Ucrânia: Limites ao uso de armas ocidentais domina reunião de MNE da NATO em Praga

O objectivo do encontro informal em Praga é preparar a cimeira de Julho, em Washington.

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Volodymyr Zelensky com os governantes belgas Ludivine Dedonder e Alexander De Croo junto a F-16 como os que serão disponibilizados à Ucrânia OLIVIER HOSLET / EPA
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Os ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO reúnem-se nesta quinta e sexta-feira em Praga para preparar a cimeira de Julho, com a discussão a ser dominada pelas limitações impostas ao uso de armamento ocidental pela Ucrânia.

O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, vai participar na reunião, assim como o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.

O carácter informal do encontro impossibilita quaisquer decisões e a reunião tem como enfoque preparar a cimeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) de Julho, em Washington.

"É uma discussão mais privada, informal, os ministros vão estar essencialmente sozinhos na sala a debater, e a acabar algum trabalho que ainda está em curso para a cimeira de Washington", disse na quarta-feira a embaixadora norte-americana para a NATO, Julianne Smith, durante um briefing de antevisão.

Mas na última semana o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez um apelo para que o país possa utilizar armamento disponibilizado pelo Ocidente para atingir posições militares no território russo.

A questão está longe de ser consensual e há vários países do bloco político-militar que querem continuar a limitar a utilização do armamento ocidental à defesa ucraniana no seu próprio território.

Ataques ao território russo com armamento fornecido pelo Ocidente poderiam ser interpretados pelo Kremlin como um envolvimento directo no conflito e levar a uma escalada.

Finlândia, Canadá e Polónia já anunciaram que não se opõem à utilização do armamento que enviaram para a Ucrânia para atingir o território russo, mas outros, como os Estados Unidos e a Bélgica, limitaram o uso ao território ucraniano.

Na terça-feira, Zelensky e o primeiro-ministro belga assinaram um acordo para disponibilizar 30 caças F-16 à Ucrânia até 2028, mas Alexander De Croo fez questão de deixar por escrito que não podem atravessar a fronteira com a Rússia.

A adesão da Ucrânia à NATO vai ser novamente abordada na cimeira de Julho, referiram à Lusa fontes da organização político-militar, e está previsto que os aliados mostrem um sinal mais claro a Kiev sobre esta aspiração. Mas as mesmas fontes advertiram que não haverá alteração ao estatuto que a Ucrânia tem hoje, já que o conflito é condição fulcral para avançar no processo.

Limitações reconsideradas

Já nesta quinta-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, pediu aos Aliados que revejam as restrições colocadas ao armamento ocidental usado pela Ucrânia em território russo, sugerindo que as limitações poderiam ser "reconsideradas" dada a evolução da guerra.

"Temos de reconhecer que os Aliados estão a prestar muitos tipos diferentes de apoio militar à Ucrânia. Alguns deles impuseram restrições à utilização dessas armas, outros não impuseram quaisquer restrições às armas que forneceram à Ucrânia, estas são decisões nacionais, mas penso que, à luz da forma como esta guerra evoluiu face ao início, quando quase todos os combates tiveram lugar em território ucraniano, [...] creio que chegou a altura de reconsiderar algumas destas restrições", declarou o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Intervindo numa conferência sobre os 75 anos da NATO, que antecede a reunião informal dos chefes da diplomacia da Aliança Atlântica na cidade checa de Praga, Jens Stoltenberg lembrou que, dois anos após a invasão russa da Ucrânia, "a maior parte dos combates pesados tem tido lugar ao longo da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia", com a linha da frente a ser "o lado russo da fronteira".

O responsável frisou que a reavaliação sobre este alívio de restrições deveria acontecer para "permitir que os ucranianos se defendam efectivamente".

"É preciso lembrar que se trata de uma guerra, de uma agressão lançada por opção de Moscovo contra a Ucrânia", vincou.

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