Operação Bilhete Dourado. Milhares de bilhetes apreendidos e 13 arguidos em buscas da PSP ao FC Porto

Em causa está a suspeita de um esquema de venda de bilhetes que servia como “moeda de troca” pelo apoio dos Super Dragões. Com Madureira na prisão, filha continuou negócio. Até a bisavó ajudava.

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O Futebol Clube do Porto diz que e se compromete a prestar todo e qualquer apoio às autoridades no desenrolar das suas diligências MANUEL FERNANDO ARAUJO / LUSA
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Foi o próprio Futebol Clube do Porto que revelou na manhã deste domingo, através de um comunicado publicado no seu site oficial, que estava a ser alvo de buscas. "O Futebol Clube do Porto informa que estão a decorrer buscas numa das participadas do grupo, a Porto Comercial, e na loja do Associado no Estádio do Dragão, e desde já compromete-se a prestar todo e qualquer apoio às autoridades no desenrolar das suas diligências", lia-se no comunicado do clube.

Fonte oficial da PSP confirmou que, de facto, as buscas começaram às 7h e estavam relacionadas com uma certidão extraída da Operação Pretoriano que levou à detenção, a 31 de Janeiro, de Fernando Madureira, o líder da claque dos Super Dragões.

A mesma fonte referiu que as buscas abrangiam vários locais nos concelhos do Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos e que as diligências foram ordenadas pelo Ministério Público (MP) e pelo juiz de instrução criminal, estando a ser executadas pela Divisão de Investigação Criminal da PSP do Porto, com o apoio operacional de várias valências daquela polícia, inclusivamente da sua Unidade Especial de Polícia (UEP).

A operação, denominada Bilhete Dourado, visou a execução de 14 mandados de busca domiciliária e quatro mandados de busca não domiciliária. Entre os alvos estiveram vários elementos da família de Fernando Madureira, que está em prisão preventiva, nomeadamente, os sogros, pais da mulher Sandra Madureira, a filha Catarina Madureira, assim como outros elementos ligados ao Grupo Porto, entre eles Rui Lousa, administrador da Porto Comercial, e Cátia Guedes, funcionária da loja do Associado que lidera a operação de emissão de bilhetes, e Fernando Saul, oficial de ligação aos adeptos. Outra das buscadas foi Maria Júlia Silva, bisavó de Catarina, cuja presença junto ao contentor dos Super Dragões para ajudar a bisneta na venda de bilhetes para os jogos do FC Porto foi detectada pela PSP.

Em causa está a suspeita de um esquema criminoso, "altamente rentável" relacionado com a distribuição e venda da bilhética associada ao Futebol Clube de Porto, envolvendo funcionários do clube e vários elementos que integram um dos seus Grupos Organizados de Adeptos, nomeadamente os Super Dragões, cujo líder, Fernando Madureira, era o principal beneficiário. O MP suspeita que este esquema contribuiu para um alegado enriquecimento ilícito da família Madureira, não só à custa do património do FC Porto, mas também do Estado, mas que seria conhecido e aceite no seio do clube porque funcionava como “moeda de troca” pelo apoio dos Super Dragões.

Com Fernando Madureira detido, a venda dos ingressos de jogos terá passado a ser liderada pela filha Catarina que contava com o apoio dos avós, pais da mãe, Sandra Madureira, assim como de outros familiares.

O MP suspeita que o esquema contava com o apoio de Fernando Saúl e Cátia Guedes e de outros funcionários, que permitiam que Fernando Madureira ficasse com os bilhetes e com o dinheiro da venda dos mesmos. Os bilhetes que iam parar mãos de Madureira e que depois eram vendidos no mercado negro eram destinados à claque, mas também para uso exclusivo de funcionários dos “recursos humanos”, “sócios atletas”, e “relações públicas”.Há também a suspeita de que eram criadas casas do FC Porto sem sede física, apenas para obtenção de bilhetes e revenda de convites.

De acordo com a mesma fonte da PSP, "foi recolhida prova da suspeita de crimes de distribuição e venda de títulos de ingresso falsos ou irregulares/distribuição e venda irregulares de títulos de ingresso previstos na Lei 39/2009, de 30 de Julho (regime jurídico da segurança e combate ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos) e de abuso de confiança qualificado".

