Do sapo-parteiro aos tritões que dançam, a vida escondida em alguns lugares do Porto

Promovido pelo Ciimar, o novo roteiro, desenvolvido no âmbito do projeto MoRe, pretende levar a população a conhecer a biodiversidade escondida na periferia do Porto.

#TBL - Visita guiada ao antigo tanque de contumil para observar a sua biodiversidade no ambito do Evento de Roteiro dos Anfíbios do Porto - Porto - 17 Maio 2024 - Tiago Bernardo Lopes
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O Roteiro dos Anfíbios do Porto passou por vários lugares todas as sextas-feiras de Maio Tiago Bernardo Lopes
#TBL - Visita guiada ao antigo tanque de contumil para observar a sua biodiversidade no ambito do Evento de Roteiro dos Anfíbios do Porto - Porto - 17 Maio 2024 - Tiago Bernardo Lopes
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O Roteiro dos Anfíbios do Porto passou por vários lugares da cidade todas as sextas-feiras de Maio Tiago Bernardo Lopes
#TBL - Visita guiada ao antigo tanque de contumil para observar a sua biodiversidade no ambito do Evento de Roteiro dos Anfíbios do Porto - Porto - 17 Maio 2024 - Tiago Bernardo Lopes
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O Roteiro dos Anfíbios do Porto passou por vários lugares da cidade todas as sextas-feiras de Maio Tiago Bernardo Lopes
#TBL - Visita guiada ao antigo tanque de contumil para observar a sua biodiversidade no ambito do Evento de Roteiro dos Anfíbios do Porto - Porto - 17 Maio 2024 - Tiago Bernardo Lopes
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O antigo tanque de Contumil foi o ponto de encontro de 17 de Maio Tiago Bernardo Lopes
#TBL - Visita guiada ao antigo tanque de contumil para observar a sua biodiversidade no ambito do Evento de Roteiro dos Anfíbios do Porto - Porto - 17 Maio 2024 - Tiago Bernardo Lopes
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O Roteiro dos Anfíbios do Porto passou por vários lugares todas as sextas-feiras de Maio Tiago Bernardo Lopes
#TBL - Visita guiada ao antigo tanque de contumil para observar a sua biodiversidade no ambito do Evento de Roteiro dos Anfíbios do Porto - Porto - 17 Maio 2024 - Tiago Bernardo Lopes
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À procura de vida nos lugares escondidos do Porto Tiago Bernardo Lopes
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Podem parecer meras poças de água ou desinteressantes tanques de águas esverdeadas, mas na realidade são verdadeiros aquários ao ar livre, onde habitam tritões, salamandras ou sapos que poucos conhecem. Para que os portuenses possam descobrir estes seus vizinhos anfíbios, decorre uma iniciativa que traça um mapa das moradas de ecossistemas riquíssimos que ainda sobrevivem na cidade.

O projecto MoRe (Monitorização e Restauro da Biodiversidade das Zonas Húmidas da Cidade do Porto), promovido pelo Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), lançou a proposta em Maio para dar a conhecer os espaços esquecidos da cidade que escondem uma flora cheia de vida e os anfíbios que lá habitam através do Roteiro dos Anfíbios do Porto. A entrada é livre, mas sujeita a inscrição prévia. As inscrições para a última visita (no dia 31) já abriram na passada sexta-feira e a última paragem do roteiro é no charco na horta pedagógica da Quinta do Covelo.

Financiado pela Fundação Belmiro de Azevedo, a iniciativa procura dar a conhecer o que resta nestes ecossistemas aquáticos, que albergam mais vida do que os rios, ribeiros e albufeiras, e que estão cada vez mais condenados a desaparecer pelo rápido avanço da urbanização, sendo por isso um dos objectivos “sensibilizar a população e inverter a forma como a sociedade olha para estes espaços”, segundo explicou José Teixeira, co-coordenador do projecto MoRe.

A actividade arrancou a 3 de Maio no Terminal Intermodal de Campanhã (TIC) e já passou pelo Horto das Virtudes, pelo antigo tanque de Contumil e pelo Charco Maravilha, no Parque da Cidade. Falta ainda desvendar a vida misteriosa que se esconde no charco da horta pedagógica do Centro de Educação para a Sustentabilidade da Quinta do Covelo (31).

Ovos às costas e danças exibicionistas

Mas, mesmo sem roteiro, qualquer um pode aventurar-se e partir à descoberta de animais nos locais assinalados pelos especialistas. O antigo tanque de Contumil, por exemplo, foi o ponto de encontro de 17 de Maio que levou um pequeno grupo intergeracional a conhecer tritões-de-ventre-laranja, larvas de sapo-parteiro e libélulas. Dos mais velhos aos mais novos, a visita passou por um “oásis perdido no tempo”, onde a tradição de lavar a roupa e demolhar o bacalhau desapareceu e deu lugar a um espaço reclamado pela natureza.

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À procura de vida nos lugares escondidos do Porto Tiago Bernardo Lopes

Estas águas são agora o abrigo de várias plantas e de alguns anfíbios e insectos. Durante a visita, a equipa do projecto MoRe explicou as especificidades dos protagonistas desta paragem.

O primeiro a ser desvendado foi a larva de libélula (ou ninfa), que detém um exoesqueleto escuro que a sustenta e que vai sendo largado à medida que vai crescendo. A última mudança de pele é definitiva quando tem de sair da água. Caso contrário, as libélulas afogam-se, uma vez que deixam de conseguir respirar mais ali. O corpo é constituído por três pares de patas e um par de antenas pequenas. Antes de atingir a fase adulta e de se tornar independente da água, o estado larvar pode durar até um ano. Assim que a pele se rompe, saem da água já com as asas formadas.

