Gaza: Israel ordena evacuação de mais zonas de Rafah

Porta-voz do exército israelita alegou que o “Hamas está a tentar restaurar os seus recursos na região”. Alertou residentes de várias zonas de Rafah para irem para as zonas humanitárias no Norte.

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Exército israelita, no Sul de Israel, perto da fronteira com a Faixa de Gaza ABIR SULTAN / EPA
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O Exército israelita pediu, este sábado, aos residentes de mais áreas em Rafah, no Norte da Faixa de Gaza, para abandonarem o local e se dirigirem para a zona humanitária em Al-Mawasi. O aviso foi feito pelo porta-voz das IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês) para os media árabes no X, antigo Twitter e levou ao medo de que Israel esteja mesmo a preparar-se para uma incursão na cidade que até os seus aliados têm afirmado que poderá ser catastrófica.

"Estão numa zona de combate perigosa. O Hamas está a tentar restaurar os seus recursos na região e, portanto, as IDF vão trabalhar com grande força contra as organizações terroristas na região", avisou o porta-voz na mesma publicação. "Assim sendo, todos os que estejam nessa área estão a expor-se a si mesmos e às suas famílias ao perigo", concluiu.

De acordo com um comunicado do Exército, as forças israelitas estimam que cerca de 300 mil habitantes de Gaza já se dirigiram para a zona de Al-Mawasi desde o primeiro aviso para uma evacuação de uma parte da cidade de Rafah, feito na segunda-feira. A ONU diz que nos últimos dias, deslocaram-se para o local cerca de cem mil pessoas a partir de Rafah.

Israel declara que Al-Mawasi é uma zona segura, mas mesmo este local tem por vezes sido alvo de ataques, por exemplo no final de Fevereiro a um abrigo da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em que morreram duas pessoas e seis ficaram feridas.

Várias organizações de ajuda humanitária também têm avisado repetidamente que no local não há condições para receber tantas pessoas. “Mesmo antes da ordem de evacuação [a primeira], Al-Mawasi era inabitável,” declarou ao diário norte-americano The Washington Post Tjada D'Oyen McKenna, da organização Mercy Corps. “As nossas equipas dizem que há tendas sem fim sob o sol escaldante sem qualquer alívio à vista, sem electricidade, água ou ajuda.”

A porta-voz da UNRWA (a agência da ONU que apoia refugiados palestinianos) Louise Wateridge também afirmou que já era difícil para as agências distribuírem ajuda básica em Rafah e que esse trabalho é muito mais difícil noutras zonas de Gaza. “Em Al-Mawasi, há uma enorme falta de infra-estruturas, incluindo de água”, sublinhou em declarações à Al Jazeera. “Não há modo de apoiar ali dezenas de milhares de pessoas deslocadas.”

A cidade era uma espécie de ponto central para a distribuição de ajuda, uma zona considerada menos perigosa que o resto do território, e onde ainda podia haver algum acesso a cuidados de saúde, mesmo que muito limitados. Com a deslocação de muitas pessoas de outros locais de Gaza para Rafah, a cidade estava a dada altura com uma população de cerca de 1,4 milhões de pessoas.

“Ainda que só uma zona tenha recebido ordem de evacuação, causou um efeito dominó por toda a cidade, com pessoas com medo a tentar encontrar segurança onde não há qualquer segurança”, declarou ainda Wateridge.

O exército israelita assumiu ainda, há poucos dias, o controlo operacional do lado palestiniano do posto fronteiriço de Rafah, na fronteira com o Egipto.

Até agora, o posto de Rafah era central para a entrada de ajuda humanitária em Gaza e para permitir a saída de alguns cidadãos do enclave para o Egipto (saídas muito limitadas, e para quem podia pagar valores muito elevados).

Organizações de ajuda dizem que não tem entrado qualquer ajuda pelo posto entre o Egipto e Gaza, o que está a deixar a zona de Rafah, que já estava afectada por carência, numa situação de falta aguda de tudo. Israel diz que a ajuda tem entrado pelo posto de Kerem Shalom, a ONU disse que também por ali não houve movimento.

Israel diz que uma incursão terrestre em Rafah é essencial para o seu objectivo de neutralizar o Hamas, que terá ainda quatro batalhões na cidade. Os seus aliados, incluindo os Estados Unidos, têm dito repetidamente que são contra a operação sem que esta salvaguarde as vidas dos civis que procuraram abrigo em Rafah.

O governo norte-americano já suspendeu o envio de algumas armas a Israel na semana passada, de forma a impedir que sejam usadas nas operações em Rafah, a primeira vez que uma decisão deste género foi tomada desde a guerra que se seguiu ao ataque do Hamas de 7 de Outubro. Segundo responsáveis da Administração Biden citados pelo New York Times, foi suspenso o envio de 1800 bombas de 900 quilogramas e 1700 de 450. Manteve-se o envio de outro tipo de material militar.

Entretanto, durante a noite, 24 palestinianos foram mortos em ataques israelitas em várias zonas no Centro de Gaza, de acordo com informação da agência palestiniana WAFA, citada pela Reuters.

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