Orcas afundam veleiro no estreito de Gibraltar, o primeiro caso deste ano

Interacções entre orcas e embarcações ao longo da costa da Península Ibérica provocaram sete naufrágios desde 2020.

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Comportamento das orcas ibéricas continua por explicar ENRIQUE MARCARIAN
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Um grupo de orcas ibéricas afundou na manhã deste domingo um veleiro no estreito de Gibraltar, em águas marroquinas, informaram esta segunda-feira as autoridades de resgate marítimo espanholas.

O Alboran Cognac, veleiro de 15 metros de comprimento, cruzou-se com as orcas pelas 9h locais (8h em Lisboa). Os tripulantes a bordo, citados pela imprensa espanhola, relatam ter sentido pancadas repentinas no casco da embarcação, que causaram danos no leme e uma infiltração de água.

Alertados os serviços de emergência de Marrocos, os dois tripulantes foram resgatados cerca de uma hora após o incidente por um petroleiro que navegava próximo do local e que os levou até Gibraltar. O veleiro foi deixado à deriva e acabou por se afundar.

Este é o mais recente de uma série de episódios semelhantes envolvendo orcas no estreito de Gibraltar e ao largo da costa Oeste da Península Ibérica.

Os especialistas que estudam o comportamento destes cetáceos acreditam que as responsáveis pelo incidente deste domingo tenham sido as orcas ibéricas, conhecidas como orcas do estreito de Gibraltar e do golfo de Cádis — uma subpopulação de 15 indivíduos, entre cerca de 40 que têm o seu habitat na costa atlântica portuguesa e espanhola.

Há mais de uma década que as orcas ibéricas estão protegidas e classificadas como "vulneráveis" pelo Governo espanhol. A Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza considera esta subpopulação “criticamente em perigo” de extinção.

De acordo com os dados mais recentes do Atlantic Orca Working Group (GTOA), que monitoriza as populações de orcas ibéricas, foram registadas pelo menos 673 destas interacções desde Maio de 2020, altura em que o comportamento fora do comum foi comunicado pela primeira vez. No total, os encontros com orcas já provocaram sete naufrágios (cinco veleiros e dois barcos de pesca marroquinos).

Ainda não há consenso sobre o que motiva este comportamento, mas há algumas hipóteses apontadas: uma manifestação de curiosidade dos mamíferos; uma brincadeira; uma reacção ao medo; ou, numa teoria que parece menos provável, um ataque deliberado ao que consideram ser um rival na procura da sua presa favorita: o atum-rabilho atlântico, também em extinção.

Embora não exista um padrão comum a todas as interacções, estes cetáceos da família dos golfinhos costumam aproximar-se das embarcações, a maior parte veleiros, sem que os tripulantes se apercebam, começando depois a dar pancadas no leme de forma insistente. Os encontros são mais frequentes entre os meses de Abril e Agosto.

Esta segunda-feira, o Governo espanhol lembrou que as orcas são uma espécie protegida e que nenhum dano lhes deve ser causado. Caso uma embarcação as encontre, deve alertar as autoridades do território mais próximo e evitar parar, dirigindo-se de imediato a águas menos profundas.

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