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O antigo tanque de Contumil foi o ponto de encontro de 17 de Maio Tiago Bernardo Lopes

São consideradas predadores vorazes porque comem larvas de outros insectos, pequenos invertebrados, larvas de peixes e de sapos. São ainda bioindicadores da qualidade da água, uma vez que esta entra constantemente dentro do seu corpo. Se a água estiver poluída, é muito provável que a ninfa não sobreviva.

Logo a seguir, foi conhecida a larva de sapo-parteiro, que tem um dorso acastanhado com pontos escuros e pequenas manchas quase douradas. Na região ventral predominam as cores claras. Normalmente são maiores do que os adultos, em termos de comprimento (entre 60 e 70 milímetros), e servem de alimento, além das larvas de libélula, às cobras de água, a diversos mamíferos carnívoros e aves e escaravelhos aquáticos, que também puderam ser vistos durante a visita.

Assim que atingem a idade adulta, os sapos-parteiros, que medem entre 40 e 50 milímetros, têm uma particularidade que os distingue dos outros anfíbios: os machos carregam os ovos às costas dentro de água até pelo menos um mês, quando eclodem. É também a espécie que tem o período larvar maior, que pode durar até um ano.

O antigo tanque de Contumil, por exemplo, foi o ponto de encontro de 17 de Maio Tiago Bernardo Lopes
Tiago Bernardo Lopes
Tiago Bernardo Lopes
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O antigo tanque de Contumil, por exemplo, foi o ponto de encontro de 17 de Maio Tiago Bernardo Lopes

Como o nome indica, os tritões-de-ventre-laranja têm um ventre com uma cor característica. Uma das marcas destes animais, que foi destacada na visita, é a sua reprodução: para atrair as fêmeas, os machos não cantam mas dançam, levantando ou abanando a cauda, e podem lutar entre si ou exibir-se para conseguirem conquistar a sua parceira. Entre macho e fêmea há características que os separam. As fêmeas têm um corpo mais largo, enquanto os machos são mais finos e têm um papo na zona da cloaca.

Por fim, chegou a vez das libélulas e das libelinhas, que se distinguem pelo tamanho, corpo, asas e posição dos olhos. As primeiras são maiores, os olhos encontram-se no centro da cabeça e quando pousam as asas ficam abertas. Já as libelinhas são mais pequenas, têm asas e um corpo mais finos e olhos nas laterais da cabeça. Quando pousam, as asas fecham-se.

Uma família à volta de um pequeno anfíbio

Assim que estas espécies deixam de ser estranhas, chega a altura de largar umas rãs-verdes na água do tanque, momento que despertou o interesse dos mais novos e dos adultos que os acompanhavam. Após um tempo de máxima atenção é possível descontrair através de uma actividade interactiva que reúne pais, filhos, avós e netos à volta de um pequeno anfíbio que tenta escapar por entre os dedos pequenos que têm dificuldade em envolvê-lo.

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O antigo tanque de Contumil foi o ponto de encontro de 17 de Maio Tiago Bernardo Lopes

Para alguns que testemunharam estes episódios, o roteiro acaba por fortalecer laços entre as pessoas e entre estes ecossistemas que passam despercebidos, além de guardarem o lembrete de que é preciso preservar estes seres vivos. Rita Alvão e Diogo Oliveira, ambos com 24 anos, sublinham que ver estes “contactos intergeracionais” e “pessoas locais a falar da história do sítio” é “necessário e mantém a vida nestes espaços”. “Ver acontecer este tipo de organizações já é algo que as mantém e que lhes dá um sentido de pertença.”

Entre as 30 pessoas que marcaram presença, uma delas recordou os tempos em que o tanque esteve nas mãos do ser humano. Francelina Gonçalves, de 75 anos, vive à frente do charco e conta que costumava brincar à beira do sítio que era usado para lavar a roupa e pôr o bacalhau de molho, algo que viu a avó frequentemente a fazer. “Antes éramos uma família e agora isto não presta para nada. Não mora aqui quase ninguém, nem há crianças. A única criança é a minha neta.” Acompanhada pela neta, Francelina acabou por mudar a forma como olhava para o tanque. Começou como um cenário cheio de memórias e acabou como um espaço “morto” que, afinal, ainda alberga muita vida.

Até agora o roteiro dos anfíbios do Porto já revelou salamandras-de-pintas-amarelas e sapos-parteiros e ainda vai mostrar o sapo-unha-negra e o tritão-palmado.

Esta iniciativa também surge como uma oportunidade para introduzir ou reintroduzir algumas espécies. “O Terminal Intermodal de Campanhã é um ambiente recente, que foi construído há pouco tempo e que, por isso, não tinha nenhuma espécie de anfíbio. Nós aproveitámos a actividade para o colonizar com várias espécies, usando também a população, e o mesmo fizemos aqui [no antigo tanque de Contumil] com as rãs-verdes, que a população identificava como uma espécie que já existiu há alguns anos aqui, mas que entretanto desapareceu”, frisa Jorge Teixeira.

Além dos sítios que compõem o roteiro, é ainda possível ver vestígios desta vida no jardim botânico, no jardim de Serralves e ainda nas áreas verdes municipais. Neste momento, o MoRe, em parceria com a Câmara Municipal do Porto, está a mapear estes espaços para saber quais merecem ser protegidos e onde se pode ir buscar algumas espécies para ajudar a recolonizar outras zonas, além de vir a limpar com mais regularidade os “aquários ao ar livre” da cidade do Porto.