Celebrar a FEP é debater o presente e olhar para o futuro
A última conferência do ciclo de comemorações dos 70 anos da FEP traz ao Porto a presidente do Banco Europeu de Investimento para falar sobre os desafios económicos e sociais que a Europa enfrenta.
Comemorar os 70 anos da FEP - Faculdade de Economia da Universidade do Porto é celebrar sete décadas de ensino com um impacto muito significativo em vários quadrantes da sociedade. A formação de profissionais que seguiram as mais diversas carreiras tem em comum uma abordagem interdisciplinar adequada aos desafios do mundo contemporâneo. O ciclo de conferências que integra o programa de celebrações foi concebido precisamente para que toda a distinta essência da FEP fosse, de certa forma, representada. A última de cinco acontecerá a 24 de Maio, dia da FEP, e será Nadia Calviño, presidente do Banco Europeu de Investimento - BEI, a partilhar alguns dos desafios que a Europa enfrenta.
Em conversa, o director da FEP, Óscar Afonso, evidenciou a importância de explorar temas diversos e de incentivar uma compreensão abrangente e interconectada com as questões económicas e sociais.
A interacção entre diferentes áreas de estudo é vista como fundamental para a missão da FEP como uma instituição de ensino comprometida com a formação de profissionais versáteis e conscientes dos desafios da actualidade - para que estejam preparados para o futuro. Além disso, é indissociável uma ligação constante do ensino e da própria instituição ao meio, quer pelo contributo para a formação do tecido empresarial, quer na construção de um pensamento crítico e esclarecido em áreas distintas. E faz um paralelismo do programa comemorativo com as próprias licenciaturas: “Procurámos que o programa fosse representativo (da tal interdisciplinaridade).
De facto, a FEP é mesmo isso: até as próprias licenciaturas são de amplo espectro, ou seja, a licenciatura em Economia tem Economia mas também tem Gestão, também tem Matemática, também tem Ciências Sociais. E o curso de Gestão também tem Economia”, justifica.
Para o Professor Fernando Freire de Sousa, Presidente da Comissão Organizadora dos 70 anos da FEP, é importante olhar para o programa das conferências e reconhecer duas dimensões: uma certa tradição ligada à “percepção da Faculdade”, explica, e outra que toca temas mais abrangentes. Ou seja, tanto quanto possível, este ciclo trouxe um pouco do que é, historicamente, a abordagem interdisciplinar de ensino, que trata “temas económicos, temas ligados às Ciências Sociais, ao Direito, alguma coisa mais forte ligada à Gestão empresarial”. A outra dimensão não é contraditória, casa-se com a primeira. Para quem vive no Portugal de 2024, Freire de Sousa acredita que os temas que a primeira e esta última conferência tratam, especialmente estas, são os temas mais abrangentes e comuns. “A economia portuguesa por um lado e a ligação à economia europeia por outro”, referindo-se respectivamente à intervenção de Elisa Ferreira, Comissária Europeia, ex-aluna e docente da FEP no primeiro evento, e à conferência que encerra este ciclo, com a presença da presidente do BEI.
Uma história feita de mudanças sociais, actualização e renovação
Um ano de pensamento e debate com olhos postos no futuro sobre áreas-chave da Economia e da Gestão, que começou por enfatizar o necessário desenvolvimento sustentado de Portugal nos próximos anos. “A Competitividade Portuguesa e a Coesão Europeia” foi o tema inaugural do ciclo, com Elisa Ferreira a alertar para a utilização responsável de fundos europeus mas também para a importância de valorizar recursos, referindo-se aos “jovens qualificados forçados a emigrar”, aos pequenos empresários, a “serviços públicos que vão fechando e de esvaziamento das regiões, que se transformam em fontes de custo”. Para um desenvolvimento sustentado e reequilíbrio territorial. Para a tal competitividade, é essencial, acredita a Comissária Europeia, a articulação entre faculdades, centros tecnológicos e o tecido empresarial. Nesse sentido, exaltou a missão contínua da FEP “ao serviço da comunidade” e enquanto “agente central de mudança para a região, para o país, e para a Europa”, agregando o meio académico, a comunidade empresarial e a sociedade civil.
