Rishi Sunak convoca eleições legislativas no Reino Unido para 4 de Julho

Após meses de más sondagens para o Partido Conservador e de secretismo do Governo britânico sobre o dia da votação, primeiro-ministro revelou finalmente a sua data. Labour é favorito à vitória.

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Rishi Sunak, primeiro-ministro conservador, parece ter encontrado finalmente um "bom momento" para ir a votos Hollie Adams / REUTERS
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Depois de vários meses a dizer que estava a trabalhar no pressuposto de convocar eleições legislativas no Reino Unido para a “segunda metade” do ano, dando a entender que a votação poderia acontecer em Outubro, Rishi Sunak revelou, finalmente, e de forma inesperada, a sua data oficial: 4 de Julho; ou seja, daqui a pouco mais de um mês. Para tal, o Parlamento vai ser oficialmente dissolvido na quinta-feira da próxima semana.

“Falei com sua majestade o rei [Carlos III] para pedir a dissolução do Parlamento. O rei aceitou o pedido e vamos ter uma eleição geral a 4 de Julho”, anunciou esta quarta-feira o primeiro-ministro conservador, numa declaração ao país, debaixo de uma chuva copiosa, depois de se ter reunido com todos os seus ministros no n.º10 de Downing Street, em Londres.

Enumerando o que considera terem sido os feitos do seu Governo, particularmente no campo económico e dos apoios sociais, Sunak falou num “momento decisivo para uma geração”, e, argumentando que as eleições vão realizar-se “quando o mundo está mais perigoso do que alguma vez esteve desde o final da Guerra Fria”, descreveu os últimos cinco anos como “os tempos mais desafiantes desde a II Guerra Mundial”. Por isso, prometeu fazer “tudo o que estiver ao [seu] alcance” para proporcionar a “maior protecção possível” aos britânicos.

“Ao longo das próximas semanas, irei lutar por cada voto. Irei ganhar a vossa confiança e provar que só um governo conservador, liderado por mim é que não porá em risco a nossa estabilidade económica arduamente conquistada; é que poderá restaurar o orgulho e a confiança no nosso país; e é que, com um plano claro e acções arrojadas, poderá dar-vos, às vossas famílias e ao nosso Reino Unido um futuro seguro”, afiançou.

“Não posso dizer o mesmo do Partido Trabalhista, porque não sei o que é que eles propõem”, acrescentou, apontando baterias para a oposição, dizendo que um voto no Labour será um “regresso à estaca zero”. “No dia 5 de Julho, eu ou Keir Starmer seremos o primeiro-ministro. Ele tem demonstrado repetidamente que vai seguir o caminho mais fácil e fazer tudo para chegar ao poder”, criticou.

O factor “inflação”

Os maus resultados obtidos pelo Partido Conservador nas eleições suplementares e locais mais recentes, somados às sucessivas sondagens, que dão uma vantagem considerável ao Partido Trabalhista, e à inflação elevada no país, dificultaram a tarefa do primeiro-ministro tory na busca por um bom momento político para convocar as legislativas, que, por lei, têm de se realizar até Janeiro do próximo ano.

O endurecimento da política migratória, nomeadamente através da aprovação do plano para enviar migrantes e requerentes de asilo para o Ruanda, foi tratado por Sunak e pela sua equipa como uma estratégia para ganhar apoios e popularidade, particularmente nas regiões de Inglaterra e do País de Gales que votaram a favor do “Brexit” em 2016 e em Boris Johnson e nos tories nas eleições legislativas de 2019.

Aparentemente, e apesar de ter caído menos do que o esperado, a redução da inflação para 2,3% em Abril – o valor mais baixo em quase três anos, conhecida esta quarta-feira – e o facto de a economia britânica ter crescido 0,6% em Março parecem ter lançado as bases para o “bom momento” que Sunak procurava.

“A inflação voltou ao normal” e o plano do Governo “está a funcionar”, afirmou o chefe do Governo no debate semanal desta quarta-feira com o líder da oposição, Keir Starmer, na Câmara dos Comuns.

“Vamos a isso”

A última vez que houve eleições legislativas em Julho no Reino Unido foi em 1945. O Partido Trabalhista, na altura liderado por Clement Attlee, venceu de forma clara os conservadores de Winston Churchill.

