Segredo sexual de Trump podia ter sido “catastrófico” para a sua eleição em 2016

Julgamento do ex-Presidente dos Estados Unidos entra numa fase decisiva com o depoimento do seu antigo advogado, Michael Cohen, condenado em 2018 num processo paralelo.

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Cohen, um antigo advogado de Trump, foi condenado a três anos de prisão em 2018 Jonathan Ernst / REUTERS
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O advogado que pagou 130 mil dólares (121 mil euros) a uma antiga actriz de filmes pornográficos, antes da eleição presidencial de 2016 nos Estados Unidos, para a impedir de revelar um encontro sexual com Donald Trump, afirmou esta segunda-feira, em tribunal, que a divulgação desse segredo antes da ida às urnas teria sido "catastrófica" para as aspirações políticas do ex-Presidente dos EUA.

Michael Cohen, um advogado que trabalhou como conselheiro e homem de mão de Trump entre 2006 e 2018, é a principal testemunha de acusação no julgamento em que o ex-Presidente dos EUA é acusado de falsificação dos registos financeiros da sua empresa, a Trump Organization.

Segundo a acusação, Trump cometeu um crime de falsificação, em 2017, ao registar o reembolso do pagamento feito por Cohen como simples despesas de representação do advogado. Ainda segundo a acusação, a falsificação teve como objectivo mascarar um outro crime — o de interferência ilegal na campanha de 2016 através do pagamento pelo silêncio da antiga actriz no centro do caso, Stormy Daniels.

Para obterem a condenação de Trump, os procuradores de Manhattan têm de convencer os 12 jurados — através de testemunhos como os de Cohen e de Daniels, e também da apresentação de provas, como cheques e gravações de conversas telefónicas — de que o ex-Presidente dos EUA esteve envolvido na falsificação e que a sua intenção era esconder o rasto do pagamento pelo silêncio de Daniels.

Para que isso aconteça, é importante estabelecer, em tribunal, que Trump sentiu a ameaça da divulgação do encontro sexual com Daniels como um possível golpe mortal para a sua candidatura — o que foi confirmado, esta segunda-feira, por Cohen.

Há duas semanas, o antigo patrão do tablóide National Enquirer, David Pecker, disse em tribunal que fez um acordo com Trump e Cohen, no Verão de 2015, para detectar e silenciar informações que pudessem prejudicar a candidatura do republicano — e afirmou que o pagamento a Daniels, e a pelo menos outras duas pessoas, foi feito no âmbito desse acordo.

Na semana passada, a directora da campanha de Trump em 2016, Hope Hicks, disse que a divulgação pelo Washington Post, a poucas semanas da eleição desse ano, de uma gravação em que Trump era ouvido a gabar-se de forçar contactos sexuais com mulheres, causou alarme na sua equipa.

O testemunho de Hicks é importante porque o pagamento feito por Cohen a Daniels aconteceu já depois da divulgação da gravação do Washington Post e a poucos dias da eleição presidencial — o que dá consistência à ideia de que Trump quis manter a história de Daniels em segredo para não prejudicar ainda mais as suas hipóteses de vitória.

Em 2018, Cohen foi condenado a três anos de prisão num caso relacionado com o que está em curso em Nova Iorque.

Nesse processo, que foi liderado pelo Departamento de Justiça dos EUA, e não pelo Ministério Público de Manhattan (pelo que Trump não podia ter sido alvo de qualquer acusação criminal, por ser na altura o Presidente dos EUA em exercício), o advogado foi considerado culpado de vários crimes de fraude fiscal e bancária e também de ter excedido os limites de financiamento individual das campanhas eleitorais, ao pagar 130 mil dólares pelo silêncio de Daniels para evitar que os eleitores tivessem acesso a uma informação importante para a decisão de voto.

No caso que está agora a ser julgado em Manhattan, a acusação alega que Cohen agiu com o conhecimento de Trump e sob as ordens dele quando pagou a Daniels. Foi na altura do reembolso, segundo a acusação, que Trump cometeu o único crime de que é acusado: falsificação dos registos financeiros da sua empresa.

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