Entre sável fumado e vinhos únicos, até Jane Austen apareceu no Vinho da Casa: evento continua até domingo

O Vinho da Casa, evento do PÚBLICO e da Out of Paper, decorre este fim-de-semana, com 20 dos maiores produtores portugueses, música, jantar do chef Alexandre Silva e muitas surpresas.

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“É tudo novo para nós.” Os norte-americanos John e Jean Davis e a amiga Diane Shoemaker estão no Vinho da Casa - Não É Qualquer Vinho, Não É Qualquer Casa, a segunda edição do evento organizado pelo PÚBLICO e a Out of Paper, que reúne desde sexta-feira e até domingo vinte dos melhores produtores nacionais no La Distillerie, em Lisboa. Percorrem o espaço, de produtor para produtor, provando vinhos e fazendo perguntas. Fazem todas as perguntas possíveis, porque, “habituados ao vinho da Califórnia ou ao francês”, até agora não sabiam praticamente nada de vinho português.

“Somos curiosos”, explica Jean. Por isso, em pouco tempo já absorveram uma quantidade significativa de informação sobre as diferentes regiões, as muitas castas, “os rios, o clima” e até os tipos de madeira usados. Ainda vão provar a comida do chef Alexandre Silva (Loco, uma estrela Michelin, e Fogo, ambos em Lisboa), ver o showcooking de três dos grandes enólogos nacionais, Pedro Baptista (Fundação Eugénio de Almeida), Luís Sottomayor (Casa Ferreirinha) e Luís Cabral de Almeida (Herdade do Peso), descobrir a extraordinária colecção de copos de Adrian Bridge da Taylor’s e ouvir a música trazida por outro produtor, Carlos Agrellos, da Quinta do Noval. E isto foi apenas na sexta-feira porque a festa continua até domingo (os bilhetes estão à venda aqui).

Toda a sala de cima do La Distillerie está transformada para que cada enólogo ou produtor tenha uma pequena “sala de estar” com mesa e sofás, como se estivesse a receber os visitantes na sua própria casa. A ideia é criar um espaço mais intimista, onde se possa conversar e provar com tempo, ouvindo as histórias que cada um tem para contar.

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Daniel Niepoort esteve à conversa com um produtor francês sobre o valor das vinhas velhas dr

Daniel Niepoort, por exemplo, acabou de receber o produtor francês Yves Cuilleron e conta como este ficou surpreendido ao ver a foto que o produtor tem no seu telefone, com cachos de uvas brancas, tintas e de tons intermédios, todas provenientes da mesma vinha velha. Estiveram a conversar sobre este conceito do field blend, enquanto Daniel lhe deu a provar o Turris, um dos vinhos muito especiais que trouxe para o evento. “Ele ficou surpreendido por ver como um vinho pode ser tão leve e tão longo ao mesmo tempo.”

Atravessamos o salão e Mário Sérgio da Quinta das Bágeiras está a mostrar os seus vinhos Aldeia da Fogueira, cujos rótulos contam histórias diferentes da sua aldeia natal em Anadia (Bairrada) – desde a forma como a escola primária nasceu “do pedido de uma menina ao ministro, para as crianças poderem aprender a ler e a escrever”, ainda durante o Estado Novo, até ao dia em que a população reuniu dinheiro para oferecer um carro ao médico que lhes dava consultas sem cobrar.

Ao lado dele, Paulo Nunes, da Casa da Passarella também tem histórias para contar. Por exemplo, a do Villa Oliveira 2014 que fez para comemorar os 125 anos da Casa da Passarella. “A ideia foi, olhando para as vinhas velhas, perceber o que à época era a matriz da região. Escolhi as cinco castas que faziam mais sentido para isso e vinifiquei-as juntas, com engaço para reproduzir a vinificação da época.” É também interessante experimentar os dois Villa Oliveira que trouxe para o Vinho da Casa, feitos de parcelas (uma centenária, a outra com 80 anos) que distam 100 metros uma da outra, mas que têm diferentes exposições solares, o que torna os vinhos claramente distintos.

