A geração Z pró-UE lidera os protestos contra “agentes estrangeiros” na Geórgia

Os jovens querem a Geórgia na União Europeia e estão a protestar quase todas as noites contra o projecto de lei a que chamam “lei russa”.

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Manifestantes com bandeiras durante uma manifestação contra um projeto de lei sobre "agentes estrangeiros" em Tbilisi, Geórgia Irakli Gedenidze
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Para Irakli, um estudante georgiano de 20 anos, as deslocações quase diárias para protestar à porta do Parlamento fazem parte de uma luta mais vasta em que ele e a sua geração têm um papel especial a desempenhar.

Durante semanas, o estudante de Relações Internacionais e os colegas juntaram-se às grandes multidões que protestam contra o projecto de lei sobre "agentes estrangeiros", aprovado na terceira e última leitura no Parlamento, na terça-feira.

"Todos os acontecimentos importantes da nossa história, da história da Geórgia foram dominados por jovens", disse Irakli à Reuters, no exterior do campus principal da Universidade Estatal de Tbilisi, onde centenas de estudantes abandonaram as aulas em protesto esta semana.

"É uma tradição da Geórgia", explica, citando o movimento nacionalista juvenil que promoveu a independência do país, antes do colapso da União Soviética em 1991.

Desde que o governo da Geórgia anunciou, em Abril, que ia relançar um projecto de lei que obrigaria as ONG a identificarem-se como agentes estrangeiros se recebessem mais do que 20% do seu financiamento do estrangeiro, os adolescentes e jovens adultos (na casa dos 20 anos) da Geórgia têm estado na linha da frente da oposição.

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Irakli Gedenidze

Embora a oposição ao projecto de lei seja transversal a todos os grupos etários, os georgianos mais jovens têm sido especialmente visíveis e expressivos. Na segunda-feira, 13 de Maio, estudantes de uma série de instituições de ensino em todo o país disseram que iriam aderir a uma greve académica, exigindo a revogação da lei.

O projecto de lei foi apelidado de "lei russa" pelos opositores, que o comparam à legislação utilizada pelo Kremlin na última década para reprimir os opositores. O partido no poder, Sonho Georgiano, afirma que a lei é necessária para promover a transparência, combater os "valores pseudoliberais" promovidos por estrangeiros e preservar a soberania do país. A União Europeia diz que será um obstáculo à adesão da Geórgia ao bloco. A Geórgia tem estatuto de país candidato desde Dezembro. A perspectiva de adesão à UE é muito popular na Geórgia, e o partido no poder afirma que quer que o país adira à UE e à NATO, apesar da recente retórica antiocidental.

Mas para muitos dos jovens manifestantes, a luta representa uma escolha difícil sobre se a Geórgia deve integrar-se na Europa ou reconstruir os velhos laços com a Rússia.

Choque de gerações

Laliko, um estudante do primeiro ano de Ciências Informáticas que abandonou a sala de aulas na Universidade Estatal de Tbilisi em protesto, disse que a oposição à lei era necessária "para nos permitir ter o futuro europeu que queremos e que merecemos". Ao contrário dos georgianos mais velhos, que conservam uma certa nostalgia em relação à União Soviética, os georgianos mais jovens têm menos laços sentimentais com a Rússia.

Tendo crescido num período em que a Rússia impunha um regime rigoroso de vistos aos georgianos, são relativamente poucos os que alguma vez fizeram a curta viagem ao vasto vizinho do norte ou falam a língua. Muitos falam bem inglês e alguns viajaram pela UE graças a um regime de isenção de vistos para os georgianos, o que os torna mais inclinados a ver o futuro do seu país interligado com a Europa.

Zurab Japaridze, 48 anos, líder do Girchi - Mais Liberdade, um partido pró-UE libertário com uma maioria de jovens e que tem apoiado os protestos, afirmou que a actual crise da Geórgia reflecte um choque de gerações. "De certa forma, temos um conflito de gerações, em que a geração mais nova está mais disposta e ansiosa e pronta para lutar pela sua liberdade, enquanto a geração mais velha tem uma espécie de nostalgia dos tempos soviéticos."

Mas se a geração Z da Geórgia é clara na sua aversão ao governo, poucos são os que se convencem das principais alternativas. Os partidos da oposição da Geórgia, divididos e fragmentados, continuam a ser dominados pelo partido do Movimento Nacional Unido (MNU) do ex-Presidente Mikheil Saakashvili, que está actualmente a cumprir uma pena de prisão de seis anos por abuso de poder.

Mas embora Saakashvili, que liderou a Geórgia de 2003 a 2013, continue a ser uma figura profundamente polarizadora entre aqueles que viveram sob o seu governo, muitos georgianos mais jovens têm poucas recordações do seu mandato. A estudante Linako Giunashvili disse que detestava o UNM e que queria uma maior escolha política. "Queremos votar em muitos, muitos partidos. Quanto mais partidos houver no Parlamento, mais vozes serão ouvidas", disse.

Japaridze disse que muitos dos jovens que se arriscaram a ser presos nos protestos nocturnos tinham pouco interesse na política formal da oposição do país. "Não são membros nem apoiantes de nenhum partido político", disse. "Mas sabem o que querem. Querem a Geórgia na UE e estão prontos a lutar por isso."