Segundo o último inquérito da YouGov para o Times, divulgado na sexta-feira da semana passada, o Labour recolhe 47% das preferências dos eleitores e os conservadores ficam-se pelos 20%. Reform UK (11%), Liberais-Democratas (9%), Partido Verde (8%) e Partido Nacional Escocês (3%) completam a lista.

A oposição vem pedindo há muito a saída de cena dos conservadores, no poder desde 2010. Por isso, pouco depois de Sunak confirmar a data das eleições, a “ministra-sombra” trabalhista para as Finanças publicou a seguinte mensagem no X (antigo Twitter): “Vamos a isso (Bring it on, no original).”

Na mesma rede social, Starmer publicou um vídeo previamente gravado, intitulado “Mudança”, no qual defende que “só um Partido Trabalhista mudado pode recuperar novamente o futuro do Reino Unido”.

Depois, numa declaração ao país, o líder do Partido Trabalhista descreveu a convocatórias das eleições legislativas como “o momento de que o país tem estado à espera” para poder reverter o “caos” conservador e “reconstruir” o país.

“Servir o nosso país é a única razão pela qual aqui estou a pedir o vosso voto”, disse Starmer. “O futuro está nas vossas mãos. No dia 4 de Julho, temos uma escolha. Juntos, podemos travar o caos, virar a página e começar a reconstruir Reino Unido e a mudar o nosso país.”

Os bons resultados do Partido Trabalhista nas últimas duas eleições locais e autárquicas (Maio de 2023 e Maio deste ano) e a conquista de vários deputados aos conservadores em eleições suplementares convocadas para substituir membros do Parlamento que, por diferentes motivos, tiveram de renunciar aos cargos fazem do partido de Starmer o favorito à vitória nas próximas legislativas.

A chave para o potencial primeiro governo trabalhista pós-Tony Blair e Gordon Brown está na reconquista do chamado “red wall” (“muro vermelho”), nas regiões operárias do Norte e centro de Inglaterra e no País de Gales, cujos eleitores votaram nos conservadores em 2019, depois de décadas a votar no Labour.

Nessas eleições, ganhas por Boris Johnson e pelo Partido Conservador de forma clara, o Partido Trabalhista, na altura liderado por Jeremy Corbyn – entretanto afastado do partido pela direcção de Starmer, por supostamente não ter feito o suficiente para lidar com as acusações de anti-semitismo dentro do Labour – teve a sua pior derrota em legislativas desde 1935.

Turbulência tory

Vários actuais e antigos deputados e ministros do Partido Conservador, pertencentes à facção “brexiteer” e radical do partido e próximos dos ex-primeiros-ministros Liz Truss e Boris Johnson (e críticos de Rishi Sunak), têm defendido, no entanto, que é arriscado marcar eleições com sondagens tão negativas e têm exigido uma nova estratégia política e comunicacional por parte do Governo e do partido.

Os media britânicos citam alguns destes críticos, que falaram sob anonimato, que não excluem uma iniciativa interna para tentar convocar uma moção de desconfiança a Sunak, que, em última instância, poderia levar a uma corrida à liderança do Partido Conservador antes das eleições.

Algumas dessas figuras do universo conservador que entraram em choque com Sunak, como o ex-vice-presidente do Partido Conservador Lee Anderson, optaram por se mudar para o Reform UK, o partido populista de direita radical fundado em 2018 pelo político eurocéptico e anti-imigração Nigel Farage, na altura com o nome de Partido do Brexit, que promete disputar votos com os tories.

Tendo assumido a chefia do Governo britânico em Outubro de 2022, depois de o plano económico e fiscal de Truss ter deixado os mercados em ebulição e atirado o valor libra para mínimos históricos e na sequência de uma série de escândalos políticos e pessoais que derrubaram Johnson meses antes – nomeadamente o caso das festas e ajuntamentos em Downing Street durante períodos de confinamento e de restrições no âmbito da pandemia de covid-19 –, Sunak nunca conseguiu contrariar um certo ambiente de cansaço e de “fim de ciclo” dos conservadores.

Ao fim de quase 15 anos do Partido Conservador no poder, o Reino Unido teve cinco primeiros-ministros, realizou um referendo à Europa (vitória do “sim) e um referendo à independência da Escócia (vitória do “não), saiu da União Europeia e viveu uma pandemia, pelo menos duas crises financeiras e uma guerra no continente.

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