PMDS dão-nos um retrato livre e sensorial dos Açores em Música para Miradouros
O quarto álbum do duo criado por Filipe Caetano e Pedro Sousa está disponível a partir desta quarta-feira nas plataformas digitais e em LP duplo, com vídeos e fotografias.
Anunciado no início de Abril, o novo álbum do colectivo PMDS está disponível a partir desta quarta-feira em formato digital e vinil, em LP duplo. Duo criado por dois açorianos, Filipe Caetano e Pedro Sousa, os PMDS estrearam-se em 2011 com o álbum Processor Modulation Density Sequencer, lançando com a sigla daí derivada, PMDS, mais dois álbuns, Not Yet (2019) e Caloura (2021). Música Para Miradouros, que agora se publica, nasceu de uma experiência sensorial que liga “música, vídeo e paisagem” e foi gravado em quadro diferentes miradouros da ilha de São Miguel. Daí resultaram quatro faixas subdivididas em andamentos, cada qual com uma duração que oscila entre os 3 minutos e meio e quase 7 minutos: Lombadas (I, II e III), Castelo Branco (I, II e III), Pico dos Bodes (I, II, III e IV) e Sete Cidades (I, II e III).
“Isto foi uma ideia que levou algum tempo a maturar”, explica ao PÚBLICO Pedro Sousa. “De certo modo, queríamos passar para a nossa arte a nossa percepção da ilha de São Miguel. Não é fácil fazer isso, da mesma maneira que um pintor não passa para a tela com facilidade a sua percepção do mundo ou do que está em seu redor.” O resultado, acrescenta, mostra a tentativa de fazer transparecer uma música que é ao mesmo tempo contemplativa mas sem uma fronteira do visível e com alguma tensão. “Se a gente tem uma música rock, com um refrão, essa música está espartilhada por fronteiras bastante fixas. No nosso caso, ela é bastante mais livre. Da mesma maneira que um ilhéu chega a um miradouro e, ao olhar para o mar, para a orla marítima, contempla uma coisa quase transcendental mas ao mesmo tempo a sua prisão.”
Por outro lado, era fundamental que o ambiente influísse na música ali criada, explica por sua vez Filipe Caetano: “A questão é exactamente essa. Nós não levamos a música pré-concebida. Temos estruturas relativamente esboçadas, de determinados momentos, e o que fizemos nos lugares foi gravar cerca de uma hora, hora e meia, e dessas gravações cortar a posteriori os takes que sentíamos mais perto daquilo projectar. O espaço em si, bem como todo o processo, foi extremamente co-agitador do resultado”. Por tudo: “Temos de levar geradores, enquadrar os sítios onde queríamos gravar, foi tudo tão do momento.” Até pelas condições meteorológicas, recorda Filipe: “Lembro-me que, num dos miradouros ficámos a gravar até tardíssimo e o Pedro tremia de frio. Noutro sítio, por causa da corrente do gerador, uma das músicas pré-estipuladas alterou meio tom e tivemos de dar a volta para ver como conseguíamos ajustá-la. Sem dúvida que o quadro final foi completamente influenciado pela experiência e pelos locais.”
Como quiseram evitar clichés, não foram gravar para miradouros com a Vista do Rei, nas Sete Cidades, ou para outros dos mais conhecidos. Pedro: “Se virem no YouTube o vídeo da sessão do Pico dos Bodes, esse é um sítio onde nem eu nem o Filipe lá tínhamos ido. É incrível, tem uma estrutura em madeira que me fez lembrar o monólito do 2001 Odisseia no Espaço.”
A edição física deste novo trabalho dos PMDS é também um produto original, explica Filipe: “O LP traz lá dentro um código QR para download digital e para acesso aos quatro vídeos, um para cada uma das sessões. Isto para podermos dar um contexto sensorial à parte sónica mas também para um enquadramento visual do que foi feito. Não houve pós-produção, foi tudo gravado para um two-tracks, onde a possibilidade de edição é correcção de erros é mínima. Portanto, o que as pessoas vão ver é aquilo que estão a ouvir.” Além disso, o LP (que é duplo) tem imagens dos locais onde gravaram, as bolachas dos discos reproduzem texturas desses mesmos locais e a edição inclui uma colecção de postais, quatro ao todo, um de cada um dos miradouros, com fotografias de Diogo Sousa. Os videoclipes são assinados pela Cactus.
O disco estará disponível a partir desta quarta-feira nas plataformas digitais, podendo ser adquirido em formato digital na Bandcamp. Em formato físico, estará numa loja de Ponta Delgada, como explica Filipe: “O disco é editado pela Marca Pistola, editora açoriana que está indelevelmente ligada à La Bamba, a loja de discos mais ocidental da Europa, que fica com a distribuição e o vende directamente. São 100 cópias, e nós já vendemos 20 nos concertos.”