As várias polémicas da tensa Eurovisão, que tentou esconder as unhas de iolanda

O evento que se assume apolítico foi marcado pela presença de Israel e o descontentamento do público, dos concorrentes e das delegações.

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iolanda, na final do festival da eurovisão Leonhard Foeger
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O Festival Eurovisão da Canção assume-se como um festival apolítico, mas não há maneira de afirmar que a sua 68.ª edição não foi marcada pela política. No que se passava em cima do palco e fora dele. Na final de sábado à noite, as unhas da concorrente portuguesa que ficou em 10.º lugar, iolanda, pintadas com alusão aos keffiyehs palestinianos, símbolo da luta do país, não foram mostradas pela organização nas redes sociais, que optou por publicar imagens da primeira semifinal do concurso, que ocorreu terça-feira e em que as unhas da artista estavam pintadas de branco, legendando-as como se fossem de sábado.

Na conta de Instagram oficial da Eurovisão, por exemplo, o post de sábado à noite ainda está online ao início da tarde deste domingo, tal como as fotografias do site oficial, que induzem em erro e apresentam imagens que não são da "grande final", como está escrito. Não houve qualquer correcção. Durante a noite, o vídeo da actuação que culminou com iolanda a dizer que "a paz vai prevalecer" não foi publicado no YouTube oficial da organização até mais de uma hora depois da actuação, quando as votações já tinham fechado. O site da RTP noticiou que tal só aconteceu após questionarem a UER (União Europeia de Radiodifusão), a organização do festival, "sobre a omissão".

Ainda segundo a RTP, sábado ao fim da tarde, num directo da RTP3, Catarina Cadavez, enviada da estação pública a Malmö, na Suécia, para cobrir o festival, explicava que o camarim de Israel tinha sido mudado de sítio para um lugar isolado após uma reunião de emergência entre as várias delegações dos países a concurso. "Estavam a ser relatados eventos de perseguição da delegação israelita" a membros das delegações e "artistas da Grécia, Suíça, Irlanda e Países Baixos", as mesmas que, numa conferência de imprensa após a segunda semifinal, na quinta-feira à noite, tinham manifestado desagrado quanto à passagem de Israel à final, e tinham partilhado também mensagens pró-Palestina. Portugal, contava a jornalista, "foi um dos países que pediu precisamente essa reunião de emergência, porque os membros da delegação de Portugal assistiram muitas vezes a esses acontecimentos".

Fonte da delegação portuguesa explica ao PÚBLICO que "houve alguns artistas dentro da zona dos camarins que se queixaram de não se sentirem bem nem confortáveis" porque "a delegação de Israel viaja com segurança privada", algo que "acontece sempre, não é só este ano". Alguns desses artistas terão mostrado "muito desconforto no sentido de haver ali muita segurança presente na zona partilhada por muitos países, dizem que se sentiam olhados, é uma situação de tensão". Partilha ainda que havia pessoas com "acreditação pela delegação de Israel" a fazer "vídeos provocatórios" que foram publicadas no Twitter, ou X, e "reportados à UER".

Bambie Thug, concorrente da Irlanda que ficou em 6.º lugar e, tal como Nemo, que venceu pela Suíça, é uma pessoa não-binária, disse à imprensa numa entrevista conjunta posterior à final que a KAN, a emissora israelita, tinha "incitado violência" contra si "duas vezes, três vezes". Fê-lo porque "agora" já estava "livre" e podia "falar sobre tudo". Thug partilhou que a sua delegação tinha denunciado isso à UER, que teria dito "que daria seguimento" à queixa. "Esperaram até ao último minuto e ainda não temos resposta. Deixaram-nos ser bodes expiatórios", continuava.

Thug tinha orgulho de ter ficado nos dez primeiros, "porque tem sido tão difícil" e "horrível" para os concorrentes. "[Nós] somos aquilo que a Eurovisão é, a UER não é aquilo que é a Eurovisão é, já nem quero saber, que se fodam", continua. O que torna a Eurovisão o que é, manteve, "são os concorrentes, a comunidade atrás disto, o amor, o poder e o apoio de todos nós, é isso que está a criar mudança". Adicionou ainda: "O mundo falou, as pessoas queer estão a chegar, não-binários para a porra da vitória".

As bandeiras e outros símbolos de países que não estivessem na competição, tirando a bandeira do arco-íris LGBTQIA+, estavam banidos na competição. Nemo, que venceu, disse na conferência de imprensa posterior à final que tinha tido de levar à socapa uma bandeira da comunidade não-binária, amarela, branca, púrpura e preta. Após a vitória, a organização publicou nas redes sociais uma fotografia de Nemo com a tal bandeira proibida e a legenda: "Elegência não-binária".

A RTVE, emissora espanhola, pediu na sexta-feira à UER para zelar pela liberdade de imprensa e opinião ao longo do festival. Juanma Fernández, jornalista espanhol, tinha dito que quatro pessoas com acreditações da delegação de Israel tinham procurado "intimidar" e "repreendê-lo" após ter gritado "Palestina livre" depois do ensaio geral de Eden Golan, a concorrente israelita, em que esta foi apupada.

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