No segundo momento do ciclo, o ênfase foi na Gestão, ao encontro do que é, também, a história da Faculdade, que começou a ensinar esta Ciência Social em meados dos anos 90. “Gestão de Empresas e os Gestores Portugueses” foi o mote para uma conversa sobre o actual panorama empresarial e o que será o futuro. José Fernando Pinto dos Santos, Luís Reis, Ana Paula Marques e Jorge Farinha partilharam os seus contributos nesse sentido.
“A Interdisciplinaridade e o Futuro da Universidade”, apesar de ser quase um tema transversal a todo o ciclo, foi o tema principal da conversa entre Augusto Santos Silva, Professor Catedrático na FEP e, na altura, Presidente da Assembleia da República, e a professora Olga Pombo. Os comentários ficaram a cargo do economista António M. Figueiredo, e do Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas, Miguel Pestana de Vasconcelos. Foram inúmeras as mudanças da vida colectiva nas últimas décadas. Tal como a Revolução, o edifício da FEP celebra 50 anos. Se a FEP acompanhou essas mudanças e soube actualizar-se e adaptar-se, o próprio edifício projectado pelo arquitecto Viana de Lima é um símbolo dessa identidade vanguardista. O Monumento de Interesse Público foi palco de um “debate sobre arquitectura num sentido mais lato do que estrito”, referiu, na antecipação do evento, o Professor Freire de Sousa. A conferência contou com a participação dos arquitectos Sérgio Fernandez e Pedro Martins e com os comentários dos professores da FEP Ana Paula Delgado e José Varejão.
O culminar de um ciclo (em aberto)
Ao longo do ano de celebrações que agora culmina a 24 de Maio, dia da FEP, com a última de cinco conferências, foram muitos os micro eventos dinamizados no âmbito do septuagésimo aniversário da faculdade. Nota para o facto de as cinco conferências que integram o ciclo de comemorações terem sido pensadas para a comunidade académica da FEP no seu todo: para os actuais alunos, para os professores e colaboradores “mas também para os ex-alunos, stakeholders da faculdade e também com a população geral, que se interesse por estes temas da Economia e da Gestão. “Alguém que considere interessante a conferência é muito bem-vindo”, convida o professor Óscar Afonso.
A escolha de Nadia Calviño permitirá uma análise dos desafios que a Europa enfrenta, incluindo questões sociais, de defesa e de segurança, além do papel do BEI no financiamento de projectos. O evento acaba por ser uma oportunidade para os participantes entenderem diferentes perspectivas da Europa em plena época de eleições e de mudanças geopolíticas. Perceber como a recentemente nomeada presidente do BEI interpreta esses desafios e como espera que afectem as políticas e prioridades da Europa nos próximos anos serão os pontos principais a destacar.
No contexto de “uma Europa que está cada vez mais consciente da necessidade que tem de responder a alguns desafios para os quais não estávamos preparados”, repara Freire de Sousa. Em relação à segurança comunitária, muitos responsáveis europeus têm vindo a fazer discursos em torno da necessidade de a Europa aumentar as despesas com a componente militar e de defesa. Para suportar essas despesas, o professor responsável pela Comissão Organizadora dos 70 anos da FEP acredita que “o Banco Europeu de Investimentos pode ser um dos braços principais desses financiamentos”. Isso significará uma grande alteração na missão do BEI e nas suas habituais dinâmicas, pelo que esta conferência é “uma oportunidade de ouvir na primeira pessoa (Nadia Calviño) como espera enfrentar esta etapa tão desafiante”. E é uma oportunidade para todos os que queiram assistir presencialmente ou online através da transmissão em directo para as plataformas do Público e da FEP.