Morreu a compositora e cantora italiana Giovanna Marini

“A Joan Baez italiana” cuja interpretação da canção de resistência e protesto camponês Bella Ciao é um dos indispensáveis dos nossos tempos. Etnomusicóloga italiana tinha 87 anos.

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Quarteto de Giovanna Marini DR
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A compositora e etnomusicóloga italiana Giovanna Marini morreu na passada quarta-feira aos 87 anos, em Roma, a cidade em que nasceu e onde fundou a Escola de Música Popular de Testaccio (um bairro romano) nos anos 1970, um dos feitos que ficam para a sua história e para os registos da música popular italiana.

“Estaremos para sempre gratos a Giovanna Marini pelo seu trabalho de investigação precioso e também corajoso”, escreveu nas redes sociais, citado pelo diário Il Messaggero, o cantautor folk italiano Angelo Branduardi. “Perdemos uma verdadeira contadora de histórias.” A sua escola em Testaccio tem música clássica, jazz, música étnica, country, canto lírico, medieval ou renascentista, aberta a todo o tipo de instrumentos e interpretações.

Giovanna Marini nasceu a 19 de Janeiro de 1937 na capital italiana. Era compositora, cantora, investigadora, poeta, apaixonada pelos madrigais e guitarrista dotada, o diário Corriere della Sera não hesita em coroá-la como “rainha da folk” e “protagonista do Novo Cancioneiro Italiano e da redescoberta do canto popular”. Nascida numa família de várias gerações de músicos — o pai, Giovanni Salviucci, era compositor e a mãe, Ida Parpagliolo, pianista e professora de música —, era, como escreveu a crítica do PÚBLICO Cristina Fernandes numa entrevista à compositora, “rebelde por natureza — aos 12 anos fugiu de um colégio de freiras”.

Começou por uma formação ligada à música clássica, licenciando-se em Guitarra no Conservatório de Santa Cecília, mas um jovem pediu-lhe numa festa, em 1958, quando Marini, então com 21 anos, tocava para o grupo de foliões: "Deixe Bach e cante-nos uma canção". Era Pier Paolo Pasolini quem lho pedia. O contacto com vários intelectuais da época e a sua predilecção pelo comunismo fizeram parte do molde da forma que tomaria a sua carreira. “A Joan Baez italiana”, escreve o Messaggero.

Segundo a mesma contou ao PÚBLICO na altura, o poeta e realizador italiano foi uma das pessoas que a despertou para as riquezas da música tradicional e para a recolha de testemunhos sonoros da cultura popular pelo seu país, projecto que também ocupava Pasolini. Tanto investigou e registou, quanto se inspirou neles para as suas próprias composições. “A minha música pretende retratar os momentos de cultura que ainda não foram contaminados pela sociedade do bem-estar, a música que permanece nas mãos daqueles que vivem a vida de um modo diverso, refutando o nivelamento da indústria cultural”, disse há anos ao PÚBLICO.

O Messaggero recorda que em 1964, Marini participou no Festival dei Due Mondi em Spoleto como parte do grupo Il Nuovo Canzionere Italiano, interpretando o hino de resistência e de protesto camponês Bella Ciao. O seu registo e interpretação da canção, em 1975, tornou-se uma das gravações indispensáveis dos nossos tempos, segundo a editora Harmonia Mundi.

Ao longo da sua carreira, que agora terminou após uma “breve doença”, como escreve o Corriere della Sera, colaborou com nomes maiores como Pasolini, Pippo Delbono, Italo Calvino ou Dario Fo. Escreveu também música para cinema e teatro.

Giovanna Marini actuou várias vezes em Portugal: em Viseu, no Teatro Viriato, e no Porto no Rivoli com a cantata Si Bemol, em 2000, o mesmo espectáculo que levou ao Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, no mesmo ano; já tinha estado no CCB em 1999 com Partenze, 20 anos depois da morte de Pier Paolo Pasolini; participou também no espectáculo Urlo, de Pippo Delbono, no Teatro Municipal da Guarda e no festival Imaginarius, em Santa Maria da Feira, em 2006.

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