Zoraya ter Beek, de 29 anos, vai recorrer à morte assistida por motivos de saúde mental ainda em Maio. A jovem neerlandesa contou ao The Free Press que, depois de anos de tratamentos psiquiátricos, tomou a decisão quando a psiquiatra lhe disse que “não havia nada mais a fazer” e que as suas doenças mentais não melhorariam. “Para mim, sempre foi muito claro que, se não podia melhorar, não podia viver mais”, disse.
Ter Beek, que está no espectro do autismo, sofre de depressão, ansiedade e transtorno de personalidade borderline. Recebeu a autorização final para morte assistida na semana passada, após três anos e meio de procedimentos legais.
A jovem mora com o parceiro, de 40 anos, numa pequena aldeia nos Países Baixos, perto da fronteira com a Alemanha. Será ele que estará ao seu lado, no sofá da sala, quando a médica lhe administrar um sedativo, seguido por um medicamento que irá parar o coração.
“Para mim, será como ir dormir. O meu parceiro estará ali, mas já lhe disse que não me importo se sair da sala antes da minha morte”, explica ao The Guardian. Ter Beek decidiu não fazer um funeral, será cremada e as cinzas serão espalhadas na floresta. “Não vejo isto como a partida da minha alma, mas como uma libertação da vida”, admite ao The Free Press.
A discussão do caso em meios de comunicação internacionais, em Abril, causou-lhe grande perturbação, contou ao The Guardian, levando-a a eliminar todas as suas contas nas redes sociais.
“As pessoas pensam que por ter uma doença mental não consigo raciocinar, o que é um insulto. Eu entendo os medos que algumas pessoas com deficiência têm sobre a morte assistida e entendo as preocupações sobre pessoas serem pressionadas a morrer. Mas, nos Países Baixos, nós temos a Lei da Eutanásia há mais de 20 anos, existem regras realmente rigorosas”, disse. A jovem solicitou a morte assistida em Dezembro de 2020.
“Estive em lista de espera para avaliação por muito tempo, porque há poucos médicos dispostos a realizar a eutanásia 'psiquiátrica'. Depois, fui avaliada por uma equipa médica e obtive uma segunda opinião sobre a minha elegibilidade. Esta segunda opinião, por sua vez, foi revista por um médico independente. Nos três anos e meio de processo, nunca hesitei sobre a minha decisão. Senti culpa, tenho um parceiro, família, amigos e não ignoro a dor deles. E senti medo. Mas estou absolutamente determinada a prosseguir”, garante ao The Guardian.
Ter Beek frisa que, em cada etapa do processo, há médicos que confirmam se o paciente quer avançar com o processo. A jovem espera que o procedimento seja feito nas próximas semanas. “Sinto alívio. Tem sido uma luta muito longa. O momento já chegou, o meu parceiro e eu estamos preparados. Sinto-me culpada, mas, às vezes, quando amas alguém, tens de o deixar ir”, disse ao jornal britânico.
A eutanásia, permitida em sete países, é normalmente pedida por pessoas com doenças terminais, que dizem já não ter qualidade de vida. Em Portugal, a Lei da Eutanásia foi aprovada em 2023, mas não pode ser aplicada porque ainda não está regulamentada. Em quatro desses países, Países Baixos, Luxemburgo, Bélgica e Espanha, é permitida a eutanásia por doença psiquiátrica.
O caso de Zoraya ter Beek não é único desde que a lei foi aprovada em 2002. O jornal The Guardian noticia que nos Países Baixos, em 2023, registaram-se 138 casos de morte por eutanásia por doença psiquiátrica, equivalente a 1,5% das 9068 mortes por eutanásia nesse ano no país.
A morte de Aurelia Bowers, em 2018, é outro exemplo da morte assistida por doença psiquiátrica nos Países Baixos. A jovem de 29 anos escreveu uma mensagem de despedida no Facebook, deitou-se na cama, acompanhada pelos amigos, e morreu após beber um composto tóxico prescrito pelo médico. O país tinha aprovado o procedimento um mês antes.
Texto editado por Renata Monteiro