Das cheias à escassez de água, os países europeus têm de se preparar com urgência

Agência europeia alerta que tanto inundações como escassez de água serão fenómenos cada vez mais frequentes. Com as alterações climáticas, também os problemas com qualidade da água vão aumentar.

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Em Dezembro de 2022, Loures foi uma das localidades afectadas pelas fortes chuvas que causaram inundações Guillermo Vidal
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A Agência Europeia do Ambiente (AEA) recomenda a limitação do desenvolvimento das cidades em áreas mais susceptíveis a cheias e inundações, que deverão ser cada vez mais habituais por causa das alterações climáticas. Nas conclusões do relatório sobre riscos relacionados com inundações e escassez de água nos países europeus, divulgado esta quarta-feira, a Agência Europeia do Ambiente recomenda a "redução da exposição humana a perigos existentes" relacionados com estes fenómenos.

"Isto pode ser feito através de várias acções, como a redução do desenvolvimento [de construções] em áreas de alto risco de cheias, escassez de água, vulnerabilidade a incêndios e erosão costeira, e reconsiderando a relocalização destas áreas", dá conta o relatório de 175 páginas.

A publicação do relatório coincide com o anúncio da localização do futuro Aeroporto de Lisboa na zona de Alcochete, que coloca alguns riscos para o aquífero do baixo Tejo e Sado, mas que deixa para trás os planos de localização do Montijo, onde a infra-estrutura estaria numa zona vulnerável à subida do nível das águas do mar.

Segundo a Agência Europeia do Ambiente, 12% da população europeia vive em regiões com probabilidade de cheias e 11% dos hospitais estão nestas áreas, enquanto 30% da população no sul da Europa vive em áreas com escassez de água e em constante pressão pela falta de água. A agência europeia contabilizou também que 15% das infra-estruturas industriais estão em zonas de risco de cheias. Entre 1980 e 2022, na Europa, morreram 5582 pessoas na sequência de cheias.

Secas e incêndios

A Agência Europeia do Ambiente reforça que, devido à procura de água e às secas, as regiões da Europa estão "sujeitas a um stress hídrico quase permanente, e não apenas nos países do Sul". Nos últimos anos, Portugal tem registado uma situação de seca extrema persistente em várias regiões do país, nomeadamente no Alentejo.

"Os agricultores são um grupo particularmente exposto aos riscos para a saúde e o bem-estar associados às secas e à escassez de água, nomeadamente através de perdas económicas", refere o relatório.

A AEA cita um relatório publicado já em 2019 que revelava que as explorações agrícolas em Itália, Grécia, Portugal, sul de França e Espanha poderiam sofrer "perdas de valor até 9% com um aumento de 1°C nas temperaturas globais". De acordo com estas projecções da AEA, prevê-se que "o valor das terras agrícolas nas regiões do Sul da Europa diminua mais de 80% até 2100".

Os períodos prolongados de tempo seco e quente facilitam ainda a propagação de incêndios florestais, principalmente no Sul da Europa, "mas cada vez mais noutras regiões". Entre 1980 e 2022, refere a AEA, 702 pessoas perderam a vida devido a incêndios florestais nos 32 países monitorizados pela agência, e muitas mais foram afectadas pelo fumo dos incêndios florestais.

Agir preventivamente

Além da seca e dos incêndios, que afectam de forma mais intensa as zonas rurais e do interior, Portugal também se depara com problemas relacionados com cheias e inundações. Cidades como Lisboa, com lacunas no planeamento urbano, acabam por ficar altamente condicionadas por cheias. No final de 2022 e em Março de 2023, várias partes da região de Lisboa, incluindo Alcântara e algumas partes de Loures e Algés, ficaram completamente intransitáveis por causa da chuva e das inundações.

Ao longo do relatório divulgado esta quarta-feira, a Agência Europeia do Ambiente adverte várias vezes que as autoridades nacionais têm de ter em conta os efeitos das alterações climáticas e começar a agir de acordo com os fenómenos climáticos adversos que registaram.

Em simultâneo, a nível europeu, a agência considera que as políticas para mitigar os efeitos das alterações climáticas também ajudarão a reduzir parte do risco para as populações. Por um lado, a AEA alerta para a importância de assegurar a segurança das pessoas em situações como incêndios ou cheias. Mas é preciso agir, por exemplo, para prevenir a contaminação de aquíferos através de infiltrações ou da salinização que pode ocorrer decorrente da subida do nível das águas do mar. Com Lusa