Aborto deixou Bugalho embaraçado no último debate a quatro
Terminaram os chamados debates a quatro. A discussão só ganhou chama quando a questão do aborto foi lançada à conversa. Aqui todos se viraram contra o candidato da AD.
No último debate para as europeias com o formato de quatro candidatos, houve discordâncias e críticas entre os cabeças de lista de PS, AD, BE e PAN, mas não tão fortes como as vistas há três dias no debate anterior. A inclusão da interrupção voluntária da gravidez na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia acendeu a discussão, com todos contra Sebastião Bugalho, que ficou visivelmente embaraçado.
O debate na TVI e CNN começou com a moderadora, Sara Pinto, a pedir aos candidatos que se pronunciassem sobre o facto de António Costa ter sido ouvido pelo Ministério Público no âmbito da Operação Influencer, de onde saiu sem ter sido constituído arguido. Queria também saber se esse facto torna mais fácil ao antigo primeiro-ministro chegar a um cargo na União Europeia.
Marta Temido começou logo por afirmar que sempre achou que António Costa “sempre foi o melhor candidato a um cargo europeu”. Quanto ao facto de ter sido ouvido no processo, a socialista considerou que isso foi “uma excelente notícia”.
Sebastião Bugalho, cabeça de lista da AD, começou por fugir a comentar a questão, mas, perante a insistência da moderadora, acabou por dizer que “deve haver uma sensação de alívio” para Costa, “porque não terá cometido qualquer crime”.
Já a candidata do Bloco, Catarina Martins, lembrou que “passaram mais de seis meses” até o antigo primeiro-ministro ter sido ouvido, lembrando que há “muitas pessoas que passam por este calvário”.
Por fim, Pedro Fidalgo Marques alertou que o que deve ser discutido “é a questão da justiça em geral", mas também saudou o facto de Costa ter sido finalmente ouvido pelo Ministério Público.
O debate ganhou mais vida quando a moderadora lançou para a mesa a aplicação dos fundos europeus, principalmente os do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), cujo prazo de execução termina no fim de 2026.
Marta Temido defendeu um alargamento do prazo, embora tenha admitido que isso não será fácil, e referiu que o Governo “conseguiu apresentar” dados de execução do plano “porque o trabalho estava preparado” pelo anterior executivo, acreditando que os prazos serão cumpridos.
O candidato da AD começou por lamentar não se estarem a discutir questões europeias, mas, mais uma vez perante a insistência da moderadora, afirmou que não se oporia a um alargamento do prazo para a aplicação dos fundos. “O que espero é que o PRR seja executado o mais rapidamente possível para que os portugueses tenham soluções para os problemas. Se nos cruzarmos com uma situação em que Portugal beneficiaria do alargamento do prazo, acho que nenhum eurodeputado português seria contra. Mas a decisão não cabe aos eurodeputados.”
Ainda sobre o PRR, Catarina Martins afirmou que o plano foi definido com base em “decisões erradíssimas” sobre aquilo que deveria ser a orientação económica dos fundos europeus e considerou que as regras de financiamento “dão à Comissão Europeia um poder discricionário para definir aquilo que o país gasta”, com regras que “tendem a dizer aos Estados que não podem ter mais trabalhadores”.
O cabeça de lista do PAN mal abordou o tema, preferindo lembrar os perigos para o ambiente que o futuro aeroporto de Lisboa vai implicar, e defendeu que não devem ser usados dinheiros públicos no apoio às touradas. Desafiou mesmo os seus colegas de debate a dizerem se defendem o fim das touradas. Ninguém lhe respondeu.
A interrupção voluntária da gravidez e a sua inclusão na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia foi o tema que se seguiu, com a moderadora a lembrar que PSD e CDS votaram contra esta intenção.
Sebastião Bugalho justificou o facto afirmando que o que estava em causa “é uma discussão jurídica: o equilíbrio entre dois direitos, o direito à vida e o direito das mulheres; não uma obstaculização ao direito ao aborto”. E garantiu que por parte da sua lista “não haverá qualquer recuo nos direitos das mulheres”.
Marta Temido não gostou da explicação de Bugalho e referiu que o PS incluiu a questão do aborto no capítulo dos direitos reprodutivos das mulheres. E, porque “foi ministra” da Saúde, diz que não “pode ficar calada”, porque “o que está em causa, em última instância, é a morte de mulheres por causa do aborto clandestino”.
Já candidata do BE acusou os candidatos da direita de se “escudarem atrás de um argumento jurídico” para não alinharem na defesa do direito ao aborto na carta dos direitos fundamentais. “A desculpa jurídica é só mesmo isso: uma desculpa”, acrescentou.
Já Fidalgo Marques defendeu a posição do PAN: “Temos de assegurar uma directiva que garanta o direito das mulheres.”
O debate terminou com a discussão sobre o combate à corrupção, com todos, como era de esperar, a concordarem que esse combate deve ser efectivo.