Sánchez exige respeito a Milei e ameaça com resposta “à altura da dignidade” de Espanha
No sábado, o Governo de Espanha tinha retirado a embaixadora do país em Buenos Aires por causa de declarações de Milei, que Madrid considerou como insultos ao líder do executivo, Pedro Sánchez.
A tensão política entre Espanha e a Argentina voltou a subir de tom nesta segunda-feira, com a ameaça por parte de Pedro Sánchez de que tomará medidas e que responderá "à altura da dignidade da democracia espanhola" se Javier Milei não se retratar das declarações do dia anterior, quando num comício político de direita radical, organizado pelo Vox em Madrid, o presidente argentino acusou a mulher de Sánchez, Begoña Gómez, de ser corrupta.
Durante o fim-de-semana, o Governo de Espanha já tinha retirado a embaixadora do país em Buenos Aires e convocou a embaixadora argentina para uma reunião de urgência por causa de declarações de Milei, que Madrid considerou como insultos ao líder do executivo, Pedro Sánchez. Segundo o El País, as declarações do líder do Governo espanhol deixam antever uma nova escalada na crise diplomática.
“Não sabem que tipo de sociedade e de país o socialismo pode produzir, que tipo de pessoas se metem no poder e que níveis de abuso pode gerar. Mesmo que ele tenha uma mulher corrupta, se suje e demore cinco dias a pensar nisso”, disse Javier Milei, durante o encontro político organizado pelo Vox em Madrid, aludindo claramente, mesmo sem citar nomes, ao período de reflexão que Pedro Sánchez levou no final de Abril para decidir se continuava no cargo, depois de um juiz ter aberto um processo de queixa contra a sua mulher, Begoña Gómez. O Ministério Público espanhol pediu para que fosse arquivada.
O socialista exigiu também, nesta segunda-feira, uma condenação sem reserva, por parte de todas as forças políticas espanholas, das palavras de Milei numa clara alusão ao Partido Popular, que na véspera evitou criticar as declarações do responsável argentino. "Defender as instituições espanholas dos insultos dos líderes estrangeiros não é uma questão de "se" e "mas". Acima de tudo, está o patriotismo", disse Pedro Sánchez, citado pela agência Europa Press.
Sobre Santiago Abascal, líder do Vox, e promotor da convenção política Europa Viva 24, que além de Milei contou com a participação de Marine Le Pen, Viktor Orbán, Giorgia Meloni ou André Ventura, o líder do PSOE acusou-o de "apelar à violência política". “Dizer que um Governo legítimo deve ser expulso é antidemocrático e exige uma condenação retumbante de todas as forças políticas e de todos os meios de comunicação social”, atirou o socialista, durante um evento organizado pelo jornal CincoDías.
Presidência argentina exige... pedido de desculpas de Madrid
Por seu lado, o porta-voz da presidência da Argentina, Manuel Adorni, exigiu que o Governo de Espanha peça "sinceras desculpas" ao Presidente argentino Javier Milei, para pôr fim a um conflito diplomático.
“Trataram-no como um vilão, um negacionista, um ‘consumidor de substâncias’, um autoritário, um antidemocrático e uma pessoa ‘muito má’. Espero que em algum momento reflictam e peçam desculpas sinceramente", disse Adorni na rede social X (antigo Twitter).
Também um outro porta-voz da presidência da Argentina, Javier Lanari, tinha acusado o ministro dos Transportes da Espanha, Óscar Puente, de insultar Milei, ao descrevê-lo como “viciado em drogas”, no início do mês.
“Ele não foi o único: a ministra da Ciência espanhola [Diana Morant] chamou a Milei ‘negacionista’ e disse que ele ‘ataca a democracia'. Mas quem coloca as relações em risco e deve pedir desculpas é Milei...", ironizou Lanari.
"O senhor Milei, com o seu comportamento, levou as relações entre Espanha e Argentina ao momento mais grave na nossa história recente", disse no sábado o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares. "Espanha também exige desculpas públicas ao senhor Milei. Caso não se produzam essas desculpas, tomaremos as medidas que consideramos oportunas para defender a nossa soberania e a nossa dignidade", acrescentou Albares, sem dar mais detalhes.
O ministro considerou que as palavras de Milei "ultrapassam qualquer tipo de diferença política e ideológica" e "não têm precedentes na história das relações internacionais e ainda menos na história das relações entre dois países e dois povos unidos por fortes laços".
Milei chegou a Madrid na sexta-feira e regressou no domingo à Argentina, depois de participar na convenção do Vox. Foi a primeira viagem que fez a Espanha após ter tomado posse como Presidente, mas não teve encontros com autoridades do país. O Governo argentino explicou na semana passada que Milei pretende regressar a Espanha em Junho e aí pedirá audiências oficiais.