Polícias criticam palavras de Montenegro e insistem em aumentos, mesmo que faseados
Líderes sindicais entendem que polícias não podem ser comparados a outros prestadores de serviço público e avisam primeiro-ministro de que tem de cumprir compromissos que assumiu.
O porta-voz da plataforma que reúne os sindicatos da PSP e associações da GNR, Bruno Pereira, criticou as alusões que o primeiro-ministro Luís Montenegro fez esta sexta-feira às reivindicações das forças de segurança. Mesmo admitindo que os aumentos exigidos pelas polícias lhes possam chegar de forma faseada, ao longo de dois ou três anos, o líder sindical diz que o chefe do Governo não pode ignorar os compromissos que assumiu com a classe quer antes das eleições, quer já depois de as ter vencido.
“Exigimos respeito por esses compromissos”, diz Bruno Pereira. “Não podemos brincar com as palavras nem com as pessoas.”
A plataforma ameaça romper negociações com o Ministério da Administração Interna, que acusa de só querer atribuir às polícias um aumento salarial da ordem dos 75 euros mensais, quando a Judiciária viu o seu subsídio de missão subir cerca de 600 euros no início do ano. Para os líderes da plataforma, o suplemento a atribuir à PSP e GNR tem de começar pelo menos nos 200 a 300 euros mensais, para depois ir sendo aumentado até atingir os 600, num prazo de dois a três anos.
Apesar de ter afirmado que os polícias têm de ser valorizados no seu ordenado, o primeiro-ministro deixou algumas ressalvas sobre o assunto no discurso que fez esta sexta-feira de manhã durante a tomada de posse do novo director nacional da PSP, numa cerimónia que decorreu no Ministério da Administração Interna. Mesmo reconhecendo que os aumentos são essenciais para recrutar mais pessoal para estas carreiras e para impedir que os actuais efectivos a abandonem, Luís Montenegro foi recordando os constrangimentos financeiros que o país atravessa: "São centenas de milhares de prestadores de serviço público, em várias áreas, que se encontram na mesma circunstância. Qualquer alteração provoca uma mexida muito substancial nas nossas contas e na nossa gestão orçamental." Afinal, acrescentou, "não vale a pena alimentar a opinião pública com cenários irrealistas".
Para Bruno Pereira, que lidera também o Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia, as funções de segurança pública que desempenham os agentes da PSP e os militares da GNR não são comparáveis às exigências de outras carreiras da função pública. E dá o exemplo espanhol, onde foi levada a cabo uma equiparação salarial entre polícias e guardas civis que custou 807 milhões de euros. A questão não está porém sanada no país vizinho, com os sindicatos a reclamar que ainda há diferenças significativas de ordenado entre os dois grupos.