Colapso dos peixes migratórios ameaça alimentação de milhões de pessoas, conclui relatório

Desde 1970 registou-se um declínio de 81% das populações de peixes migradores, sendo as quedas mais acentuadas na América Latina (91%), Caraíbas (91%) e Europa (75%).

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Metade das ameaças aos peixes migradores se relaciona com a degradação dos habitats David A Birkbeck/GettyImages
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O colapso das populações de peixes migratórios ameaça a segurança alimentar de milhões de pessoas e os ecossistemas críticos de água doce, indica um relatório divulgado na segunda-feira.

Em vésperas do Dia Mundial da Migração de Peixes, no próximo sábado, o documento salienta que desde 1970 registou-se um declínio de 81% das populações de peixes migradores, sendo as quedas mais acentuadas na América Latina (91%), Caraíbas (91%) e Europa (75%).

No entanto, a diminuição dos peixes de água doce regista-se em todo o mundo, o que põe em risco a segurança alimentar e os meios de subsistência de milhões de pessoas, a sobrevivência de muitas outras espécies, e a saúde a resiliência dos rios, lagos e zonas húmidas.

Os alertas fazem parte de um novo relatório do Índice Planeta Vivo, sobre peixes migratórios de água doce, publicado pela organização World Fish Migration Foudation e outras entidades, incluindo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e a World Wide Fund for Nature (WWF).

O Índice Planeta Vivo é um indicador global sobre o estado da biodiversidade, administrado pela Sociedade Zoológica de Londres em cooperação com a WWF.

No documento explica-se que metade das ameaças aos peixes migradores se relaciona com a degradação dos habitats, incluindo a construção de barragens e de outras barreiras nos rios, e a conversão das zonas húmidas para a agricultura. A sobreexploração, o aumento da poluição e o agravamento dos impactos das alterações climáticas estão também a diminuir as espécies de peixes migradores.

Actuar agora para salvar peixes e rios

"O declínio catastrófico das populações de peixes migratórios é uma chamada de atenção para o mundo. Temos de actuar agora para salvar estas espécies fundamentais e os seus rios", afirmou, citado num comunicado sobre o relatório, Herman Wanningen, da World Fish Migration Foudation.

O especialista considera que os peixes migratórios "são fundamentais para as culturas de muitos povos indígenas, alimentam milhões de pessoas em todo o mundo e sustentam uma vasta rede de espécies e ecossistemas", alertando que não se pode "continuar a deixar que eles escapem silenciosamente".

Os autores do documento salientam também que os peixes migratórios de água doce são o principal meio de subsistência para dezenas de milhões através da pesca local, comércio, indústria e pesca recreativa.

Por outro lado, destacam pela positiva que um terço das espécies monitorizadas aumentou em número, nomeadamente por melhor gestão de recursos, recuperação de habitats e remoção de barragens.

Na Europa e nos Estados Unidos já foram removidas milhares de barragens, diques, açudes e outras barreiras fluviais. No ano passado a Europa removeu um recorde de 487 barreiras, um aumento de 50% em relação ao máximo anterior de 2022.

Os decisores de todo o mundo devem acelerar os esforços para proteger e restaurar os caudais dos rios, investindo em alternativas sustentáveis às barragens hidroeléctricas que estão planeadas. E lembram os objectivos saídos da cimeira mundial sobre a biodiversidade Kunming-Montreal, no Canadá no final de 2022, de recuperação de 300.000 quilómetros de rios degradados.

A World Fish Migration Foudation promove desde 2014 o Dia Mundial da Migração de Peixes, para aumentar a consciencialização sobre os peixes migratórios. Este ano celebra os rios livres e já conta com mais de 65 países participantes.