e que a sua doença não teve qualquer progressão. Nesta percentagem estão incluídos casos de pacientes que já tinham metástases cerebrais diagnosticadas antes do início do ensaio.

Em comparação, entre os doentes do grupo de controlo do estudo, tratados com crizotinib, a sobrevivência sem progressão da doença a cinco anos foi de apenas 8%, segundo refere o The Telegraph.

O cancro do pulmão é uma das doenças oncológicas mais comuns e a principal causa de morte por cancro em todo o mundo, matando cerca de 1,8 milhões de pessoas todos os anos. As taxas de sobrevivência em doentes em fases avançadas, quando há registo de metástases em órgãos distantes, são particularmente baixas.

“Do que já sabemos, estes resultados não têm precedentes”, declarou Benjamin Solomon, principal autor do estudo e médico oncologista do centro oncológico Peter MacCallum, em Melbourne, na Austrália.

Segundo o jornal britânico, o lorlatinib tem sido tão eficaz que, no momento da publicação dos resultados do estudo, os investigadores não conseguiram sequer indicar um número médio de meses em que não foi registado um agravamento da doença, um indicador comum nestes ensaios, já que, neste caso, a maior parte dos pacientes ainda vive sem qualquer progressão da doença. No grupo a que foi administrado o crizotinib, por outro lado, o tempo médio sem progressão da doença foi de 9,1 meses.

Especialistas ouvidos tanto pelo The Telegraph como pelo The Guardian disseram que esta foi “a sobrevivência livre de progressão mais longa alguma vez registada” para um tratamento de cancro do pulmão.

Tanto o lorlatinib como o crizotinib são tratamentos dirigidos à interrupção do crescimento de células tumorais e são utilizados para tratar um subtipo do cancro do pulmão de células não-pequenas que é mais habitualmente diagnosticado em pessoas jovens, que não fumam e que têm uma mutação específica do gene ALK.

O cancro do pulmão de células não-pequenas representa 85% dos casos diagnosticados de cancro do pulmão. Este tipo de cancro geralmente cresce e metastiza de forma mais lenta, comparativamente ao cancro de células pequenas. O subtipo associado à mutação do gene ALK representa, por sua vez, cerca de 5% dos casos de cancro do pulmão de células não-pequenas.

David Spigel, director científico do Instituto de Pesquisa Sarah Cannon e membro da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), sublinhou o carácter inédito dos dados apresentados: “Simplesmente não temos resultados como estes na oncologia com muita frequência, muito menos no cancro do pulmão de células não-pequenas. Estes estão entre os melhores resultados que observámos em doenças avançadas em qualquer ambiente...um avanço realmente importante no tratamento do cancro do pulmão.”

A maior parte dos doentes incluídos no estudo financiado pela Pfizer apresentou, no entanto, alguns efeitos colaterais decorrentes da terapia, como inchaço, colesterol alto e níveis lipídicos elevados. A percentagem de pacientes com apresentação de efeitos secundários foi maior entre os que tomaram lorlatinib (77%) do que aqueles a que foi administrado o crizotinib (57%).

Ao The Guardian, Charles Swanton, director clínico do programa de pesquisa oncológica do Reino Unido, que não esteve envolvido no estudo, disse que os resultados “inovadores” trarão uma nova esperança aos pacientes com cancro do pulmão avançado: “Apesar dos progressos na nossa compreensão da doença, pode ser extremamente desafiante controlar os cancros que se espalharam e há opções limitadas de tratamento para o cancro do pulmão”.

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