O futuro do comboio pára três dias na festa do Entrelinhas, em Valongo

Durante três dias, Valongo festeja a memória dos caminhos-de-ferro e dos seus ferroviários, numa festa com concertos, gastronomia e exposições. Debate sobre a alta velocidade, dá início à programação.

Foto

O futuro sustentável precisa da ferrovia. Esta é uma certeza de José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara Municipal de Valongo, um concelho que se desenvolveu em torno do caminho-de-ferro, após a abertura da estação ferroviária de Ermesinde, em 1875. É por ali, num “importantíssimo nó ferroviário”, onde se cruzam três linhas (Minho, Douro e Leixões) que, todos os dias passam e param milhares de passageiros e mercadorias. Este património histórico e cultural, com praticamente 150 anos, é homenageado e debatido, entre 17 e 19 de Maio, no Entrelinhas – Festa do Ferroviário, que conjuga animação com concertos, exposições, gastronomia, um concurso de fotografia e até uma mostra turística das linhas do Douro e Minho.

A programação arranca já esta sexta-feira, 17, com a conferência “Desafios da Alta Velocidade”, que se realiza no Fórum Cultural de Ermesinde, a partir das 14h30. Com moderação do jornalista Carlos Cipriano, serão oradores Francisco Fernandes (PLANAPP), João Pereira Fernandes (Infraestruturas de Portugal), Luís Andrade Ferreira (Centro de Competências Ferroviário), Augusto Franco (Nomadtech), Manuel António Pereira (Manutenção em Guifões), Pedro Mêda (Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro). Está também programada a gravação de um episódio do podcast Sobre Carris, do PÚBLICO.

José Manuel Ribeiro, que participa na sessão de encerramento da conferência, considera que a “alta velocidade tem mesmo de ser uma causa nacional até 2030” e para a qual Valongo está disponível para contribuir. O autarca defende “soluções que maximizem o potencial nacional e metropolitano da rede ferroviária que atravessa” o concelho e dá o exemplo da Linha de Leixões. Bastaria, refere, um prolongamento de três quilómetros para lá da estação de Esposade para que o Alfa Pendular chegasse ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro. “A mesma linha pode também servir para recolher ou distribuir os passageiros que utilizarem o futuro comboio de alta velocidade”, explica, sublinhando que esta solução depende de “coragem política e muito pouco investimento na linha de Leixões”.

Foto
José Manuel Ribeiro

Esta linha em concreto é para José Manuel Ribeiro um exemplo paradigmático de “décadas de má gestão urbanística e de ausência de política de transportes” que “é preciso inverter”: “Faz algum sentido que a Linha de Leixões, com os seus dois ramais – que está feita e a funcionar – não tenha serviço de passageiros, nem articulações com outros modos de transporte?”, questiona o autarca, recordando que esta infra-estrutura atravessa uma zona com mais de 250 mil pessoas, passa por espaços industriais, como a Efacec e a Unicer, e junto ao Hospital de São João, ao IPO e ao Pólo Universitário. Também se cruza com quatro linhas do Metro do Porto e entronca nas linhas do Norte, Minho e Douro em Ermesinde, que movimentam 25 milhões de passageiros por ano.

“Com bom material circulante, com ligações ao metro e interfaces rodoviários, com uma frequência de composições aceitável e – muito importante – com uma ligação ao aeroporto, a Linha de Leixões rapidamente se transformaria num sucesso ferroviário nacional”, descreve José Manuel Ribeiro, recordando que o transporte ferroviário é essencial para o cumprimento dos compromissos do Pacto Ecológico Europeu, das exigências da neutralidade carbónica e da transição energética. “O comboio é o transporte de massas que está condenado ao sucesso” e “indispensável para construir um futuro de desenvolvimento sustentável”.

O papel de Valongo será naturalmente debatido durante a conferência que termina pelas 19h e em que intervirão a fechar o director do PÚBLICO, David Pontes e o deputado José Carlos Barbosa, comissário do Entrelinhas – Festa do Ferroviário. A inscrição é obrigatória, através de formulário disponível no site da autarquia.

O Entrelinhas prossegue depois com uma programação que pretende “perpetuar” a ligação deste território e da sua comunidade com a história da ferrovia e dos ferroviários. Além de exposições dentro e fora de portas, a tertúlia “Histórias no Comboio” (a partir das 17h30 de sábado no Fórum Cultural) traz relatos na primeira pessoa.

Até domingo, 19 de Maio, as duas "margens" da Estação de Ermesinde voltam a unir-se com concertos de Cláudia Pascoal, já esta sexta-feira, The Happy Mess, no sábado e Expensive Soul no domingo, sempre às 22h, no Parque Urbano de Ermesinde. Nas três noites da festa, o palco secundário, instalado em Gandra, terá animação do Dj João Dias, assim como actuações de bandas do concelho de Valongo. Estará também aqui a zona de street food.