Polícia faz buscas no Parlamento Europeu devido a possível interferência russa

Site de notícias Voice of Europe era usado para espalhar desinformação ligada à Rússia.

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Eleições europeias decorrem entre 6 e 9 de Junho REUTERS/Johanna Geron
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A polícia belga efectuou buscas na residência de um funcionário do Parlamento Europeu e no seu gabinete no edifício do Parlamento em Bruxelas, devido a uma possível interferência russa, indicou, nesta quarta-feira, o Ministério Público da Bélgica. Os procuradores disseram em comunicado que o gabinete do suspeito em Estrasburgo, onde se situa a sede do Parlamento Europeu em França, também foi revistado, noticiou a AP.

“As buscas fazem parte de um caso de ingerência, corrupção passiva e participação numa organização criminosa e estão relacionadas com indícios de ingerência russa, em que membros do Parlamento Europeu foram abordados e pagos para promover propaganda russa através do site de notícias Voz da Europa”, pode ler-se num comunicado do Ministério Público da Bélgica. Os procuradores afirmam acreditar que o suspeito desempenhou “um papel significativo neste processo”.

De acordo com uma fonte próxima do processo, citada pela Agência France-Presse (AFP), trata-se de Guillaume Pradoura, antigo assistente parlamentar do eurodeputado alemão Maximilian Krah, do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Pradoura é actualmente assistente parlamentar do eurodeputado holandês Marcel de Graaff, membro do Fórum para a Democracia, um partido nacionalista de extrema-direita que não está integrado em nenhum grupo parlamentar (senta-se na bancada dos não-inscritos).

Também o correspondente da revista alemã Der Spiegel em Bruxelas, Timo Lehmann, escreve nesta quarta-feira que procuradores belgas foram vistos a entrar no gabinete de Marcel de Graaff. Depois de ter sido expulso da delegação da União Nacional, o partido de extrema-direita francês dirigido por Marine Le Pen, devido a um escândalo de anti-semitismo, Guillaume Pradoura trabalhou para o eurodeputado da AfD Maximilian Krah durante três anos, a partir de Julho de 2019, antes de começar a trabalhar para de Graaff, explica a revista alemã.

Já em Abril, um assessor de Krah, identificado como Jian G., tinha sido detido na cidade alemã de Dresden. O homem de 43 anos teria fornecido informações aos serviços secretos chineses em Pequim sobre opositores chineses no exterior e sobre assuntos relacionados com o Parlamento Europeu.

Jian G. era "funcionário de um serviço secreto chinês", afirmou na altura o Ministério Público da Alemanha, em Karlsruhe, citado pela Deutsche Welle. Em Janeiro de 2024, o detido transmitiu repetidamente "informações sobre negociações e decisões no Parlamento Europeu", e terá igualmente espiado membros da oposição chinesa na Alemanha para os serviços secretos de Pequim.

Eleições europeias como alvo

Os serviços secretos da Polónia e da República Checa descobriram, no final de Março, uma rede russa que, alegadamente, tinha o objectivo de influenciar os resultados das eleições europeias, que se realizam entre 6 e 9 de Junho.

A mesma rede, de acordo com a imprensa internacional, era responsável pelo funcionamento do site de notícias Voz da Europa, conhecido por “dar voz a políticos eurocépticos e espalhar narrativas pró-Rússia”, como explicou ao PÚBLICO, em Abril, Jan Fridrichovsky, editor-chefe da Demagog.cz, uma plataforma de fact-checking checa. Além deste site, a equipa por trás deste esquema terá pago a políticos europeus para espalharem narrativas pró-russas e organizado conferências e eventos para apoiar certos políticos de direita radical, apontam alguns jornais checos que seguiram o caso.

Numa carta enviada ao Conselho Europeu em Abril, e que foi divulgada nas redes sociais, o primeiro-ministro belga, Alexandre de Croo, e o seu homólogo checo, Peter Fiala, deram conta de que tinham "descoberto uma rede de interferência pró-Rússia" a actuar no país. Os objectivos da rede passavam por “promover a cooperação entre políticos pró-Rússia dentro do Parlamento Europeu” e “ajudar a eleger mais candidatos pró-Rússia no Parlamento Europeu”.

A União Europeia impôs sanções ao Voz da Europa e a dois empresários a ele ligados, informaram as autoridades na segunda-feira, alargando as sanções impostas pela República Checa, que diz que o site difunde propaganda russa.

As acções a nível da UE visam Viktor Medvedchuk, Artem Marchevskyi e a empresa sediada em Praga que gere o site com o congelamento de bens e a proibição de viajar, diz a Reuters. O primeiro é um oligarca ucraniano pró-Kremlin, membro do círculo íntimo de Putin (o Presidente russo é, inclusivamente, padrinho da filha de Medvedchuk). Em 2022, foi exilado para a Rússia em troca de prisioneiros de guerra ucranianos e perdeu a cidadania ucraniana. Medvedchuk era o líder do partido Plataforma de Oposição — For Life, um dos partidos suspensos na Ucrânia. O israelita Artem Marchevskyi, segundo a Reuters, liderou o Voz da Europa sob a orientação de Medvedchuk. Com Fernando Costa

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