Helicóptero que se despenhou com Presidente do Irão ainda por localizar

Mais de 40 equipas estão envolvidas no resgate Ebrahim Raisi. Operações estão a ser dificultadas pelo nevoeiro na região do acidente.

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Helicóptero que transportava Ebrahim Raisi Ali Hamed Haghdoust/IRNA/WANA
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O helicóptero que transportava o Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, sofreu um acidente na tarde deste domingo, numa região montanhosa no Noroeste do país, junto à fronteira com o Azerbaijão. As operações de salvamento estão a ser dificultadas pelo mau tempo que se faz sentir na região e ainda não é conhecida a localização do aparelho em que seguia o responsável iraniano.

O Governo do Irão enviou 40 equipas de resgate para o local. Ao início da noite, a agência Reuters avançou que o helicóptero tinha sido localizado, mas essa informação foi mais tarde desmentida pelo Crescente Vermelho. Já de madrugada (meia-noite em Portugal), enquanto a televisão estatal transmitia imagens de iranianos nas ruas a rezar pela saúde de Raisi, os socorristas estavam a fazer buscas numa área de apenas dois quilómetros, mas a orografia da região e o nevoeiro intenso continuavam a complicar a missão.

Segundo o canal Al Jazeera, as Forças Armadas iranianas terão detectado sinais provenientes do helicóptero e do telemóvel de um membro da tripulação. ​"Estamos agora a deslocar-nos para a zona com todas as forças militares e espero que possamos dar boas notícias ao povo", disse Asghar Abbasgholizadeh, o comandante dos Guardas da Revolução no Azerbaijão Oriental, citado pela agência Tasnim.​

Janez Lenarčič, o comissário europeu responsável pela ajuda humanitária e gestão de crises, disse que a União Europeia activou o seu serviço de cartografia de emergência — o Copernicus — em resposta a um pedido de ajuda do Irão.​

Khamenei apela à calma

Raisi, de 63 anos, eleito em 2021 e visto como um potencial sucessor do Guia Supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, estava de regresso à cidade de Tabriz, depois de ter participado na inauguração de uma barragem na fronteira entre o Irão e o Azerbaijão.

Além de Raisi, do piloto e dos guarda-costas do Presidente iraniano, seguiam no mesmo aparelho o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amir-Abdollahian; o governador da província iraniana do Azerbaijão Oriental, Malek Rahmati; e o representante do ayatollah Khamenei na região, Mohammad Ali Ale-Hashem.

O Presidente iraniano seguia numa comitiva de três helicópteros, dois dos quais chegaram ao destino sem qualquer problema. Segundo o Governo do país, alguns passageiros do aparelho em que Raisi viajava entraram em contacto com as autoridades, mas não é claro se essas comunicações foram feitas antes ou depois do acidente.

Em declarações no canal estatal iraniano, este domingo, o Guia Supremo do Irão manifestou a esperança de que "o Presidente e os seus companheiros regressem aos braços da nação". "A nação iraniana não deve preocupar-se, não haverá disrupção no trabalho do país", afirmou Khamenei.

O uso de helicópteros por altas figuras do Estado iraniano é frequente, apesar de as sanções internacionais que têm sido impostas ao país ao longo das décadas dificultarem a importação de peças essenciais para a manutenção dos aparelhos.

Não há qualquer informação sobre as possíveis causas do acidente, além de referências, no canal de televisão estatal, de que se tratou de uma "aterragem forçada" e de que o denso nevoeiro na região dificulta as operações de busca. Ao fim da tarde deste domingo, um responsável pelas operações de socorro, Babak Yektaparast, disse ao canal Al Jazeera que as operações aéreas de busca e salvamento foram interrompidas devido ao mau tempo.

Segundo a agência Reuters, um responsável do Governo iraniano, citado sob a condição de anonimato, disse que o helicóptero se "despenhou" e que as vidas de Raisi e dos restantes ocupantes "estão em risco".

"Ainda mantemos a esperança, mas a informação que nos chega é muito preocupante", disse a fonte citada pela Reuters.

Instabilidade

A confirmar-se, a morte de Raisi pode lançar o país num período de grande instabilidade, um mês depois de o Irão ter lançado o seu primeiro ataque directo contra o território de Israel, e num contexto de forte contestação à liderança iraniana após a morte de Mahsa Amini — a jovem que morreu no hospital, em 2022, depois de ter sido detida, e alegadamente espancada, por usar o hijab (lenço islâmico) de forma considerada incorrecta pela chamada "polícia da moralidade".

Ebrahim Raisi foi eleito Presidente do Irão em 2021, depois de uma primeira tentativa fracassada, em 2017, e após décadas de influência no sistema judicial do país, onde desempenhou vários cargos de topo, incluindo os de procurador-geral e de presidente do Supremo Tribunal.

Após a sua vitória, como candidato preferido do regime, e numa eleição presidencial marcada por queixas de manipulação dos resultados e fraude eleitoral, Raisi inverteu um caminho mais pragmático do seu antecessor, Hassan Rohani — o homem que negociou e assinou o histórico acordo sobre o programa nuclear iraniano, que Donald Trump viria a rasgar em 2018.

A sua eleição foi muito criticada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, que o acusam de ter sangue nas mãos. Na altura, a Amnistia Internacional pediu que Raisi fosse investigado pelas execuções extrajudiciais de milhares de presos políticos, em 1988, quando era procurador-geral-adjunto de Teerão, bem como pelo aumento da repressão nos últimos anos.

Em termos internacionais, Raisi foi um dos primeiros líderes a telefonar ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Fevereiro de 2022, para lhe prometer apoio na invasão da Ucrânia.

Além do envolvimento directo na guerra em Gaza, através do ataque com drones e mísseis contra território israelita, em Abril, o Irão continuou, sob a presidência de Raisi, a armar vários grupos no Médio Oriente, incluindo o movimento libanês Hezbollah e os rebeldes houthis, do Iémen.

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