No mar, petróleo e extracção de minerais são os temas que mais dividem os partidos

Inquérito às formações políticas que concorrem às eleições europeias mostra grande unanimidade política sobre os oceanos. Mas a extracção de recursos marinhos é o tema mais polémico, mostra a Sciaena.

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Petroleiros ao longe: a Iniciativa Liberal é a favor da exploração de hidrocarbonetos no mar EDGAR SU / REUTERS
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A maioria dos partidos portugueses candidatos às eleições europeias apoia políticas amigas dos oceanos, conclui um inquérito feito pela organização ambientalista Sciaena. A exploração de recursos marinhos não vivos, ou seja, minérios e combustíveis fósseis, é aquela em que há mais divergência, com a AD, no Governo, a não fechar a porta a esta possibilidade. O Chega não se pronunciou sobre os oceanos.

O Partido Socialista (PS) manifestou-se completamente de acordo com as posições da Sciaena, que se dedica à protecção dos oceanos, de acordo com os resultados do inquérito O Teu Voto é Fish? Já a Iniciativa Liberal (IL) está abertamente a favor tanto da mineração em mar profundo como da exploração de gás e petróleo no mar.

Os socialistas comprometeram-se “a advogar por uma moratória à mineração em mar profundo em águas da União Europeia”, bem como a aprofundar a economia circular, para aumentar a reciclagem de matérias-primas essenciais para a transição ecológica, que existem no fundo do mar. Prometeram ainda lutar por “uma proibição à exploração de hidrocarbonetos em águas da UE até 2027”.

Neste inquérito, enviado às 17 formações em liça nestas europeias, a Sciaena pedia que as 22 perguntas fossem respondidas por quem do possível grupo parlamentar europeu ficasse com temas relacionados com o oceano. E, no caso da AD (coligação do PSD, CDS-PP e PPM), a resposta à pergunta sobre mineração em mar profundo foi “terei de ter mais informação para decidir esta questão”. Sobre a exploração de hidrocarbonetos, a posição expressa foi “dependerá da evolução das energias renováveis”.

Estas respostas da coligação governamental portuguesa fazem com que a AD surja com sinal amarelo neste inquérito (“será fish?”), ou seja, apenas em parte estão em concordância com as posições da Sciaena, ou considera-se que a resposta não foi clara ou directa.

Já há cinco anos, nas últimas eleições europeias, a Sciaena tinha feito este inquérito. “O PS respondeu mais ou menos como agora, mas o PSD não respondeu, o que é pena”, disse Gonçalo Santos, da Sciaena, numa conferência de imprensa online para apresentar os resultados.

“Mas, por exemplo, o PSD votou a favor da Lei do Restauro da Natureza no Parlamento Europeu (PE), até contra a tendência do grupo a que pertence, o Partido Popular Europeu. Isso dá-nos alguma esperança”, adiantou.

CDU tornou-se mais "azul"

No entanto, o partido que teve uma evolução mais “verde” – ou “azul”, já que falamos dos oceanos – foi a CDU, destacou Gonçalo Santos. Em 2019 tinham mais respostas salpicadas de vermelho (o candidato assume que a conservação do meio marinho colocada na questão não representa uma prioridade para o seu partido) e amarelo. “É uma mudança consentânea com a evolução do voto do partido nos últimos cinco anos. Aliás, ainda há pouco tempo tiveram as primeiras jornadas parlamentares dedicadas ao ambiente”, salientou Gonçalo Santos.

A única pergunta a que a CDU dá um sólido vermelho é que inquire sobre o apoio do partido à ideia de “criação de uma Comissão do Oceano no PE, que substituirá algumas das actuais comissões, como a das Pescas, mas também comissões como a de Transporte e Turismo, no que toca a assuntos marinhos”. A IL e o PS também oferecem um amarelo aqui, a AD luz verde. Todos os partidos apoiam o objectivo internacional de proteger 30% do espaço marinho até 2030 — algo em que o ex-primeiro-ministro António Costa prometeu o empenho português, em 2022.

Cinco partidos têm respostas verdes a tudo (“é fish”), e três têm perspectivas de eleger eurodeputados, salientou Ana Matias, também da Sciaena: Bloco de Esquerda, Livre, PAN-Pessoas Animais Natureza, Movimento Partido Da Terra e Volt Portugal. “O oceano tem sido cada vez mais falado, e os problemas das alterações climáticas adensam-se, pelo que os partidos estão mais pressionados”, acrescentou Ana Matias. “Portugal até é dos países em que é mais fácil defender políticas amigas do oceano”, salientou ainda Gonçalo Santos.

O partido Ergue-te foi um dos que respondeu ao inquérito, mas as suas respostas são um mar de vermelhos. De resto, só 11 dos 17 partidos enviaram as suas respostas à Sciaena. A ausência mais pesada é a do Chega, que elegeu 50 deputados nas legislativas de Março. “Não tivemos respostas. Mas deputados de vários países que integram as famílias políticas europeias próximas do Chega, os Conservadores e Reformistas Europeus, e Identidade e Democracia, já tiveram intervenções positivas em relação ao ambiente no PE”, destaca Gonçalo Santos.

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