Cerrado ultrapassa a Amazónia e torna-se o bioma mais devastado no Brasil em 2023

Os dois maiores biomas do Brasil, a Amazónia e o Cerrado (que tem características semelhantes à savana), somam mais de 85% da área total desflorestada no país no ano passado.

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Desmatamento entre a Amazónia e o Cerrado no estado de Mato Grosso, no Brasil AMANDA PEROBELLI/REUTERS/ARQUIVO
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Mais de metade de toda a área desflorestada no Brasil em 2023 ocorreu no Cerrado, transformando este bioma brasileiro na área com vegetação nativa mais devastada do país, posição antes ocupada pela Amazónia, divulgou nesta terlça-feira o MapBiomas.

A organização afirma, no seu Relatório Anual de Desflorestamento (RAD), que, nos últimos cinco anos, o Brasil perdeu 8.558.237 hectares de vegetação nativa. Porém, dados recolhidos pela mesma organização indicaram que 2023 representou um ponto de inflexão nesse processo, por ter registado uma queda de 11,6% na área desflorestada.

Ao todo, 1.829.597 hectares de vegetação nativa brasileira foram suprimidos em 2023 face ao total de 2.069.695 hectares destruídos um ano antes. Essa redução deu-se apesar de um aumento de 8,7% no número de alertas comparativamente a 2022.

Em 2023, pela primeira vez, houve o predomínio de desflorestamento em biomas com formações parecidas com a savana (54,8%), seguido de formações florestais (38,5%), que predominaram nos quatro primeiros anos do levantamento feito pela organização.

O Mapbiomas destacou que os dois maiores biomas do Brasil, a Amazónia e o Cerrado (que tem características semelhantes à savana), somam mais de 85% da área total desflorestada no país no ano passado.

“Em 2023, o Cerrado correspondeu a 61% da área desflorestada em todo o país e a Amazónia 25%. Foram 1.110.326 hectares desflorestados no Cerrado, em 2023, um crescimento de 68% face a 2022. Quase todo o desflorestamento do país (97%) teve a expansão agropecuária como vector”, frisou a organização num comunicado com os principais dados do relatório.

"Os dados apontam a primeira queda do desflorestamento no Brasil desde 2019, quando se iniciou a publicação do RAD. Por outro lado, a cara do desflorestamento está mudando no Brasil, se concentrando nos biomas onde predominam formações de savana e campestres e reduzindo nas formações florestais", acrescentou Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

No ano passado, a área média de vegetação nativa destruída no país sul-americano por dia foi de 5013 hectares ou 228 hectares por hora, segundo o MapBiomas. Mais de metade da destruição aconteceu no Cerrado, onde foram perdidos 3042 hectares de vegetação nativa por dia. Na Amazónia, foram perdidos 1245 hectares por dia, o que equivale a cerca de oito árvores por segundo.

Já na Amazónia, a área desflorestada em 2023 foi de 454,3 mil hectares, dado que indica uma queda de 62,2% face a 2022.

Dos 559 municípios do bioma Amazónia no território brasileiro, 436 registaram algum tipo de destruição florestal em 2023, ou 78% do total. Em todos os dez municípios que mais desflorestaram áreas na Amazónia houve queda.

“Houve redução no tamanho médio dos alertas e na área desflorestada na maioria dos estados [da Amazónia] (…) Por outro lado, observa-se um possível deslocamento deste desflorestamento, que está crescendo em outros biomas, particularmente no Cerrado, que apresentou a maior área desmatada no Brasil em 2023”, concluiu Larissa Amorim, do MapBiomas.

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