Irmã de Kim nega “teoria absurda” de que a Coreia do Norte esteja a fornecer armas à Rússia

EUA impõem sanções a indivíduos e entidades russas que dizem estar envolvidos em transferências de armas norte-coreanas utilizadas pelo Exército russo na Ucrânia. Seul denuncia mais testes balísticos.

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Kim Yo-jong e Kim Jong-un numa cerimónia diplomática intercoreana em 2018 KCNA/VIA REUTERS
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Kim Yo-jong, irmã do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e vice-directora do poderoso Departamento de Propaganda e de Agitação do regime, reagiu esta sexta-feira às sanções anunciadas na véspera pelo Governo norte-americano a indivíduos e entidades russas envolvidas no alegado fornecimento de armas norte-coreanas às Forças Armadas da Rússia que combatem na Ucrânia, denunciando uma “teoria absurda”.

Num comunicado publicado pela KCNA, a agência noticiosa da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) – o nome oficial da Coreia do Norte –, Yo-jong diz que “forças hostis estão a enganar a opinião pública com o falso rumor de que os sistemas de armas produzidos pela RPDC se destinam à ‘exportação para a Rússia’”.

“Como já dissemos várias vezes, o ‘rumor sobre os negócios de armas entre a RPDC e a Rússia’, concebido através de uma visão errada e ficcional, é o mais absurdo paradoxo [e] não merece qualquer avaliação ou interpretação”, afirmou a irmã do Líder Supremo, apontada por muitos especialistas em política coreana como uma das favoritas à sucessão de Kim Jong-un, no futuro.

Segundo Kim Yo-jong, a “tecnologia” do armamento que o regime de Pyongyang “desenvolveu e actualizou recentemente” não pode ser “aberta ao público”, o que impossibilita que seja exportado. “Não temos qualquer intenção de exportar as nossas capacidades técnicas militares para qualquer país”, assegura.

Mas Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, garantiu na quinta-feira que há provas de utilização russa armamento da Coreia do Norte em território ucraniano. “A Rússia já usou mais de 40 mísseis balísticos produzidos pela RPDC contra a Ucrânia, assim como munições, que a Moscovo importou em violação directa das resoluções do Conselho de Segurança da ONU”, acusou, num comunicado.

A Reuters diz ainda que teve acesso a um relatório apresentado pelos funcionários das Nações Unidas responsáveis pela monitorização das sanções impostas pelo Conselho de Segurança à Coreia do Norte que diz que foram encontrados destroços de um míssil balístico Hwasong-11, de fabrico norte-coreano, na cidade ucraniana de Kharkiv, no dia 2 de Janeiro.

Vladimir Putin, Presidente da Rússia, encontrou-se em Setembro do ano passado com Kim Jong-un, no Extremo Oriente russo, e o dirigente norte-coreano prometeu apoio total do seu país na “luta sagrada” do Kremlin “contra o imperialismo”.

Pouco se sabe sobre o que foi acordado entre os dois líderes, mas os governos ocidentais suspeitam que tenham sido definidos os termos do fornecimento de armas e munições da Coreia do Norte à Rússia, em troca do apoio russo ao desenvolvimento de satélites militares norte-coreanos.

Certo é que a Administração Biden anunciou na quinta-feira sanções económicas a dois indivíduos de nacionalidade russa (Aleksei Budnev e Rafael Anatolievich Gazarian) e a três empresas russas (Trans Kapital Limited Liability Company, Rafort Limited Liability Company e Tekhnologiya, OOO) que diz estarem envolvidas em transferências de armas entre a Coreia do Norte e a Rússia, violando, dessa forma, “múltiplas” resoluções da ONU aprovadas em resposta ao desenvolvimento do programa nuclear norte-coreano.

“As medidas anunciadas hoje [quinta-feira] reflectem o nosso compromisso em perturbar o aprofundamento da cooperação militar entre a RPDC e a Rússia. Os EUA vão continuar a tomar medidas para responsabilizar aqueles que pretendem facilitar o carregamento de armas e de outro material que facilite a guerra da Rússia”, declarou Brian Nelson, subsecretário de Estado do Tesouro dos EUA.

Horas depois do comunicado de Kim Yo-jong na KCNA, as autoridades militares da Coreia do Sul acusaram Pyongyang de ter disparado vários mísseis a partir da sua costa Leste, que percorreram cerca de 300 quilómetros antes caírem no mar do Japão. É o segundo teste do género em menos de um mês.

O ensaio balístico norte-coreano ocorreu numa altura em que Putin se encontra na China, para uma visita de Estado ao país e ao Presidente Xi Jinping. Depois de ter estado na véspera em Pequim, o líder russo visita, esta sexta-feira, Harbin, no Nordeste do território chinês, localizado a cerca de 700 quilómetros do local onde terá sido levado a cabo o teste militar da Coreia do Norte.

Na declaração conjunta que Putin e Xi assinaram e divulgaram na quinta-feira, a Coreia do Norte também merece destaque. “As partes opõem-se às acções de intimidação na esfera militar levadas a cabo pelos Estados Unidos e pelos seus aliados, que provocam novos confrontos com a RPDC (…) e a escalada da situação na península da Coreia”, acusaram.

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