Morreu Ebrahim Raisi, Presidente do Irão, após acidente de helicóptero

Vice-presidente do Irão confirmou a morte de Ebrahim Raisi e do ministro dos Negócios Estrangeiros. Helicóptero onde seguiam terá embatido contra o pico de uma montanha.

i-video
Vídeo. Encontrado Presidente do Irão e confirmada a morte após acidente de helicóptero Reuters, Joana Bourgard
Ouça este artigo
00:00
05:58

O Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, morreu num acidente de helicóptero num terreno montanhoso perto da fronteira com o Azerbaijão, confirmou o vice-presidente do Irão, Mohsen Mansouri. Também foi confirmada a morte do ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amirabdollahian. O executivo iraniano já convocou uma reunião de emergência.

Os destroços carbonizados do helicóptero que se despenhou no domingo e que transportava Raisi, considerado um potencial sucessor do líder supremo, e o ministro foram encontrados esta segunda-feira, após uma busca nocturna sob um nevão.

A televisão estatal informou que as imagens do local mostram que o aparelho embateu no pico de uma montanha, embora não haja qualquer informação oficial sobre a causa do acidente. A agência noticiosa estatal IRNA disse que Raisi estava a voar num helicóptero Bell 212 fabricado nos EUA.

Ebrahim Raisi tinha 63 anos e foi eleito Presidente do Irão em 2021. Desde de assumir o cargo, ordenou um endurecimento das leis da moralidade, supervisionou uma repressão sangrenta dos protestos antigovernamentais e exerceu uma grande pressão nas negociações nucleares com as potências mundiais.

O líder supremo iraniano, o ayatollah Ali Khamenei, que detém o poder supremo com uma palavra final sobre a política externa e o programa nuclear do Irão, tinha anteriormente procurado tranquilizar os iranianos, dizendo que não haveria perturbações nos assuntos do Estado.

Mau tempo complicou buscas e pode ter causado acidente

As equipas de salvamento enfrentaram um nevão e um terreno difícil durante toda a noite para chegar aos destroços, algo que só aconteceu na madrugada de segunda-feira. “Com a descoberta do local do acidente, não foram detectados sinais de vida entre os passageiros do helicóptero”, disse o chefe do Crescente Vermelho do Irão, Pirhossein Kolivand, à televisão estatal.

Anteriormente, o canal nacional de televisão tinha interrompido toda a programação regular para mostrar as orações que estavam a ser feitas por Raisi em todo o país.

Um vídeo no local mostrava uma equipa de salvamento, com casacos reflectores e lanternas de cabeça, reunida em torno de um dispositivo GPS, enquanto percorria a pé uma encosta montanhosa sob um nevão. As equipas iranianas contaram com ajuda internacional nas buscas, com a União Europeia a fornecer as informações recolhidas pelo satélite Copérnico e com a Turquia a ceder ao país um drone com visão nocturna.

Um país em tensão

O acidente ocorre num momento de crescente dissidência no Irão devido a uma série de crises políticas, sociais e económicas. Os dirigentes religiosos do Irão enfrentam pressão internacional quanto ao contestado programa nuclear de Teerão e ao aprofundamento dos seus laços militares com a Rússia durante a guerra na Ucrânia.

Desde que o aliado do Irão, o Hamas, atacou Israel a 7 de Outubro, provocando o ataque israelita a Gaza, eclodiram em todo o Médio Oriente conflitos que envolvem grupos alinhados com o Irão.

No sistema político dual do Irão, dividido entre o poder religioso e o Governo, é o mentor de Raisi, Khamenei, de 85 anos, líder supremo desde 1989, que detém o poder de decisão sobre todas as políticas importantes.

Durante anos, muitos viram no Presidente do Irão, agora morto, um forte candidato à sucessão de Khamenei, que apoiou as principais políticas de Raisi. A sua vitória nas eleições de 2021 pôs todos os ramos do poder sob o controlo da linha política mais dura, após oito anos em que a presidência foi exercida pelo pragmático Hassan Rouhani e em que foi negociado um acordo nuclear com potências como Washington.

No entanto, a posição de Raisi pode ter sido prejudicada pelos protestos generalizados contra o Governo dos ayatollahs e pelo fracasso em melhorar a economia iraniana, afectada pelas sanções ocidentais.

No domingo, Raisi esteve na fronteira com o Azerbaijão para inaugurar a barragem Qiz-Qalasi, um projecto conjunto entre os dois países. O Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que disse ter-se despedido amigavelmente de Raisi no início do dia, ofereceu ajuda para o resgate.

Hamas reage à morte de Raisi

O grupo islamista palestiniano Hamas lamentou esta segunda-feira a morte de Raisi e de Amirabdollahian.

“Estes líderes apoiaram a luta legítima do nosso povo contra a entidade sionista, deram um apoio valioso à resistência palestiniana e fizeram esforços incansáveis de solidariedade e apoio em todos os fóruns a favor do nosso povo na inabalável Faixa de Gaza, durante a Batalha de Al-Aqsa”, disse o Hamas em comunicado, referindo-se à actual guerra com Israel.

E prosseguiu: “Fizeram também esforços políticos e diplomáticos significativos para pôr termo à agressão sionista contra o nosso povo palestiniano.

A comunidade internacional também está a reagir à morte do Presidente iraniano e do ministro dos Negócios Estrangeiros. A embaixada da Rússia em Teerão já expressou as suas condolências, assim como Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros do mesmo país — com que o Irão tem vindo a fortalecer laços.

“Na Rússia, o Presidente do Irão, E. Raisi, e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, H. Amir-Abdollahian, eram conhecidos como amigos verdadeiros e fiáveis do nosso país”, declarou Lavrov.

“O seu papel no reforço da cooperação russo-iraniana mutuamente benéfica e da parceria de confiança é inestimável”, afirmou. “Alargamos sinceramente as nossas condolências às famílias e amigos das vítimas, bem como a todo o povo amigo do Irão. Os nossos pensamentos e corações estão convosco nesta hora triste.

Também Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, reagiu à morte através das redes sociais: “A União Europeia apresenta as suas sinceras condolências pela morte do Presidente, E. Raisi, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, H. Abdollahian, bem como dos outros membros da sua delegação e tripulação, num acidente de helicóptero. Os nossos pensamentos vão para as famílias.

O Líbano declarou três dias de luto nacional. O Paquistão também instituiu um dia de luto e a bandeira será colocada a meia haste como sinal de respeito pelas vítimas mortais do acidente. O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, apresentou as condolências ao “irmão Irão” em seu nome e em nome do povo e do Governo paquistaneses. “A grande nação iraniana vai ultrapassar esta tragédia com a coragem habitual”, afirmou Sharif.