Gaza: Israel ordena evacuação de mais zonas de Rafah

Porta-voz do exército israelita alegou que o “Hamas está a tentar restaurar os seus recursos na região”. Alertou residentes de várias zonas de Rafah para irem para as zonas humanitárias no Norte.

Foto
Exército israelita, no Sul de Israel, perto da fronteira com a Faixa de Gaza ABIR SULTAN / EPA
Ouça este artigo
00:00
04:18

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Exército israelita pediu, este sábado, aos residentes de mais áreas em Rafah, no Norte da Faixa de Gaza, para abandonarem o local e se dirigirem para a zona humanitária em Al-Mawasi. O aviso foi feito pelo porta-voz das IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês) para os media árabes no X, antigo Twitter e levou ao medo de que Israel esteja mesmo a preparar-se para uma incursão na cidade que até os seus aliados têm afirmado que poderá ser catastrófica.

"Estão numa zona de combate perigosa. O Hamas está a tentar restaurar os seus recursos na região e, portanto, as IDF vão trabalhar com grande força contra as organizações terroristas na região", avisou o porta-voz na mesma publicação. "Assim sendo, todos os que estejam nessa área estão a expor-se a si mesmos e às suas famílias ao perigo", concluiu.

De acordo com um comunicado do Exército, as forças israelitas estimam que cerca de 300 mil habitantes de Gaza já se dirigiram para a zona de Al-Mawasi desde o primeiro aviso para uma evacuação de uma parte da cidade de Rafah, feito na segunda-feira. A ONU diz que nos últimos dias, deslocaram-se para o local cerca de cem mil pessoas a partir de Rafah.

Israel declara que Al-Mawasi é uma zona segura, mas mesmo este local tem por vezes sido alvo de ataques, por exemplo no final de Fevereiro a um abrigo da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em que morreram duas pessoas e seis ficaram feridas.

Várias organizações de ajuda humanitária também têm avisado repetidamente que no local não há condições para receber tantas pessoas. “Mesmo antes da ordem de evacuação [a primeira], Al-Mawasi era inabitável,” declarou ao diário norte-americano The Washington Post Tjada D'Oyen McKenna, da organização Mercy Corps. “As nossas equipas dizem que há tendas sem fim sob o sol escaldante sem qualquer alívio à vista, sem electricidade, água ou ajuda.”

A porta-voz da UNRWA (a agência da ONU que apoia refugiados palestinianos) Louise Wateridge também afirmou que já era difícil para as agências distribuírem ajuda básica em Rafah e que esse trabalho é muito mais difícil noutras zonas de Gaza. “Em Al-Mawasi, há uma enorme falta de infra-estruturas, incluindo de água”, sublinhou em declarações à Al Jazeera. “Não há modo de apoiar ali dezenas de milhares de pessoas deslocadas.”

A cidade era uma espécie de ponto central para a distribuição de ajuda, uma zona considerada menos perigosa que o resto do território, e onde ainda podia haver algum acesso a cuidados de saúde, mesmo que muito limitados. Com a deslocação de muitas pessoas de outros locais de Gaza para Rafah, a cidade estava a dada altura com uma população de cerca de 1,4 milhões de pessoas.

“Ainda que só uma zona tenha recebido ordem de evacuação, causou um efeito dominó por toda a cidade, com pessoas com medo a tentar encontrar segurança onde não há qualquer segurança”, declarou ainda Wateridge.

O exército israelita assumiu ainda, há poucos dias, o controlo operacional do lado palestiniano do posto fronteiriço de Rafah, na fronteira com o Egipto.

Até agora, o posto de Rafah era central para a entrada de ajuda humanitária em Gaza e para permitir a saída de alguns cidadãos do enclave para o Egipto (saídas muito limitadas, e para quem podia pagar valores muito elevados).

Organizações de ajuda dizem que não tem entrado qualquer ajuda pelo posto entre o Egipto e Gaza, o que está a deixar a zona de Rafah, que já estava afectada por carência, numa situação de falta aguda de tudo. Israel diz que a ajuda tem entrado pelo posto de Kerem Shalom, a ONU disse que também por ali não houve movimento.

Israel diz que uma incursão terrestre em Rafah é essencial para o seu objectivo de neutralizar o Hamas, que terá ainda quatro batalhões na cidade. Os seus aliados, incluindo os Estados Unidos, têm dito repetidamente que são contra a operação sem que esta salvaguarde as vidas dos civis que procuraram abrigo em Rafah.

O governo norte-americano já suspendeu o envio de algumas armas a Israel na semana passada, de forma a impedir que sejam usadas nas operações em Rafah, a primeira vez que uma decisão deste género foi tomada desde a guerra que se seguiu ao ataque do Hamas de 7 de Outubro. Segundo responsáveis da Administração Biden citados pelo New York Times, foi suspenso o envio de 1800 bombas de 900 quilogramas e 1700 de 450. Manteve-se o envio de outro tipo de material militar.

Entretanto, durante a noite, 24 palestinianos foram mortos em ataques israelitas em várias zonas no Centro de Gaza, de acordo com informação da agência palestiniana WAFA, citada pela Reuters.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários