Final da Taça de Portugal: vem aí o Jamor da agonia ou do alívio
Para o FC Porto, a competição pode impedir a primeira temporada sem títulos de Sérgio Conceição no clube. Para o Sporting, pode significar a “dobradinha” que foge há mais de 20 anos.
Quando dois dos “grandes” entram em campo existe sempre uma aura especial. Quando duas equipas entram no relvado do Estádio Nacional, no Jamor, também se sente esse extra de emoção – talvez exceptuando quando lá jogava a BSAD, mas ignoremos esse tempo. E se as duas coisas acontecerem em simultâneo? E se, além disso, esse jogo for uma final? E se, para apimentar, se tratar de um jogo no qual o desfecho diferenciará uma agonia profunda e um tremendo alívio?
É disto que se falará neste domingo, pelas 17h15, na final da Taça de Portugal entre Sporting e FC Porto.
Além de tudo o que já envolve um clássico, seja ele qual for, e uma final da Taça, no Jamor, seja também ela qual for, o duelo entre “leões” e “dragões” poderá significar, para o FC Porto, a primeira temporada sem qualquer título desde que Sérgio Conceição é treinador.
O técnico nunca foi de férias de “mãos a abanar”, ainda que o futuro no clube, a ser discutido após a final, não deva estar dependente de uma conquista no Jamor. Mas acabar a temporada sem troféus, com ou sem Conceição na berlinda, é sempre um cenário inusitado no FC Porto.
E Conceição não teve pudor em abordar a possível saída, dizendo que lhe passou pela cabeça este poder ser o último jogo no clube. “Passou. Para ser sincero, passou. O meu futuro não está dependente de nenhuma conversa, quem decide o meu futuro sou eu. Ponto. E se o meu futuro for sair do FC Porto, é com um sentimento de gratidão, de imensa gratidão, e de dever cumprido. Se for o meu último jogo, o FC Porto paga-me até ao dia de amanhã e eu vou-me embora sem me pagarem um tostão”, garantiu.
Dobradinha há 22 anos
Para o novo presidente, André Villas-Boas, há um paradoxo curioso: ou festeja o primeiro título como líder do clube ou, em caso de derrota, pode iniciar o seu mandato depois da pior temporada dos últimos largos anos.
Não será um cenário win-win, porque certamente preferirá ver a equipa a erguer o troféu na tribuna do Jamor, mas é, no mínimo, um cenário não tão apocalíptico assim em caso de derrota – porque quanto pior for esta temporada maior será a probabilidade de se destacar como líder de sucesso na próxima.
Para o Sporting parece haver menos em jogo na perspectiva fatalista de salvar a época, já que o objectivo principal está alcançado. Mas por pouco que valham os recordes e as estatísticas, é certo também que não é de enjeitar fazer algo que não acontece há mais de 20 anos. É que a última “dobradinha”, com campeonato e taça no mesmo ano, já ficou em 2001/02.
Rúben Amorim falou disso na antevisão da partida. “A dobradinha para o Sporting é muito importante. Há 22 anos que não conseguimos. Esta equipa tem de tornar esta época especial. Os recordes são importantes”, apontou. E detalhou: “Poderá ser mais especial por estarmos a um jogo de fazermos a dobradinha. Seria um bom passo confirmar o que fizemos no campeonato”.
Para Martínez ver?
Mesmo podendo parecer uma trivialidade sem especial importância, há um detalhe individual que pode dar um tópico adicional a este jogo. Depois da convocatória para o Euro 2024, a opinião pública e os espaços de comentário e análise têm gastado muitas horas e muitas linhas de texto a falarem da parca presença de campeões nacionais na lista de Roberto Martínez.
Gonçalo Inácio vai à Alemanha, mas Pedro Gonçalves, Trincão, Paulinho e Nuno Santos vão ver o Euro no sofá – e muitos crêem que pelo menos um deles deveria ir.
Com Martínez como provável espectador no Jamor – e com um país a assistir na RTP depois de muitos dias de críticas a Martínez –, os jogadores do Sporting terão uma motivação especial para impressionarem nesta final. No fundo, trata-se de justificarem a campanha montada em torno da ausência que muitos consideraram injusta.
É um detalhe provavelmente irrelevante? Talvez. Mas numa fase tão avançada da temporada, com um desgaste brutal nas equipas, um sentimento de “veja bem o que está a perder, caro Roberto” será, possivelmente, uma boa motivação para quem possa estar a sucumbir ao desgaste. E Pote, Trincão, Nuno Santos e Paulinho podem, nessa medida, ter mais por que lutar do que apenas uma Taça de Portugal.
Curiosamente, ambos os treinadores se prestaram a adivinhar os “onzes” do adversário. Se ambos forem competentes nessa arte, então este domingo subirão ao relvado Diogo Pinto, Diomande, Coates, Inácio, Geny, Nuno Santos, Hjulmand, Morita, Pedro Gonçalves, Trincão e Gyökeres, do lado do Sporting. Do lado oposto, serão Diogo Costa, João Mário, Pepe, Otávio, Wendell, Varela, Nico, Pepê, Galeno, Francisco Conceição e Evanilson. Problema: Amorim já falhou a sua aposta, porque Pepe, lesionado, não irá a jogo.