Bombeiros de Castro Daire: “Foi a nossa aventura de fim-de-semana”
Pela meia-noite, temia-se que o meteoro tivesse caído em Castro Daire e os meios foram accionados para encontrar a zona de impacto (inexistente), algures na Serra de Montemuro.
As instruções que chegaram aos Bombeiros Voluntários de Castro Daire, pouco depois da meia-noite deste domingo, eram “inusitadas”, mas o que se seguiu, nem tanto. “Lamento desapontar, mas o que aconteceu depois foi completamente normal, as démarches normais”, diz o 2.º Comandante Fernando Albuquerque, que passou parte da madrugada à procura do eventual ponto onde o meteoro que cruzou os céus de Espanha e Portugal poderia ter tocado no solo. Já se sabe que tal não aconteceu, mas naqueles primeiros instantes, nada disso era claro, e a Serra do Montemuro encheu-se de homens e veículos em busca de meteoritos.
O pedido para que verificassem a existência de um eventual choque de um meteoro com o solo, chegou através do comando sub-regional Viseu/Dão/Lafões. No quartel, ninguém se apercebera da passagem do corpo celeste, e para o 2.º comandante, a razão para quebrar a calmaria da noite foi uma novidade. “Tenho quase 50 anos e foi a primeira vez que fomos alertados por causa da passagem de um meteoro, foi algo inusitado”, conta, pelo telefone. O que já classifica como “normal” foi o que se seguiu — a definição de meios necessários para responder ao que poderia ser um cenário com danos (incluindo incêndio) ou até mesmo vítimas.
Por isso, dos bombeiros de Castro Daire saíram dois veículos de combate a incêndio, uma ambulância e um veículo de comando, num total de 13 homens. Os Bombeiros Voluntários de Farejinhas também foram accionados, enviando um veículo com cinco elementos, e a GNR juntou-se à busca, com um veículo e dois militares. “A indicação que chegou é que seria na localidade de Pereira, na serra de Montemuro, e que toda a zona acima da aldeia poderia ser local da possível queda”, conta Fernando Albuquerque.
Apesar do inusitado da chamada nocturna, o responsável dos bombeiros diz que partiu para os caminhos escuros da serra sem demasiado alarmismo. “Já vimos exemplos, noutros países, do que pode acontecer quando meteoros tocam no solo e provocam danos, já sabíamos o que poderia acontecer na pior das hipóteses. Mas, se tivesse acontecido aqui, julgo que haveria muito mais rapidamente a confirmação, as próprias pessoas telefonariam directamente para os bombeiros. Por isso, saí sem grande preocupação”, afirma.
Apesar de no quartel não se ter dado pela passagem do meteoro, alguns dos elementos chamados para as buscas deram conta que, sim, que tinham ouvido algo, e as redes sociais rapidamente se encheram de imagens da passagem do que parecia uma enorme bola com uma cauda, que por segundos iluminou totalmente os céus de uma luz azulada.
Mas, em Castro Daire, ainda não havia qualquer informação a indicar que, afinal, o meteoro seguira o seu caminho para lá da fronteira marítima de Portugal, desaparecendo algures sobre o Oceano Atlântico. Por isso, as buscas continuaram. “Percorremos a serra e a zona circundante da aldeia, para verificar se havia a queda do dito, ou fragmentos. Pelas 2h30, 2h45, foi finda a procura, porque levantou-se nevoeiro e não víamos nada, era como procurar uma agulha num palheiro”, recorda o 2.º comandante.
Desfeita a equipa de buscas, a certeza quanto ao que tinha acontecido não existia ainda, pelo que o descanso foi curto para os bombeiros de Castro Daire. “Às 9h já cá estava. Não havendo novas informações, poderia haver a necessidade de retomar a verificação da queda, se havia danos ou não e se havia vítimas, que é a nossa primeira preocupação”, conta.
Felizmente, nada disso se confirmaria. E a maior perturbação do dia do 2.º comandante foi mesmo o número de chamadas que recebeu de diferentes órgãos de comunicação social, a querer saber novidades sobre o que acontecera. “Se ganhasse cem euros por cada vez que já disse hoje a palavra meteorito e pelos telefonemas que recebi, já me dava para não trabalhar até ao final do ano”, brinca.
A queda do meteoro em Castro Daire, que afinal nunca aconteceu, vai ficar assim como uma história para relembrar no futuro, sem consequências de maior. Cansado, pelas poucas horas de sono dormidas, o 2.º comandante Fernando Albuquerque ainda brinca: “Olhe, para usar uma expressão popular: andámos numa caça aos gambozinos. Foi a nossa aventura de fim-de-semana.”