Três mulheres lésbicas morrem queimadas em ataque na Argentina

Em Buenos Aires, três mulheres morreram queimadas após ataque ao quarto que partilhavam. Uma quarta está hospitalizada. Activistas LGBTQ+ responsabilizam o Governo de Javier Milei.

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Manifestantes reclamam justiça num protesto em Barracas, a 13 de Maio Raúl Ferrari via Ulan/Pool / Latin America News Agency via Reuters
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Três mulheres lésbicas mortas e uma quarta hospitalizada – foram estas as vítimas de um ataque ocorrido no passado dia 6 de Maio a uma pensão para pessoas com dificuldades económicas acentuadas em Buenos Aires, Argentina.

O suspeito, de 62 anos, identificado como Justo Fernando Barrientos, vivia no quarto ao lado das quatro mulheres no Bairro de Barracas. O homem terá alegadamente atirado panos em fogo para dentro do quarto das vítimas enquanto estas dormiam.

Segundo o jornal Buenos Aires Herald, Pamela Cobbas, de 52 anos, sofreu queimaduras graves e morreu algumas horas após o incidente. A sua companheira, Mercedes Roxana Figueroa, também de 52 anos, morreu dois dias após o ataque, com queimaduras em 90% do corpo. A terceira vítima, Andrea Amarante, morreu na passada segunda-feira (13). A única sobrevivente é Sofia Castro, que se encontra actualmente hospitalizada, mas fora de perigo.

Ao site Presentes, Sergio Araujo, de 36 anos, morador no segundo andar, revelou que, quando viu o fogo, chamou todos “aos gritos”. “Quando desci, vi as raparigas. Fui buscar um extintor ao quarto da minha mãe e entrámos no quarto”, conta o morador, acrescentando que, quando as vítimas estavam a tentar escapar das chamas, o suspeito as empurrou para dentro do quarto, agredindo-as. “Éramos cinco a tentar afastá-lo para que ele não continuasse a bater-lhes”, disse Diego Brítez, outro residente, de 51 anos de idade. Após o ataque, os inquilinos levaram as mulheres para os chuveiros, colocando-as debaixo de água.

O fogo acabou por se alastrar a todo o edifício e outras sete pessoas ficaram feridas. A polícia encontrou Barrientos na casa de banho do segundo andar do edifício com uma serra, com a qual causou ferimentos a si próprio. O suspeito foi preso após receber alta hospitalar e está sob prisão preventiva. O caso está a ser investigado como homicídio e crime de ódio.

Diego Britez conta que o suspeito já tinha ameaçado as vítimas anteriormente. “Ele já as [Pamela e Mercedes] tinha ameaçado uma vez no último Natal. Disse-lhes que as ia matar”, contou ao site Presentes. O inquilino diz ter ouvido várias discussões entre o homem e as vítimas, reconhecendo que Barrientos era preconceituoso com as mulheres devido à sua orientação sexual. “Eles discutiam bastante. Chamava-lhes 'engendros' [expressão espanhola para criatura deformada] por causa da sua condição sexual”, conta Britez.

Foi realizado um protesto em frente ao Congresso Nacional da Argentina na tarde da passada sexta-feira (10). Os organizadores exigiram justiça para as vítimas. Também na segunda-feira (13), no seguimento da morte de Andrea Amarante, realizou-se uma manifestação à frente da Plaza Colombia, em Buenos Aires. Segundo o The Guardian, mais de 200 manifestantes exibiram faixas onde se podia ler “eles mataram-nas” e acusaram o Governo de Javier Milei de promover o escalar do discurso de ódio e da intolerância.

Entre gritos de protesto, um membro de uma associação de moradores falou aos manifestantes. “Elas foram queimadas por serem lésbicas”, afirmou.

A Federação LGBT da Argentina classificou este ataque como “um dos crimes de ódio mais abomináveis dos últimos anos”. Segundo um relatório da federação, “o discurso ofensivo de membros do partido político do Presidente Javier Milei, bem como nas redes sociais e nas ruas, no contexto da campanha presidencial de 2023, construiu um clima de segregação, rejeição e discriminação; o terreno mais fértil para a violência contra grupos historicamente vulneráveis”.

Actualizado às 15h07 com informação sobre os protestos

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