Consentimento informado visto como pilar para uso clínico de psicadélicos

Orientações criadas por seis instituições portuguesas, incluindo três ordens profissionais, estão em discussão pública até 20 de Julho. Grupo quer que estas substâncias sejam enquadradas como fármaco.

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A psilocibina é um dos principais psicadélicos a ser estudado para o contexto clínico Miguel Manso
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Não é novidade, mas há mais uma série de recomendações para o uso terapêutico de substâncias psicadélicas. As prioridades mantêm-se: os psicadélicos devem ser enquadrados como medicamentos; devem-se criar consentimentos informados específicos para estes tratamentos; e o uso off label (fora do âmbito para o qual estão aprovados) deve ser mesmo excepcional. O conjunto de orientações apresentado esta segunda-feira está agora em discussão pública até 20 de Julho.

As recomendações bebem de outros dois documentos que vieram a público no último ano. Primeiro, um artigo científico publicado na revista Nature Medicine em que se reforçava a necessidade de criar um enquadramento para a aplicação de psicadélicos fora da investigação científica – onde a sua aplicação é mais corrente. Depois, num parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), em Março deste ano, onde se pedem políticas públicas para o uso de psicadélicos na terapia. Os psicadélicos são bastante variados entre si, desde a ayahuasca, MDMA ou a psilocibina, até à cetamina, que é um anestésico usado nos hospitais, mas também é uma substância psicadélica. Aliás, no ano passado, abriu uma clínica privada em Portugal que oferece estes tratamentos em contexto terapêutico com a aplicação off label da cetamina.

As recomendações pretendem ser um guia profissional e fomentar a discussão pública sobre o actual contexto para o uso clínico de substâncias psicadélicas. “Estamos a falar de substâncias que alteram a capacidade de decisão, a partir do momento em que a substância é administrada, a fragilidade do doente, a quem a substância foi administrada por motivos clínicos, modifica-se e aumenta”, diz Albino Oliveira-Maia, director da Unidade de Neuropsiquiatria da Fundação Champalimaud e um dos membros do grupo de trabalho que elaborou estas orientações. “Uma das formas importantes de proteger as pessoas é elas terem um conhecimento claro do processo terapêutico em que se envolvem e poderem tomar decisões antes de o tratamento ser feito.”

Daí que o consentimento informado seja o melhor processo para que o paciente tenha todo o conhecimento necessário antes de entrar em tratamento – para proteger quer utentes, quer profissionais de saúde.

“Quando utilizadas com intuito terapêutico, as substâncias psicadélicas devem ser enquadradas como um medicamento, exigindo um diagnóstico, uma prescrição e uma intervenção médica”, sublinha o documento, que estará disponível no site da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental até Julho. Além desta sociedade, participaram ainda na elaboração do documento a Fundação Champalimaud, o CNECV e as ordens profissionais dos farmacêuticos, médicos e psicólogos.

Além do tratamento como medicamento, algo importante até para garantir que as leis sobre a publicidade a este tipo de substâncias é cumprida (não promovendo sem as regras que todos os fármacos têm de cumprir), as recomendações notam ainda a importância do acompanhamento de intervenção psicológica, “proposta como necessária para apoiar o doente durante o tratamento e potencialmente benéfica para o prolongamento de efeitos terapêuticos”, escrevem os autores.

“É importante compreendermos a regulação sobre o medicamento que já existe e o que se aplica a estas substâncias”, diz Albino Oliveira-Maia, destacando que é fulcral analisar isso primeiro antes de se avançar com nova regulamentação e que os guias profissionais poderão ser mais úteis – guias como o consentimento informado, por exemplo.

Depois de todos os comentários e sugestões recebidas, a versão final deste documento será devolvido às ordens profissionais, para fazerem a sua aprovação das recomendações aí inscritas.

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