Vista Alegre inspira colecção de cadernos de viagem
Quatro ilustradores, entre os quais se inclui o português João Catarino, passaram para o papel o seu olhar sobre o lugar, as pessoas e a fábrica que está, este ano, a comemorar o seu bicentenário.
Assim que foi desafiado a assinar um dos quatro cadernos de viagens da Vista Alegre, João Catarino apressou-se a ir pesquisar no Google imagens do lugar e da envolvente que, até então, não tinha conseguido apreciar com os seus próprios olhos. “O que me causou o primeiro impacto foi aquela relação com as árvores e com as casas, que causa um efeito de sombras muito interessante. E assim que cheguei ao lugar foi disso que fui à procura”, conta o ilustrador à Fugas. João Catarino é um dos criativos que assinam os cadernos de viagens que a Vista Alegre acaba de lançar, enaltecendo o papel da ilustração nesta fábrica bicentenária. São quatro cadernos, no total, todos eles com estilos e vivências diferentes, que já estão à venda nas lojas da marca e online (48 euros cada).
A russa Victoria Semykina, o belga Sebastiaan Van Doninck e a italiana Gabriella Giandelli são os outros três artistas que aceitaram ilustrar a sua visão da Vista Alegre. “A selecção destes quatro ilustradores, com estilos e vivências bastante diferentes entre si, foi pensada de forma a que as suas visões, sobre o mesmo tema, pudessem trazer diversidade e complementaridade a estes cadernos”, anunciou a marca, ressalvando, ainda, a diversidade de nacionalidades dos criadores. “Evidencia a abertura que a Vista Alegre sempre teve para o mundo”, é acrescentado, a propósito desta proposta que acaba por ir buscar inspiração aos cadernos de um dos netos do fundador da Vista Alegre. O comandante António Jervis de Atouguia Ferreira Pinto Basto, já tinha iniciado esta prática com os cadernos de viagens de navegação, com riquíssimos esquissos e aguarelas, acompanhadas de descrições manuscritas.
O espaço e as pessoas
As ilustrações que João Catarino apresenta no caderno de viagens da sua autoria, resultam de duas estadias no lugar da Vista Alegre, em épocas distintas. “Uma Vista Alegre vista no Inverno e, depois, uma Vista Alegre vista no Verão, já com os plátanos cheios de folhas. De facto, o ambiente muda muito e o meu caderno retrata esta sazonalidade também”, revela.
Ao ilustrador português não faltaram “pontos de interesse” para passar para o papel. “A arquitectura do bairro, também a monumentalidade da Igreja da Nossa Senhora da Penha de França e o braço da Ria de Aveiro, criam toda uma envolvência natural muito interessante”, vinca. “Há sempre espaço para a arquitectura, para a arquitectura de interiores, também motivos decorativos e religiosos, a par da vegetação, nomeadamente aqueles enormes plátanos e também as belas-sombras do lugar”, acrescenta.
A estas fontes de inspiração, João Catarino junta uma outra, tão ou ainda mais importante: “lidar com o mundo operário”. “As sirenes apitam, toda a gente a sair à mesma hora, o trabalho conjunto dos operários, os almoços nas cantinas”, repara, lembrando foi exactamente esta a vivência que mais encantou a autora Victoria Semykina.
Neste, como noutros projectos – João Catarino já assinou livros como “Tanto Mar” e “Diários de Viagem em Lisboa” -, o ilustrador português procurou “desenhar o que está a acontecer”. “Há uma relação do tempo que gosto de captar nos desenhos”, afiança, confessando que “um caderno de viagens é uma ideia anti-projecto”.