Apelo à solidariedade: a recuperação do Hospital de Ponta Delgada

Inexplicavelmente, o país ainda não despertou para a magnitude deste terrível evento, nem compreendeu plenamente o impacto devastador e o colossal esforço que agora se impõe.

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Num momento de fé, enquanto os corações dos fiéis se elevavam no início de uma missa no Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, uma das celebrações mais emblemáticas de Ponta Delgada, um incêndio devastador irrompia no Hospital do Divino Espírito Santo. As chamas, o fumo e os gases de combustão espalharam-se rapidamente pelos corredores, salas e internamentos do hospital. Às 9h45, no sábado 4 de maio, com coragem e determinação, foi ativado o plano de contingência, iniciando uma evacuação global –​ doentes, profissionais, equipamentos, materiais e consumíveis foram transferidos com urgência.

A resposta foi imediata, marcada por uma operação de transferência complexa, porém segura. Duzentos e quarenta doentes encontraram lugar em outras unidades de saúde da ilha, enquanto 93 tiveram o conforto de regressar seguros ao seu domicílio. A evacuação exigiu uma coordenação exemplar, numa sintonia de liderança, organização, participação e esforços concentrados.

A qualidade da resposta manteve, tanto quanto possível, os parâmetros de qualidade, segurança das pessoas e humanização dos cuidados.

Este evento crítico destacou a importância do suporte das lideranças políticas e institucionais em tempos de crise, mas sobretudo demonstrou, mais uma vez, a enorme capacidade, dedicação e entrega dos médicos e de todos os outros profissionais, perante um acontecimento de catástrofe. Sem hesitação, nem contrariedade, todos acorreram na missão de salvar vidas, amenizar sofrimento e evitar uma tragédia maior.

A solidariedade e união demonstradas pela comunidade açoriana e pelos profissionais de saúde frente ao desastre no hospital ilustraram na perfeição o altruísmo e o trabalho em equipa em tempos de crise.

Inexplicavelmente, o país ainda não despertou para a magnitude deste terrível evento, nem compreendeu plenamente o impacto devastador e o colossal esforço que agora se impõe.

A solidariedade não se manifesta apenas em palavras de apoio ou intenções, ela requer ações concretas e determinantes. Não tenho dúvidas que um acontecimento semelhante no continente teria tido uma outra reação nacional, mais imediata e global.

Não devemos manter esta indiferença. O Hospital de Ponta Delgada, mais do que um hospital distrital, é um hospital nacional essencial que necessita urgentemente de ser revitalizado com recursos humanos adequados, capacidade de diferenciação e apoio financeiro nacional e europeu para a sua completa recuperação. Somente com a união de todos poderemos garantir que esta unidade hospitalar continue a cumprir a sua missão essencial de cuidar e salvar vidas. Há momentos em que a ajuda do poder central e da Europa é essencial, no seu apoio político, financeiro, técnico e material; este é seguramente uma oportunidade solidária que não deve ser ignorada.

Expresso aqui a minha mais profunda admiração e gratidão pelo trabalho, entrega e altruísmo dos profissionais de saúde que, uma vez mais, em plena adversidade, se destacaram pelo seu compromisso ético e incansável dedicação humanista.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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