A PSP constituiu 13 arguidos e apreendeu cerca de 4 mil bilhetes de vários jogos do FCP, 44 510 euros em numerário, uma tocha, diversa documentação relacionada com a venda e distribuição ilegal de bilhetes, diversos equipamentos informáticos e telefónicos, várias máquinas fotográficas com conjuntos de objectivas e 323 cartões de sócio dos Super Dragões. Entre os arguidos está Catarina Madureira filha do Líder dos Super Dragões.

Apreendidos bilhetes para o jogo com o Boavista

Durante a tarde, a Associação Super Dragões divulgou um comunicado na sua página oficial, no Facebook, onde informa que," em função de notícias trazidas a público relativas a diligências judiciais levadas a cabo na manhã do dia de hoje, foram apreendidos bilhetes para o jogo Futebol Clube do Porto – Boavista (20h30, Estádio do Dragão) que resultam da execução do Protocolo vigente com o Futebol Clube do Porto, conforme documento de conhecimento público e disponível no website da Associação para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD)".

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Clube diz que estão a "decorrer buscas numa das participadas do grupo, a Porto Comercial, e na loja do Associado no Estádio do Dragão" Nelson Garrido

De acordo com a Associação Super Dragões, "face às circunstâncias, não sendo possível apurar quais os bilhetes já entregues a grupos e/ou núcleos, foi solicitado ao Futebol Clube do Porto o estorno e cancelamento de todos os ingressos emitidos ao abrigo do referido Protocolo". "Seguramente serão prestados os devidos esclarecimentos quanto ao procedimento a adoptar quanto à devolução dos ingressos já entregues e cancelados", sublinha a associação, que lamenta "o sucedido", acrescentando que "é a primeira vez na história que a bancada não estará preenchida".

"Estamos plenamente convictos de que tudo será esclarecido em sede própria", lê-se.

Estas não são as primeiras buscas realizadas pela polícia este ano relacionadas com o FC Porto. A 31 de Janeiro, a PSP deteve 12 pessoas — incluindo dois funcionários do FC Porto e o líder dos Super Dragões, Fernando Madureira —, no âmbito da Operação Pretoriano, que investiga os incidentes verificados numa assembleia geral extraordinária do clube.

Em causa estão crimes de ofensa à integridade física no âmbito de espectáculo desportivo ou em acontecimento relacionado com o fenómeno desportivo, coacção e ameaça agravada, instigação pública a um crime, arremesso de objectos ou produtos líquidos e ainda atentado à liberdade de informação. O Ministério Público sustenta que a claque dos Super Dragões pretendeu "criar um clima de intimidação e medo", para que fosse aprovada a revisão estatutária "do interesse" da então direcção "azul e branca", liderada por Pinto da Costa.

Na semana passada, o Tribunal de Instrução Criminal do Porto decidiu manter em prisão preventiva Fernando Madureira, líder da claque dos Super Dragões, e Hugo Carneiro, conhecido por "Polaco", no âmbito deste caso.

Novo presidente do clube ainda sem acesso à SAD

A presidência do clube mudou de mãos recentemente. Mais de 42 anos depois, Pinto da Costa perdeu as eleições e deu lugar a André Villas-Boas. A lista liderada por Villas-Boas conseguiu uma vitória expressiva nas eleições de 27 de Abril, amealhando cerca de 80,3% dos votos. Este acto eleitoral foi o mais participado na história do FC Porto, com 26.876 associados a colocarem o voto em urna. O recorde de 1988 (10.700 sócios) foi mais do que duplicado, com os sócios portistas a mostrarem claramente a vontade de mudança.

Apesar dessa vitória, Villas-Boas ainda tomou posse apenas como presidente do clube e não da SAD do FC Porto. Terá de aguardar pelo menos 21 dias até que se realize a assembleia geral de accionistas, que entretanto foi marcada para o dia 28 de Maio. Depois desta aprovação, Villas-Boas será presidente com plenas funções.

No discurso de tomada de posse, a 7 de Maio, Villas-Boas não esqueceu o “braço-de-ferro" que trava com a direcção liderada por Pinto da Costa. O novo presidente luta pelo acesso em tempo útil aos dossiers fundamentais na vida do clube, mas tem encontrado resistência dos administradores da SAD — que se recusam a acelerar o processo. “Não poderia deixar de terminar este discurso sem fazer um apelo ao bom senso da administração da SAD do FC Porto! A vossa renúncia não seria jamais considerada um acto de fuga, mas, sim, um acto nobre que vos elevaria”, reiterou André Villas-Boas.

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