Morreu Morgan Spurlock, que se fez documentarista a comer McDonald’s

O realizador de Super Size Me — 30 Dias de Fast Food, nomeado para um Óscar em 2005, morreu esta quinta-feira, de cancro. Tinha 53 anos.

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Morgan Spurlock em 2006, dois anos após a estreia do documentário que lhe deu a fama MARK MAINZ/GETTY IMAGES
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No início de 2003, Morgan Spurlock tinha um passado relativamente anónimo como assistente de produção e como criador de um pequeno reality show da MTV. Entre Fevereiro e Março desse ano, porém, resolveu passar um mês inteiro a alimentar-se apenas com comida da cadeia de fast food McDonald's e fazer menos exercício. E filmar o resultado. A operação deu origem a Super Size Me — 30 Dias de Fast Food (2004), documentário que foi nomeado para um Óscar em 2005.

De um dia para o outro, Spurlock transformou-se numa estrela. E causou mudanças na própria estratégia comercial da McDonald's, que deixou de ter a opção "super size" ("tamanho extra") a que o título aludia. Quase duas décadas depois, o realizador norte-americano, que tinha cancro, morreu esta quinta-feira, aos 53 anos.

A notícia foi confirmada pela família a várias publicações, que citam o produtor e argumentista Craig Spurlock, irmão e colaborador de Morgan. "O Morgan deu imenso através da sua arte, das suas ideias e da sua generosidade. Hoje o mundo perdeu um verdadeiro génio criativo e um homem especial", pode ler-se no obituário da revista Variety.

Super Size Me —​ 30 Dias de Fast Food foi um filme polémico. Apontaram-lhe, por exemplo, a omissão de que Spurlock consumia muito álcool na altura, algo que só revelou anos mais tarde e que poderia ser a verdadeira causa de algumas das maleitas de que sofre no filme e pelas quais responsabiliza a McDonald's. Mas o documentário deu-lhe mesmo assim uma carreira sólida como realizador e protagonista em frente às câmaras, com uma abordagem sempre humorística aos temas em questão.

Spurlock nasceu em 1970, em Parkesburg, West Virginia, no seio de uma família metodista. Estudou cinema em Nova Iorque, tendo trabalhado em produções nessa cidade como Léon, o Profissional, de Luc Besson, ou Balas Sobre a Broadway, de Woody Allen. Depois de Super Size Me, assinou filmes como Where in the World Is Osama bin Laden?, em que simultaneamente procura o líder da Al-Qaeda e lida com a gravidez da sua então esposa; POM Wonderful Presents: The Greatest Movie Ever Sold, em que procura publicidade para fazer o próprio filme; Comic-Con Episode IV: A Fan's Hope, sobre a Comic-Con, a famosa convenção de cultura pop de San Diego; Mansome, sobre a cultura de beleza masculina; e ainda One Direction: This Is Us, sobre a boy band britânica homónima.

Foi ainda produtor executivo de inúmeros outros documentários, quer em televisão quer no cinema. Para o pequeno ecrã fez, por exemplo, 30 Days (FX), Morgan Spurlock's New Britannia (Sky) e Morgan Spurlock Inside Man (CNN), tendo realizado ainda um especial para assinalar os 20 anos da estreia de Os Simpsons.

Em 2017, Spurlock voltou ao tema que lhe deu fama e assinou uma sequela de Super Size Me, ilustrando o que tinha mudado no campo da fast food. O filme acabou porém por ter de esperar dois anos para ser lançado. É que nesse ano, no auge do movimento #MeToo, Spurlock contou no seu blogue que fazia "parte do problema". Confessava um historial de má conduta sexual e de traições constantes a ex-namoradas e ex-mulheres, contava ter pago para chegar a acordo em casos de assédio sexual e ainda ter sido acusado de violência sexual quando estava na faculdade. Demitiu-se da Warrior Poets, a produtora que tinha fundado em 2004, e não fez mais nenhum filme depois.

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