A caça à baleia em meados do século XX quase extinguiu as baleias-azuis do Antárctico (Balaenoptera musculus intermedia) - os maiores animais da Terra, com até 30 metros de comprimento e podendo pesar até 200 toneladas -, uma espécie ameaçada que no final do século passado contava menos de dois mil destes animais vivos. Ainda não se sabe até que ponto a população recuperou, mas há novidades: os chamamentos destes animais estão a ouvir-se com cada vez mais frequência.
Num estudo publicado no final de Abril na revista científica Frontiers in Marine Science, que inclui investigadores do Programa Antárctico Australiano, encontram-se as conclusões da análise de sete inventários acústicos de sons de mamíferos marinhos, realizados entre 2006 e 2021 através de sonobóias (com microfones subaquáticos) lançadas ao longo do trajecto durante viagens ao Antárctico.
As boas notícias: os levantamentos mais recentes captaram mais sons destes três tipos de chamamento, o que traz indícios de uma recuperação desta espécie criticamente ameaçada de extinção. Só não é ainda possível dizer se isso significa que há mais baleias-azuis ou apenas que estamos mais capazes de as ouvir.
“Quando olhamos para trás, para antes de este trabalho ter sido iniciado pela Divisão Antárctica Australiana, tínhamos muito poucos encontros com estes animais”, explica ao jornal The Guardian Brian Miller, especialista em acústica de mamíferos marinhos da Divisão Antárctica Australiana, autor principal do estudo que também envolveu cientistas da Nova Zelândia, Estados Unidos e Reino Unido. “Podemos dizer onde é que eles andam, podemos dizer que os ouvimos com mais frequência. Isso é um progresso.”
Os investigadores analisaram milhares de horas de áudio que sugerem que o número de baleias é estável - ou estará mesmo a aumentar. Foram detectados três tipos diferentes de chamamentos de baleias-azuis do Antárctico, que incluem os denominados “chamamentos Z”, com cerca de 20 segundos de duração e que são específicos desta espécie de baleia-azul, e os “chamamentos D”, mais curtos e mais agudos, comuns às baleias-azuis em geral.
Os sons captados pelas sonobóias mostraram a distribuição das baleias-azuis do Antártico no Verão nas suas zonas de alimentação no Antárctico, incluindo latitudes antárcticas e subantárcticas. Os chamamentos “parecem ter uma distribuição circumpolar em torno do Antárctico [a sul de 60°S] e através do sub-Antárctico [entre 50-60°S]”, descrevem os cientistas no artigo.
“Se pensarmos em nós, que quase as eliminámos, e na extinção, torna-se mais pungente pensar nelas a dizer: ‘Ainda aqui estou, aqui estou’”, afirmou Brian Miller ao Guardian.
As baleias passam metade do ano nas águas antárcticas, mas depois dirigem-se para norte, passando pela Austrália, África do Sul, América do Sul e atingindo por vezes latitudes próximas da linha do Equador. Com esta distribuição global, o investigador australiano conseguiu angariar contributos de cientistas de todo o mundo, mas espera também que as conclusões trazidas por este estudo dêem um empurrão aos esforços de conservação da Comissão Baleeira Internacional. “Só um esforço de colaboração internacional será capaz de resolver o quebra-cabeças de onde estão e se estão a recuperar”, afirma o investigador.