Professores do ensino superior pedem respeito por manifestações de alunos

Docentes, investigadores e administrativos do ensino superior juntaram-se numa petição para pedir o respeito do direito de manifestação dos alunos, sem recurso à violência.

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Nos últimos dias, várias universidades em todo o país têm tido espaços ocupados por estudantes em protestos pela paz na Palestina e contra a invasão israelita em Gaza Ana Marques Maia
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Nos últimos dias, várias universidades em todo o país têm tido espaços ocupados por estudantes em protestos pela paz na Palestina e contra a invasão israelita em Gaza, à semelhança do que sucede noutras universidades internacionais. A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) foi o estabelecimento de ensino mais recente a ser ocupado. Perante esta onda que, assim como a guerra no Médio Oriente, não parece ter um fim à vista, docentes, investigadores e administrativos reuniram-se para abrir uma petição dirigida aos órgãos dirigentes de universidades e institutos politécnicos portugueses que pede o respeito pelo direito de manifestação dos alunos.

"Acreditamos que é nosso dever, como académicos e trabalhadores do ensino superior, não reagir às manifestações com o recurso à coerção, proteger os nossos alunos no contexto e no espaço universitário, e não os colocar em risco de serem alvo de violência policial", lê-se na carta aberta que hoje às 10:00 tinha cerca de 80 assinaturas.

"Nós, docentes, investigadores e membros do pessoal administrativo do ensino superior, queremos expressar solidariedade com os estudantes que tomaram a iniciativa de ocupar pacificamente edifícios e outras instalações académicas, como a que, no presente momento", tem lugar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova desde segunda-feira (13). No mesmo dia, a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa também foi palco da ocupação estudantil que exige “fim ao genocídio” e o “fim ao fóssil”. Na semana passada (9), na Faculdade de Psicologia da mesma universidade (FPUL), os protestos levaram à detenção de oito estudantes por desobediência, entretanto libertados.

Os promotores da petição elogiam a decisão da direcção da Universidade Nova de "reunir e dialogar com os alunos e de não chamar a polícia nesta ocasião".

"Apelamos que essa posição seja mantida e pedimos a todas as direcções do ensino superior que façam o mesmo" em casos semelhantes, defendem.

Para os signatários, "não é possível, simultaneamente, festejar os movimentos estudantis ocorridos em 1962 e recorrer a formas de repressão e violência face a acções que estão bastante mais distantes de perturbar o "normal funcionamento das instituições" do que os protestos estudantis que culminaram na enaltecida "crise académica".

As instituições de ensino superior devem "desempenhar um papel relevante no incremento da participação e do empenho cívicos".

Por isso, "os esforços dos corpos que a constituem para responder à emergência climática ou para impedir atentados aos Direitos Humanos, consubstanciados em ocupação militar, na matança de dezenas de milhares de civis, na obstrução de ajuda humanitária e na destruição indiscriminada de habitações e de infra-estruturas cruciais, devem ser saudados, debatidos e escutados e não alvo de perseguição ou repressão", concluem os autores. A petição pode ser assinada aqui.

Até agora, as universidades dos Países Baixos, Bélgica, Estados Unidos, Canadá, México, Austrália, Itália, França, Alemanha e Reino Unido foram ocupadas com manifestações a favor da Palestina. Em Espanha, 76 universidades suspenderam parcerias com universidades israelitas. Nos Estados Unidos, as universidades do Minnesota, Brown, Evergreen State College, entre outras, também se comprometeram com o desinvestimento e prometeram olhar para a lista de investidores ou até a deixarem os estudantes fazê-lo. Isto fez com que os estudantes retirassem os acampamentos. No entanto, outras instituições permitiram que os protestos continuassem.

O conflito em curso na Faixa de Gaza foi desencadeado pelo ataque do grupo islamita Hamas em solo israelita de 07 de Outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas. Desde então, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que já provocou mais de 35.000 mortos, segundo o Hamas.

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