Como qualquer assistente, o ChatGPT precisa de descansar – até a versão paga

Vale a pena pagar pelo ChatGPT Plus? Passei os últimos quatro meses a testar a versão paga do chatbot da OpenAI, o primeiro do seu género.

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As várias ideias do Dall-E, da versão paga do ChatGPT, para ilustrar este texto – compiladas por um humano DR
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“Chegou ao limite de utilização do GPT-4. Pode continuar com o modelo-padrão, ou tentar mais tarde.” Mais tarde é daqui a uma hora (no mínimo). O “modelo-padrão” é a versão grátis do ChatGPT, que não sabe nada do mundo depois de Setembro de 2021, não fornece links, não gera nem analisa imagens, não permite criar chatbots personalizados e não custa cerca de 22 euros por mês.

Volta e meia, quem usa a versão paga do ChatGPT, o ChatGPT Plus, é obrigado a voltar ao modelo de linguagem-padrão, o GPT-3.5, disponível na versão grátis que todas as pessoas podem usar. Esta foi uma experiência recorrente durante os meses que passei a experimentar a versão premium do chatbot com inteligência artificial da OpenAI, por cortesia da empresa, para perceber as diferenças em relação ao serviço gratuito.

O sistema básico continua a responder a quase tudo – sinceramente, é até mais rápido –, mas tem um vocabulário mais limitado, é mais cliché nas respostas e adora utilizar o gerúndio em português (a blockchain, diz-nos, é um “protocolo descentralizado, conectando blocos de dados”). Também é mais difícil obter fontes online.

“É como ter um assistente pessoal genial que finge ser um idiota e, de três em três horas, faz intervalos de duas horas para almoçar”, comenta um utilizador frustrado num fórum da OpenAI. De facto, é mais ao menos essa a sensação – e levanta a questão: porquê pagar se vamos acabar por usar a versão grátis?

Quando o modelo GPT-4 não está na “pausa para almoço”, é um óptimo assistente. Para quem escreve muito, ajuda a identificar e a cortar partes muito repetitivas num texto, corrige algumas gralhas, sugere sinónimos e ajuda com ideias. Comparativamente à versão gratuita, é melhor a detectar subtilezas e não se esquece que pedi para responder “em português de Portugal” ou com “menos verbos no gerúndio e menos adjectivos”.

Também é possível pedir ao sistema para analisar imagens, incluindo gráficos, ou usar a ferramenta de criação de imagens Dall-E. É uma boa opção para ajudar com apresentações de trabalho ou postais de aniversário com base nos gostos de alguém (quiçá, uma pizza em formato de bolo a flutuar na galáxia).

Posto isto, em Maio de 2024, há outras ferramentas disponíveis que fazem tudo isto gratuitamente, como o chatbot Copilot da Microsoft, que é uma das grandes investidoras da OpenAI e pode usar o GPT-4 para gerar respostas e imagens. Há também o Gemini, da Google, que usa um modelo de linguagem da tecnológica de Mountain View, nos Estados Unidos. E a Meta (dona do Facebook, WhatsApp e Instagram) lançou recentemente um chatbot com IA para as suas redes sociais, embora ainda não tenha chegado à União Europeia.

Algo que a versão grátis do Copilot não faz, porém, é criar chatbots personalizados para responder a temas específicos, desde culinária vegana a literatura infantil. Não é preciso sequer saber programar: a base do processo, como tudo no ChatGPT, parte de uma conversa. Tudo começa com: “O que queres criar?”

É interessante, mas, provavelmente, não é uma ferramenta que todos usem. Durante o período em que usei o ChatGPT Plus, apenas recorri à funcionalidade uma vez: para criar um chatbot que sugeria receitas veganas com a informação nutricional em verso – uma experiência para testar as capacidades do GPT-4. Já agora, para os curiosos, a lista de ingredientes de um bolo de chocolate em verso inclui “200 gramas de farinha de trigo integral, para mais fibra usar/ 40 gramas de cacau em pó, antioxidante natural sem par”.

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O chatbot vegano que cria receitas em rima DR

Chatbots para todos

A empresa de Sam Altman explica que a alternância entre o GPT-4 e o GPT-3.5 na versão paga é essencial para garantir que o chatbot, usado por cerca de 180 milhões de pessoas no mundo, está disponível para todos. Ou seja, para evitar que o sistema fique sobrecarregado, há alturas em que quem paga só pode usar o modelo de linguagem GPT-3.5.

Quem não paga, fica barrado de usar qualquer versão do chatbot. Este é um dos principais argumentos usado pela OpenAI para vender a ferramenta que popularizou a ideia de falar, literalmente, com programas informáticos para obter informação. Em dois meses, tinha conquistado mais de 100 milhões de utilizadores mensais, algo nunca antes visto (o TikTok precisou de nove meses para alcançar essa marca), e inspirou muitos outros serviços do género.

A realidade é que, quando se começa a usar um chatbot com IA regularmente, é difícil parar. Quando é preciso encontrar informação, em vez de listas de sites, os sistemas respondem directamente às perguntas dos utilizadores no estilo que estes preferem, seja num “bê-à-bá” ou “para um público técnico”.

Mas, então, vale a pena pagar especificamente pelo ChatGPT? Depende do que se quer. Para quem usa chatbots para “limar” textos, como um corrector ortográfico ou dicionário de sinónimos, online, há muitas ferramentas gratuitas. Mesmo que não sejam tão boas com subtilezas.

A versão grátis do Copilot usa o modelo de linguagem GPT-4, o mesmo do ChatGPT Plus, mas é mais eficaz como um assistente de pesquisa. Para o pedido: “Ajuda-me a encontrar notícias sobre redes sociais publicadas desde 2022 em sites de notícias de Portugal”, o Copilot partilha o link exacto, enquanto o ChatGPT se fica pela homepage.

Se há interesse em criar ou procurar chatbots personalizados, provavelmente, o ChatGPT Plus é uma boa opção. A ferramenta também dá acesso a uma enorme biblioteca de chatbots criados por outros subscritores, que respondem a temas específicos.

No meu caso, não vou continuar a usar o ChatGPT Plus. Vou continuar, sim, a usar a versão grátis, juntamente com a versão grátis do Copilot, do Gemini, e de outras tantas ferramentas de IA generativa. Tal como o GPS, motores de busca, e tradutores automáticos, os chatbots com IA fazem cada vez mais parte do dia-a-dia de quem está ligado à Internet.

Os planos de subscrição, oferecidos pelas várias empresas, são uma forma de suportar custos operacionais associados à manutenção e ao desenvolvimento de capacidades avançadas de IA, como o tratamento de linguagem natural. Representam uma alternativa ao uso de publicidade e uma tentativa de voltar a um modelo em que se paga por informação, em vez de transformar os utilizadores no produto.

Só que com a disponibilidade de opções gratuitas sem publicidade (por enquanto) e a velocidade a que as ferramentas mudam, ainda é difícil decidir por pagar. Especialmente no caso do ChatGPT Plus que, volta e meia, opera apenas com funcionalidades grátis.

P.S.: Acredito mesmo que estes programas não têm de ameaçar as competências humanas. É preciso educação e legislação. E é preciso ver estes sistemas como ferramentas: o chatbot pode criar um programa de receitas em verso, mas a ideia ainda veio de um humano. E é o humano que revê e decide se vai usar, e como vai usar, o que um chatbot sugere.


Artigo actualizado no primeiro parágrafo na referência temporal da versão base do ChatGPT

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