Nova Caledónia sofre ciber-ataque depois de anúncio da visita de Macron

O ataque surge enquanto a região espera a chegada do Presidente francês, numa visita com o objetivo de negociar com os representantes da região.

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Várias barricadas foram montadas e desmontadas pela polícia nos últimos dias Bruno Favre / EPA
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A Nova Caledónia sofreu esta quarta-feira um ataque informático “sem precedentes”, informou o governo local, um dia depois do anúncio da visita do Presidente francês, Emmanuel Macron, à região que tem sido palco de vários motins nos últimos dias.

Segundo o ministro do governo da região responsável pelos assuntos informáticos, Christopher Gygès, a Nova Caledónia sofreu um “ataque” às infra-estruturas de fornecimento de serviços de internet da região, geridos pela empresa OPT.

De acordo com o representante, o ataque tinha como objectivo “enfraquecer a rede de internet da Nova Caledónia” através do envio simultâneo de milhões de e-mails para um único endereço IP, algo que congestionou a rede e obrigou a OPT a desligar o endereço da rede. Foi pedida “vigilância” no uso dos e-mails pessoais dos habitantes da região.

A televisão francesa BFMTV, citando fontes do governo regional, afirma que os endereços de IP de onde provinham os e-mails enviados tinham origem na Rússia. No entanto, uma fonte contactada pela agência Reuters junto da procuradoria francesa que está a investigar a situação afirma que não existe nenhuma informação que aponte para esse sentido.

Segundo o ministro da região, o ataque informático ocorreu depois do anúncio feito por Macron, na reunião de Conselho de Ministros de terça-feira, de que iria partir para a Nova Caledónia para visitar a região, que tem sido assolada por motins.

Na noite passada, novas barricadas foram erguidas nas ruas de Nouméa, capital da região. Segundo o representante do partido independentista Frente de Libertação Nacional Kanak e Socialista (FLNKS) Jimmy Naouna, citado pela Reuters, os “jovens” estão num “jogo do gato e do rato” com as autoridades.

“As forças policiais andam a limpar estas barricadas, mas logo a seguir os jovens voltam a colocá-las”, conta o representante à Reuters.

Segundo o último ponto de situação realizado para o Alto Comissariado da República para a região, a última noite na região foi “mais calma que a anterior”, apesar de se terem registado “dois incêndios na zona de Nouméa”.

Seis pessoas morreram desde o início dos motins na região após o início dos trâmites legislativos de uma proposta para alterar os cadernos eleitorais congelados desde o acordo de Nouméa, que conciliou independentistas, lealistas e o governo central depois de uma década, de 1980, marcada pela violência.

A FLNKS, que desde cedo apelou à calma na região, voltou a sublinhar este apelo num comunicado emitido esta quarta-feira. No mesmo comunicado, a Frente, que agrupa vários grupos independentistas, afirmou, no entanto, que não iria tolerar “excessos ou atropelos” das forças de segurança francesas.

Sobre a visita de Macron, a FLNKS afirmou que espera que a iniciativa do Presidente “dê um novo impulso à retoma de um diálogo calmo e sereno entre os três parceiros políticos dos acordos” para alcançar uma “solução política”, que a frente considera ser a única solução para os tumultos.

À Reuters, Jimmy Naouna disse que os independentistas esperam que Macron “faça um grande anúncio de que vai retirar este projecto de lei eleitoral”. Porém, avisa que “se vier apenas como provocação”, a situação pode azedar.

Reviravolta na posição da União Nacional

Na metrópole, registou-se um volte-face nas posições face à Nova Caledónia. A União Nacional, partido do direita radical, pede agora um novo referendo sobre a independência da Nova Caledónia, a ser realizado no prazo de 40 anos.

“Talvez seja necessário mais um referendo, mas tem de ser daqui a 40 anos, para que o Estado aceite investir sem correr o risco de ver os seus investimentos perdidos”, apontou Marine Le Pen, líder parlamentar da União Nacional e candidata à presidência de França, na estação de televisão France 2, como uma possível solução para os tumultos na região. Estas declarações marcam uma mudança na política face ao passado, segundo a edição francesa do Huffington Post, que sempre fora de apoiar as forças lealistas à França.

À esquerda, vários partidos pediram a retirada ou a suspensão do procedimento legislativo da reforma na Nova Caledónia.

Raphael Glucksmann, cabeça da lista conjunta de centro-esquerda às Europeias do Partido Socialista e do Place Publique, pediu numa entrevista à France 2 para que a reforma seja “adiada” para que haja um “consenso global” e criticou a “política de empurrão” adoptada anteriormente por Macron ao tentar aprovar a reforma sem diálogo local.

Já no partido de esquerda França Insubmissa (LFI na sigla francesa), a política é a mesma desde o início: a retirada da reforma constitucional e a abertura do diálogo.

"Se queremos voltar à calma, precisamos de medidas que permitam o regresso à calma. E essas medidas que permitem o regresso à calma são, por um lado, a retirada do projecto de lei constitucional, por outro lado, a reabertura de um diálogo com todas as forças presentes”, afirmou a cabeça de lista às Europeias do LFI, Manon Aubry, na edição de segunda-feira do programa da FranceInfo 19/20.

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