Vinhos Verdes para dias (e comidas) de sol, pela mão da sommelière Laura Vítor
A sommelière do recém-estrelado Sála, do chef João Sá, em Lisboa, ajuda a escolher vinhos para dias com vista para o Verão.
Antes do vinho, o desporto era a sua vida. Aliás, Maria Laura Vítor pouco compreendia sequer o mundo do vinho quando terminou o curso superior de Desporto, mesmo com o ocasional biscate como empregada de mesa durante os tempos de estudante. Foi em saídas com amigas consumidoras de vinho que começou a interessar-se, a provar aos poucos. O interesse cresceu a tal ponto que, aos 27 anos, deixou a sua Tavira para trás e rumou a Lisboa, para tirar o curso de escanção.
Um par de anos passados, em 2021, terminada a formação, começou a trabalhar na Garrafeira Nacional, que lhe permitiu “consolidar conhecimento”. Saltou depois para o estrela Michelin Eneko (2022), no seu primeiro posto como sommelière, e passou também pelo Anfíbio, oficiava então o chef Miguel Rocha Vieira.
Ao Sála, o restaurante do chef João Sá na Rua dos Bacalhoeiros, chegou em Fevereiro, pouco antes da atribuição da primeira estrela Michelin. “Foi uma semana antes, vi-os a ganhá-la”, enquadra. A minúcia na gestão da carta de vinhos é, também ela, um critério importante para manter entusiasmados os inspectores do Guia Vermelho. O propósito é “trabalhar também com pequenos produtores. E inovar, mudar regularmente, garantir que há sempre novas referências, deixando de lado as marcas que se vendem sozinhas.”
A carta não é muito extensa, mas oferece um voo rasante sobre quase todas as regiões portuguesas, mais algumas “obrigatoriedades” internacionais. A região dos Vinhos Verdes também tem o seu lugar, em meia dúzia de referências que “têm muita importância, porque o menu é maioritariamente de peixe e marisco”, território fértil para maridagens com brancos elegantes e acidez equilibrada.
Não se espere, portanto, as referências óbvias. E aí está parte do desafio e do encanto da profissão de Laura. “Uma das coisas de que mais gosto é quando os clientes chegam e dizem que não conhecem quase nada da carta”, admite. “Pois bem, aqui estou eu para ajudar.”
O tempo quente traz a apetência por sopas frias. Que Vinhos Verdes lhes dão bom acompanhamento?
As sopas frias, geralmente, têm sabores frescos, texturas mais suaves e uma acidez equilibrada. Vinhos de alvarinho ficam muito bem – a casta é caracterizada pela sua frescura, acidez, complexidade aromática e mineralidade.
Recomendo o Quinta das Alvaianas Alvarinho 2021, da sub-região de Monção e Melgaço. É um vinho sem madeira, bastante aromático, cítrico, com notas de fruta de caroço e muita mineralidade, frescura e acidez. Caracteriza bem um alvarinho.
A minha outra recomendação é o Sou Alvarinho 2021, feito por Nuno Mira do Ó e Joana Santiago, também na sub-região de Monção e Melgaço. Este já tem alguma estrutura, é um vinho mais complexo, de aromas cítricos, florais, alguma fruta de caroço, mineralidade e a frescura, sempre a frescura, predomina. É um vinho com mais textura, volumoso na boca, e de acidez bem balançada.
Falando agora de churrascos. O que vai bem com febras, entremeadas, salsichas frescas?
O Aphros Vinhão 2021, da sub-região do Lima, por exemplo. Tem um carácter frutado – fruta de bosque, alguma fruta preta. Também um pouco de vegetal, que deve ter que ver com a parte da vinificação, o uso do engaço, mas tem os taninos bastante polidos. Além disso, tem corpo e uma acidez vibrante que ajuda a limpar a gordura da carne.
Outra opção: o Pequenos Rebentos Ancestral 2021, um pét-nat de loureiro feito por Márcio Lopes na sub-região do Lima. É ligeiramente espumoso, com bolha fina, e tem aromas florais e cítricos. É bastante refrescante e com acidez harmoniosa. As bolhas ligam sempre bem com tudo.
Por fim, que vinhos combinam com finais de tarde entre amigos, a ver o sol pôr-se no mar?
O Ensaios Soltos Loureiro 2022 do Márcio Lopes, sub-região Lima. Um loureiro fresco, sem estágio em madeira, bastante floral, mineral e de acidez equilibrada – vai ligar muito bem com a ocasião.
Para segunda opção, algo mais gastronómico, um vinho que gosto muito de beber: o Esculpido 2020, da Quinta de Santa Teresa, na sub-região de Baião, um vinho bastante guloso proveniente de vinhas velhas de avesso. Tem algum estágio em madeira, que vai conferir-lhe mais corpo. A casta avesso é por si aromática, com notas de fruta tropical, fruta de caroço branca, e também alguma especiaria. Gera vinhos com mais untuosidade, textura aveludada, acidez equilibrada. O Esculpido precisa de comida, mas também se consegue beber só com boa companhia. Liga muito bem com amigos e pôr-do-sol.
Depoimento recolhido e editado por João Mestre
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Este artigo foi publicado na edição n.º 12 da revista Singular.
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