Israel irá lutar com “as unhas”, se for preciso, diz Netanyahu

Primeiro-ministro garantiu que suspensão do envio de armas pelos EUA não irá desviar as forças israelitas dos seus objectivos na Faixa de Gaza.

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Benjamin Netanyahu e o Presidente Isaac Herzog numa cerimónia do Dia Nacional em Memória das Vítimas do Holocausto AMIR COHEN / POOL / EPA
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O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel irá continuar a combater o Hamas, nem que tenha de o fazer com as “unhas”, numa aparente reacção à suspensão pelos EUA do envio de armamento por causa da ofensiva sobre Rafah.

Numa mensagem televisiva transmitida na quinta-feira à noite, o chefe do Governo israelita adoptou um tom desafiador, embora não tenha referido directamente os EUA. “Se for preciso ficarmos sozinhos, iremos ficar sozinhos. Disse que, se necessário, iremos combater com as nossas unhas”, declarou Netanyahu.

As declarações do primeiro-ministro israelita estão a ser interpretadas como uma resposta ao anúncio feito pelo Pentágono de que foi suspenso o envio de um carregamento de munições para Israel. O Presidente norte-americano, Joe Biden, justificou a decisão como uma forma de pressionar as autoridades israelitas a não avançarem para uma ofensiva militar contra Rafah.

A cidade no Sul da Faixa de Gaza tem sido o último refúgio para cerca de 1,5 milhões de pessoas forçadas a fugir de outros locais do território palestiniano que foram arrasados pelas operações militares das Forças de Defesa de Israel (IDF). Uma ofensiva terrestre irá aprofundar ainda mais uma crise humanitária que deixou praticamente toda a população de Gaza em situação de carência alimentar.

Biden deu a entender que um ataque terrestre contra os centros populacionais de Rafah seria encarado pela Casa Branca como a violação de uma “linha vermelha” que poderia vir a pôr em causa novos envios de armamento. As autoridades israelitas estão convictas de que em Rafah permanecem dirigentes do Hamas e, por isso, insistem na necessidade da operação.

A suspensão anunciada pelo Pentágono representa uma viragem histórica na política de Washington em relação a Israel, que tem nos EUA o seu mais importante aliado diplomático e militar.

Na mesma mensagem, Netanyahu referiu-se ainda à guerra de 1948, quando o recém-fundado Estado de Israel teve de se defender de uma coligação de vários países árabes. “Éramos poucos contra muitos, não tínhamos armas. Havia um embargo de armamento em Israel, mas com grande força de espírito, heroísmo e unidade entre nós fomos vitoriosos”, declarou.

Vários dirigentes israelitas criticaram a posição dos EUA, incluindo o ministro da Defesa, Yoav Gallant, que avisou que “o Estado de Israel não pode ser subjugado”. O embaixador israelita nas Nações Unidas, Gilad Erden, disse que as declarações de Biden eram “muito desapontantes” e condenou Washington por “atrasar [o envio dos] os meios para destruir o Hamas”.

Netanyahu adoptou um tom mais conciliador em relação à Administração Biden numa entrevista emitida na noite passada com o apresentador conhecido como “Dr. Phil”. “Sempre estivemos de acordo, mas também tivemos os nossos desentendimentos. Temos sido capazes de os superar. Espero que os possamos superar agora, mas temos de fazer o que é preciso para proteger o nosso país”, disse Netanyahu, referindo-se à sua relação com Biden.

Por outro lado, os esforços diplomáticos para que seja alcançado um cessar-fogo em Gaza dão sinais de insucesso após a interrupção repentina das negociações que decorriam nos últimos dias no Cairo. As delegações do Hamas e de Israel abandonaram a capital egípcia na noite passada, mas ainda não houve qualquer declaração oficial que dê as conversações como terminadas.

O director da CIA, William Burns, que também participava nas negociações, abandonou o Cairo, mas a Casa Branca rejeita que isso signifique o falhanço do processo diplomático. “Os interlocutores das outras delegações permanecem nas discussões do Cairo, portanto estas prosseguem”, disse o porta-voz para a Segurança Nacional, John Kirby.

No entanto, o Hamas diz que é Israel que tem de decidir se aceita os termos do acordo de cessar-fogo que o grupo palestiniano aprovou no início da semana, enquanto Israel mantém que os termos dessa proposta são inaceitáveis.

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