Ensinar a missa ao padre

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Há uma espécie de pudor ou complexo de culpa nos nossos políticos que os faz, sempre que abordam as políticas públicas do desporto, terem de discorrer sobre a importância e vantagens da sua prática. E procuram impressionar com tantos que são os seus benefícios sociais num incontido rol, mesmo alguns sem evidência empírica ou científica. Como é óbvio, sobra em benefícios o que falta em políticas públicas.

Um exemplo acabado deste entendimento foi a intervenção pública do primeiro-ministro na cerimónia de aniversário da Associação de Atletas Olímpicos de Portugal (AAOP) em que discorreu longamente sobre a importância do desporto. Não há plateia que se não reveja e delicie neste registo que, infelizmente, longe de valorizar o desporto o banaliza a um exercício retórico. Já levamos suficientes anos de vida para saber o que a casa gasta. E já não há paciência!

É raro que titulares das diferentes áreas governamentais não tenham esta necessidade de falarem, não das políticas que propõem ou garantem para os respectivos sectores, mas sobre questões doutrinárias ou ideológicas que são sobejamente conhecidas e reconhecidas em qualquer parte do mundo esclarecido.

O que se espera dos responsáveis políticos, e sobretudo do primeiro-ministro, é que anuncie as medidas políticas para os diferentes sectores do sistema desportivo, como pretende liderar as políticas públicas para o desporto e não uma lição sobre a importância do desporto. Porque neste caso é como ensinar a missa ao padre.

É não tanto pelo que disse, mas também pelo que omitiu que a intervenção do primeiro-ministro na referida cerimónia não pode deixar de ser objecto de surpresa e, por isso, de reparo.

Em primeiro lugar, a sinalização de aspectos do sistema desportivo que carecem de reformulação não suscita reservas e é, no essencial, consensual. Sempre o foi. Aguardam-se as propostas políticas. A sua simples invocação não é um factor diferenciador de governações anteriores. Para não ser chover no molhado que se anunciem as medidas.

Depois, e a cerca de três meses dos Jogos Olímpicos de Paris e dirigindo-se a uma cerimónia de atletas olímpicos, surpreendentemente não encontrou, no seu discurso, espaço para uma palavra dirigida aos atletas em preparação desportiva e respectivas estruturas de apoio e enquadramento – federações e treinadores -, uma ausência que não pode deixar de se registar e lamentar.

Esquecimento que não foi único, que o diga a campeã olímpica presente.

Não foi um bom pontapé da saída.

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