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Paulo Nunes com dois dos vinho da Casa da Passarella dr

Na sua “sala”, Ricardo Diogo, da Barbeito, fala do Madeira que irá apresentar numa prova domingo, o Três Amigos, homenagem à amizade que o une ao norte-americano Sebastian e ao japonês Yasumitsu e que junta três castas, Verdelho, Bual e Malvasia – aliás, a relação com o Japão data já do tempo do avô de Ricardo, Mário Barbeito. “Vem de 1967”, recorda. “Fomos o primeiro vinho português que se engarrafou e comercializou no Japão.”

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Ricardo Diogo da Barbeito dr

Mas o Vinho da Casa não se fica pelas histórias do vinho. O showcooking dos enólogos foi pretexto para Luís Sottomayor contar a história do sável fumado que se fazia no Douro, a bordo dos barcos que transportavam as barricas de vinho do Porto, e para Pedro Baptista e Luís Cabral de Almeida elogiarem a gastronomia alentejana e o tomate coração de boi, com, respectivamente, uma tomatada de galinha e um gaspacho.

Um dos momentos altos da noite foi, sem dúvida, a apresentação que Adrian Bridge fez da sua colecção de copos das mais variadas formas, feitios e materiais, que são uma viagem pela forma como a Humanidade foi encontrando maneiras de beber através dos tempos, desde o império persa até uma taça de prata que terá pertencido à escritora britânica Jane Austen [1775-1817] e na qual Adrian Bridge fez uma receita de ponche com, claro, uma generosa quantidade de vinho do Porto da Taylor’s.

O Vinho da Casa continua pelo fim-de-semana, com mais momentos com produtores, enólogos e artistas convidados – sábado haverá conversa e música com o pianista de jazz Mário Laginha, e ainda um momento musical com o casal de Masters of Wine Peter Richards e Susie Barrie (que farão também uma masterclass) e domingo, para além da prova especial da Barbeito, e da masterclass sobre vinho do Porto com o crítico do PÚBLICO Manuel Carvalho haverá recital de poesia com Paulo Nunes e convidados e a noite terminará da melhor forma com uma conversa com música, desta vez com Sérgio Godinho e Filipe Raposo.

Os 20 produtores que vão estar presentes, todos eles convidados pela organização para participar no Vinho da Casa, são: Adega do Mouchão (Iain Richardson), Anselmo Mendes, Barbeito (Ricardo Diogo), Casa da Passarella (Paulo Nunes), Casa Ferreirinha (Luís Sottomayor), Reynolds Wine Growers (Julian Reynolds), Fundação Eugénio de Almeida (Pedro Baptista), Júlio Bastos, Luís Pato, Quinta das Bágeiras (Mário Sérgio), Niepoort (Daniel Niepoort), Quinta do Crasto (Manuel Lobo), Quinta do Noval (Carlos Agrellos), Quinta do Vallado (Francisco Ferreira, João Ferreira Álvares Ribeiro), Quinta do Vale Meão (Francisco Olazabal), Ramos Pinto (Thomas Rogerson), Susana Esteban, Symington (Harry e Charlotte Symington, Celso Pereira) Taylor's (Adrian Bridge), Wine and Soul (Sandra Tavares e Jorge Serôdio Borges).

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O Vinho da Casa permite conversas mais intimistas com produtores e enólogos (na foto, Sandra Gonçalves do Dona Maria Júlio Bastos) dr

O Vinho da Casa tem o patrocínio da Haier, DIAM e Saverglass e o apoio da ViniPortugal, o copo oficial é Riedel e o hotel é o Torel Palace Lisboa e a produção é da H2N. A loja oficial do evento é a Garrafeira Imperial, que acaba de receber o prémio de Melhor Garrafeira do Ano atribuído pela Revista Grandes Escolhas, e na qual, durante o evento, poderá ser comprado vinho com 10% de desconto, com entrega em casa. Já o café, fica oficialmente por conta da Delta Q.

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