Presidente taiwanês toma posse e avisa: “A ambição da China de anexar Taiwan não vai desaparecer”

Eleito em Janeiro, Lai assume presidência do território reivindicado por Pequim. Governo chinês denuncia discurso “independentista” e diz que “nunca tolerará actividades separatistas”.

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Lai prestou juramento em frente a um quadro do líder histórico nacionalista Chiang Kai-shek TAIWAN PRESIDENTIAL OFFICE / VIA REUTERS
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Novo Presidente discursou em Taipé RITCHIE B. TONGO / EPA
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Lai pediu à China para parar com a "intimidação política e militar a Taiwan" RITCHIE B. TONGO / EPA
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Lai Ching-te e a nova vice-presidente, Hsiao Bi-khim Carlos Garcia Rawlins / REUTERS
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Aviões da Força Aérea taiwanesa Ann Wang / REUTERS
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Tsai Ing-wen, Presidente entre 2016 e esta segunda-feira, também marcou presença na tomada de posse de Lai RITCHIE B. TONGO / EPA
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Guarda presidencial marchou em Taipé RITCHIE B. TONGO / EPA
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Quatro meses depois de ter sido eleito Presidente da República da China – o nome oficial de Taiwan –, Lai Ching-te tomou posse esta segunda-feira, dando o pontapé de saída na terceira presidência consecutiva do Partido Democrático Progressista (DPP) no território reivindicado por Pequim como uma província da República Popular da China.

Também conhecido como “William” Lai , o agora ex-vice-presidente discursou perante uma multidão reunida em frente ao palácio presidencial, em Taipé, tendo dedicado grande parte da sua intervenção à complexa e atribulada relação entre os dois lados do estreito de Taiwan.

“Quero apelar à China para acabar com a intimidação política e militar a Taiwan e, para, em conjunto com Taiwan, assumir a responsabilidade global de trabalhar arduamente para manter a paz e a estabilidade no estreito de Taiwan e na região, para assegurarmos que o mundo não tem medo de uma guerra”, pediu Lai.

“Também queremos dizer isto ao mundo: Taiwan não faz concessões sobre democracia e liberdade. A paz é a única opção”, acrescentou, citado pela Reuters.

Estrategicamente localizada entre o mar do Sul da China, o mar Oriental da China e o mar das Filipinas, a ilha taiwanesa é governada de forma autónoma desde 1949, quando Chiang Kaishek, do partido nacionalista Kuomintang (KMT), ali estabeleceu um governo no exílio, depois de ter sido derrotado por Mao Tsetung e pelas forças comunistas na guerra civil chinesa.

Com mais de 23 milhões de habitantes, Taiwan foi governada com mão de ferro durante a Guerra Fria. Mas tem hoje uma economia pujante – é o principal produtor e fornecedor de semicondutores a nível mundial –, realiza eleições livres e tem liberdade de expressão e de imprensa. Não obstante, só é oficialmente reconhecida como representante legítima do poder político e constitucional da China por 12 países.

O Governo da República Popular da China e o Presidente, Xi Jinping, defendem a “reunificação” entre a China continental e a ilha Formosa, como também é conhecida, como “desígnio histórico”, e, assegurando que nunca poderão “renunciar ao uso da força” para o alcançar, garantem que está para breve. Denunciando exercícios e manobras militares cada vez mais recorrentes de navios e aviões de guerra chineses nas imediações do território, os líderes militares e políticos taiwaneses dizem estar a preparar-se para uma invasão de Taiwan na próxima década.

“Não importa quem está no poder”

Comentando a tomada de posse de Lai – que substitui Tsai Ing-wen, uma das políticas taiwanesas mais bem-sucedidas da última década –, o Gabinete dos Assuntos de Taiwan do executivo chinês diz que o discurso do novo Presidente “expôs completamente a sua verdadeira natureza enquanto trabalhador para a independência de Taiwan”.

“A independência de Taiwan é incompatível com a paz no estreito de Taiwan”, reagiu o gabinete, através de um comunicado. “Não importa como a situação na ilha muda, não importa quem está no poder; nada irá alterar o facto de que os dois lados pertencem à mesma China.”

Nas várias declarações que fez sobre a política taiwanesa nos últimos anos, Pequim descreveu muitas vezes Lai Ching-te como um “separatista” e um “desordeiro”, lembrando que em 2017 o agora Presidente se descreveu como um “trabalhador pragmático pela independência” da ilha.

Apesar de haver membros e dirigentes do DPP que simpatizam com a ideia de um Estado independente, a mensagem oficial do partido tem sido a de sublinhar a autonomia e o sistema democrático do território e a de defender a manutenção do statu quo – em contraste, por exemplo, com o KMT, que não desiste da ideia da “reunificação”, ainda que em moldes diferentes do regime comunista, e que pede vias de comunicação abertas com Pequim.

No seu discurso, Lai disse que, mesmo na “busca pela paz”, os taiwaneses “não devem ter ilusões”. “Antes de a China desistir de usar a força para invadir Taiwan, os cidadãos devem compreender isto: mesmo que aceitemos todas as reivindicações da China e renunciemos à nossa soberania, a ambição da China de anexar Taiwan não vai desaparecer”, assegurou.

Natural de Wanli, no Nordeste de Taiwan, e filho de um mineiro de carvão, Lai é formado em Saúde Pública, tendo estudado em Taipé e na Universidade de Harvard (Estados Unidos).

Eleito deputado pela primeira vez em 1996, manteve o cargo até 2010, ano em que assumiu o posto de presidente da câmara de Tainan, até 2017. Entre 2017 e 2019 foi primeiro-ministro, entre 2020 e 2024 foi vice-presidente, tendo sido eleito líder do DPP em 2023, substituindo Tsai.

Na eleição presidencial de Janeiro, após uma campanha tratada pelo KMT e pela China como uma “escolha entre a guerra e a paz”, Lai obteve 40% dos votos, batendo Hou Yu-ih (KMT) e Ko Wen-je (Partido Popular de Taiwan, TPP). Mas a perda da maioria do DPP no Parlamento, nas eleições legislativas realizadas no mesmo dia, vai dificultar bastante a vida do novo Presidente.

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