Dona da Peugeot vai vender eléctricos chineses Leapmotor em Portugal

Lançamento europeu será feito com dois modelos, a partir de Setembro, e inclui nove países europeus. Stellantis admite produção na Europa, para evitar taxas de importação.

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Carlos Tavares, presidente da Stellantis Sérgio Azenha (arquivo)
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O grupo Stellantis, dono da Peugeot (líder de mercado em Portugal) e de outras 13 marcas de carros - bem como da fábrica de Mangualde que produziu 84 mil unidades no distrito de Viseu em 2023 -, vai vender, a partir de Setembro, dois modelos de carros eléctricos da chinesa Leapmotor no mercado nacional e mais oito países europeus.

O anúncio foi feito nesta manhã, numa conferência realizada na China, com o português Carlos Tavares, presidente da Stellantis, a mostrar resultados da parceria com a Leapmotor, selada em Outubro do ano passado.

"O nosso objectivo comum é garantir que alargamos os veículos de zero emissões de carbono ao maior número de pessoas possível, a custo acessível", disse o líder do grupo francês, que produz modelos de quatro marcas em Portugal (Peugeot, Citroën, Fiat e Opel).

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Carlos Tavares e Zhu Jiangming, nesta terça-feira na China. Stellantis e Leapmotor acertaram a criação de uma "joint venture" em Outubro de 2023 Stellantis/DR

Esta expansão chinesa promovida por um dos grandes grupos europeus terá início em Setembro, mas ainda não é certo que os dois modelos iniciais, o TO3 (um pequeno citadino com 265 km de autonomia eléctrica) e o C10 (um SUV familiar com 420 km de autonomia), estejam logo disponíveis nesse mês em Portugal, embora seja garantido que a comercialização estará em marcha ainda em 2024.

Para já, segundo Tavares, está em causa apenas a venda da Leapmotor, através de uma nova subsidiária chamada Leapmotor International (em que a Stellantis detém 51%) e a assistência pós-venda fora da China.

Porém, "se fizer sentido", também a produção pode vir a ser assegurada em fábricas da Stellantis na Europa. A escolha destas fábricas seria feita com base na qualidade e no custo, acrescentou.

Essa seria a solução para, por exemplo, lidar com custos agravados em taxas de importação, já que o objectivo da joint venture entre Stellantis e Leapmotor é acelerar a venda de eléctricos mais acessíveis no mercado europeu.

Apesar de questionado, Tavares não detalhou o intervalo de preços destes dois modelos. Face à mesma pergunta, o fundador e presidente da Leapmotor indicou que o TO3 vai estar a competir no mesmo terreno do Fiat 500 (cuja versão híbrida está no mercado a partir de 28 mil euros).

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O modelo TO1 concorre com o Fiat 500 DR

Já os concorrentes directos do C10 são dois modelos da Tesla (o Model Y, cujo preço começa nos 45 mil euros, e o Model 3, à venda a partir dos 40 mil euros) e o Volkswagen ID.4 (à venda a partir dos 48 mil euros).

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O modelo C10, da Leapmotor, concorre com o VW ID.4 e os Tesla Y e 3 DR

Depois da apresentação geral, Tavares deu mais detalhes sobre a estratégia de preços. Numa conferência mais restrita, o patrão da Stellantis vincou que a estratégia deste grupo, também seguida na Leapmotor International, está centrada na disponibilização à classe média de soluções de baixas emissões de carbono e para isso é preciso cuidar do preço, já que o consumidor europeu "decide sempre em favor do preço".

"Veja-se o que aconteceu com o fim dos apoios públicos à compra de eléctricos na Europa. Com o fim dos incentivos, as vendas caíram", observou.

Tavares acrescentou que não quer deixar aberta a faixa em torno dos 20 mil euros em que se centram os preços de entrada de outras marcas chinesas já presentes nos mercados europeus.

Além de Portugal, esta aposta comercial começará por mais oito países europeus: Bélgica, Itália, Alemanha, Grécia, Países Baixos, Roménia, Espanha e França, país que o Presidente chinês, Xi Jinping, visitou na semana passada, na sua primeira visita deslocação à Europa nos últimos cinco anos.

A comercialização na Europa aproveitará a actual rede comercial do grupo Stellantis. O objectivo é chegar aos 200 pontos de venda no continente até ao final do ano. Em 2026, serão 500, anunciou a empresa em comunicado.

Depois da Europa, seguir-se-á a expansão para outras regiões, no final de 2024, nomeadamente Médio Oriente & África (Turquia, Israel e ilhas francesas), a América do Sul (Brasil e Chile), Índia e Ásia Pacífico (Austrália, Nova Zelândia, Tailândia e Malásia).

Os EUA não são uma prioridade, acrescentou Tavares.

Nesta altura, não haverá transferência de tecnologia entre os dois parceiros. Trata-se de uma simples colaboração comercial, cujos lucros engrossarão os resultados do grupo de origem francesa, anotou também.

Os chineses querem lançar no mercado dois a três modelos por ano, na China. A Leapmotor nasceu no final de 2015, entregou o seu primeiro carro em 2019 e entregou 144 mil veículos em 2023. Está sediada em Hangzhou, capital da província de Zhejiang, no extremo Sul do país e a cerca de 1200 km a sul de Pequim.

Além da joint venture com a Leapmotor, a Stellantis adquiriu cerca de 20% do parceiro chinês, por 1500 milhões de euros, em Outubro de 2023. Um investimento considerável com os olhos postos no mercado chinês, o maior à escala mundial e aquele que mais rapidamente cresce em veículos eléctricos.

Nenhum dos modelos da Leapmotor está, no entanto, na lista dos 20 mais vendidos naquele mercado, dominado pela BYD, cujo campeão de vendas registou mais de 600 mil unidades comercializadas em 2023 na China.

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