Banco de Portugal confirma prejuízo de 1054 milhões

Em 2022, Centeno já tinha avisado e agora confirmou: subida dos juros colocou as contas do BdP em terreno negativo no ano passado. Com as provisões acumuladas a compensar, resultado líquido foi nulo

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Mário Centeno, governador do Banco de Portugal Ricardo Lopes
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Confirmando aquilo para o qual já tinha alertado no ano passado, e que foi entretanto noticiado há um mês, o Banco de Portugal anunciou esta quinta-feira que o ano de 2023 foi de prejuízos de dimensão inédita nas suas contas, que tiveram de ser compensados com o recurso às provisões acumuladas ao longo dos últimos anos.

De acordo com o relatório do conselho de administração do Banco de Portugal (BdP) agora publicado, o banco central registou, durante o ano passado, resultados negativos antes de provisões de 1054 milhões de euros, interrompendo, deste modo, uma sequência de lucros muito significativos que se vinham registando já há mais de uma década.

Os lucros dos anos passados permitiram ao banco liderado por Mário Centeno ir acumulando provisões para riscos gerais, que, agora, perante o prejuízo registado, foram utilizadas precisamente no valor de 1054 milhões de euros, fazendo com que o resultado líquido do Banco de Portugal em 2023 acabe por ser nulo.

O resultado negativo agora tornado oficial já era há muito esperado. No ano passado, quando apresentaram os resultados referentes a 2022, os responsáveis do banco central já tinham alertado para a inevitabilidade de, em 2023, num cenário de forte subida das taxas de juro, os resultados virem a ser negativos.

A subida das taxas decidida pelos próprios bancos centrais fez com que os juros a pagar pelas autoridades monetárias europeias pelos depósitos feitos pelos bancos e os Estados disparasse muito rapidamente, algo que não aconteceu de forma tão imediata com os juros a receber pelos bancos centrais com os títulos de dívida pública que detém em grandes quantidades nos seus balanços.

Deste modo, enquanto as taxas de juro estiveram baixas, a política monetária de compra de dívida pública conduziu a que os bancos centrais registassem lucros acentuados. Agora, que as taxas de juro subiram, o que acontece é a apresentação de resultados negativos também de grande dimensão.

A generalidade dos bancos centrais da zona euro euro, incluindo o Banco Central Europeu (BCE), tem vindo a apresentar prejuízos muito significativos relativos ao exercício de 2023.

No caso do Banco de Portugal, detalha o relatório divulgado esta quinta-feira, o prejuízo antes de provisões de 1054 milhões de euros é, sobretudo, o resultado de uma forte deterioração da margem de juros, que em 2022 tinha sido positiva em 582 milhões de euros, mas que em 2023 passou a ser negativa em 666 milhões de euros. De igual modo, o resultado líquido da repartição do rendimento monetário, que tinha sido positivo em 109 milhões de euros, passou a ser negativo em 184 milhões de euros.

Com um efeito marginal nas contas, os gastos de natureza administrativa subiram de 196 milhões de euros para 197 milhões de euros. O aumento de 0,8% é destacado pela administração do banco como revelando, numa fase de inflação alta, bastante “contenção”, com particular destaque para a redução, de 131 para 125 milhões de euros, dos gastos com pessoal.

Apesar de terem sido agora gastos 1054 milhões de euros, para o futuro, o Banco de Portugal conta ainda com um montante de provisões para riscos gerais de 2857,7 milhões de euros (2,8 mil milhões de euros), algo que, dizem os responsáveis do banco, “permite continuar a cumprir os objectivos estratégicos de cobertura de risco definidos pelo conselho de administração”.

O banco central manifesta também a expectativa de que, com a esperada descida progressiva das taxas de juro dos máximos atingidos em Setembro, os resultados registem uma melhoria ao longo dos próximos anos.

Em meados de Abril, algumas semanas após o Banco de Portugal ter entregado a sua proposta de distribuição dos resultados ao Ministério das Finanças, foram divulgadas notícias sobre o prejuízo atingido nas contas de 2023. Nessa altura, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, disse ter recebido essa notícia com “surpresa, espanto e preocupação”.

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