África: mais de 65 milhões de pessoas irão fugir das suas casas até ao final do ano

Conflitos, alterações climáticas, pobreza extrema e insegurança alimentar são as principais causas da crise humanitária sem precedentes no continente.

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O número de deslocados em África não pára de aumentar DR
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Quase metade das deslocações forçadas este ano no mundo – 49% segundo a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) está a acontecer em África, com o continente a viver uma crise humanitária sem precedentes. Serão mais de 65 milhões de pessoas a fugir das suas casas até ao final do ano devido a conflitos, alterações climáticas, pobreza extrema e insegurança alimentar, estima esta agência das Nações Unidas.

A região mais afectada será o Leste e o Corno de África, prevendo-se a deslocação de 23,6 milhões de pessoas, devido sobretudo aos conflitos no Sudão, Etiópia, Somália e República Democrática do Congo e às cheias e secas provocadas pelas alterações climáticas nestes territórios.

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“Do Sahel ao Corno de África, sem esquecer as regiões do centro e do Sul do continente, tanto as pessoas deslocadas como as comunidades de acolhimento vivem numa situação limite. Novos conflitos, uma maior competição pelos recursos devido aos efeitos das alterações climáticas, a pobreza e a inflação estão a fazer aumentar as necessidades humanitárias”, alerta Joana Feliciano, responsável de marketing e comunicação da Portugal com ACNUR, parceira nacional da agência das Nações Unidas.

O Sudão é um dos países a braços com uma das maiores crises humanitárias do mundo, devido ao conflito que eclodiu após o colapso do processo de paz em Abril de 2023. Mais de 8,7 milhões de pessoas fugiram, desde então, para países vizinhos como o Sudão do Sul, a Etiópia ou o Chade, também eles em situação de fragilidade e sem financiamento para estas grandes mobilizações, o que provocou uma desestabilização generalizada na região. “A Etiópia, por exemplo, é já um dos maiores países de acolhimento de refugiados em África, com cerca de um milhão de refugiados, para além de 3,5 milhões de pessoas deslocadas internamente, mas é uma das operações do ACNUR mais subfinanciadas a nível mundial”, alerta Joana Feliciano.

Já no Sudão do Sul, as crescentes necessidades humanitárias, agravadas pela escassez de alimentos, pela insegurança contínua e pelo impacto das alterações climáticas, estão a pôr em causa a sobrevivência dos refugiados que o país acolhe e a provocar novas deslocações forçadas, mantendo também fora do país os seus próprios refugiados, que aguardam pela oportunidade de regressar com a garantia de uma vida digna e em segurança.

Um cenário que se repete um pouco por todo o continente africano. Na África Austral, as complexas situações de emergência na República Democrática do Congo e em Moçambique, bem como as deslocações prolongadas e migrações mistas provenientes da África Subsariana, deverão fazer aumentar para 12,2 milhões ao longo deste ano o número de pessoas deslocadas à força, repatriadas e apátridas nesta região, estima a ACNUR.

Em Moçambique, a intensificação da violência armada no final do ano passado provocou uma nova vaga de deslocações forçadas, com cerca de 113 mil pessoas a verem-se obrigadas a fugir e deixar tudo para trás. Isto, para além das cerca de 822 mil pessoas que ainda continuam deslocadas dentro do país.

Também na África Ocidental e Central se prevê que a instabilidade política e os conflitos armados façam crescer em 9% o número de pessoas deslocadas à força e apátridas para um total de 13,6 milhões até ao final do ano. No Norte do continente o aumento da população deslocada pode atingir os 15,8 milhões, em resultado, sobretudo, das catástrofes naturais em Marrocos e na Líbia e da guerra civil no Sudão que levou os refugiados a fugirem para o Egipto.

Os refugiados climáticos são, aliás, cada vez em maior número devido à seca extrema, cheias e tempestades tropicais em resultado das alterações climáticas, que tornam as tempestades mais devastadores, os incêndios mais comuns e as secas mais intensas.

“Só no último ano as fortes chuvas relacionadas com o El Niño deram origem a catástrofes naturais em toda a África Oriental, incluindo inundações, deslizamentos de terras, ventos violentos e granizo, agravando as vulnerabilidades das comunidades em vários países, incluindo o Burundi, o Quénia, a Somália e a Tanzânia”, relata a ACNUR, acrescentando Moçambique como outro dos territórios frequentemente assolado por violentas tempestades, com forte impacto nas populações.

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