PJ admite que abusos de professor detido possam ir muito além dos 2 mil já identificados
Denúncia partiu de ex-alunas, hoje adolescentes e que frequentam outro agrupamento de escolas da Póvoa de Lanhoso. Investigação centrou-se nos últimos sete anos, mas será agora alargada.
Um professor do 1.º ciclo, com 50 anos, foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) na sequência de uma investigação que, nas últimas semanas, permitiu encontrar indícios de 2 mil crimes de abuso sexual de crianças, a maioria deles agravado, cometidos “em contexto de sala de aula”. A PJ admite, porém, que o número total de crimes cometidos pelo docente possa ser muito superior, preparando-se para alargar o âmbito da operação que, para já, se centrou em actos praticados nos últimos sete anos.
O professor em causa dá aulas no 1.º ciclo no Agrupamento de Escolas Gonçalo Sampaio, na Póvoa de Lanhoso. Os casos mais antigos dos alegados abusos sexuais contra os seus alunos – crianças dos 6 aos 9 anos, segundo a PJ – remontam ao ano lectivo 2017/18.
Terá sido nesta altura que o professor agora detido deu aulas às alunas de quem partiu a denúncia. As estudantes, hoje adolescentes e a frequentarem a Escola Secundária da Póvoa de Lanhoso, o outro agrupamento escolar do concelho, contaram a situação que viveram a colegas mais velhas.
Em causa estão comentários sexuais e insinuações, mas também toques impróprios às crianças com as quais trabalhava, muitos deles em contexto de sala de aula. Foram estas alunas mais velhas que fizeram chegar a situação ao conhecimento da direcção da escola secundária, que a comunicou à PJ.
A investigação foi iniciada há poucas semanas e teve resultados “em tempo recorde”, valoriza fonte próxima da investigação. A denúncia foi feita “muito recentemente”, confirma ao PÚBLICO fonte da direcção da Escola Secundária da Póvoa de Lanhoso.
Até ao momento, não foi possível chegar ao contacto com a direcção do Agrupamento de Escolas Gonçalo Sampaio, onde o docente detido dava aulas.
A prioridade da investigação foi recolher indícios que permitissem levar à detenção do professor, interrompendo o perigo da prática criminosa contra os menores, centrando-se nos últimos sete anos e na escola onde trabalhou mais recentemente.
A investigação vai ser alargada no tempo e no espaço. O professor dá aulas na Póvoa de Lanhoso há cerca de uma década, mas antes já tinha passado por escolas do Porto, Vila Nova de Gaia, Barcelos e Amares. É “por isso, ainda desconhecida a real dimensão da sua actividade criminosa”, avança a Judiciária, em comunicado, admitindo que o número real de crimes praticados por este docente possa ser bem superior aos 2 mil que já foram até agora apurados.
“Do que foi possível apurar até ao momento, 2 mil crimes de abuso sexual de crianças, a maioria agravado, e também, pelo menos, um crime de pornografia de menores”, avança em comunicado a PJ, que investiga o caso através do Departamento de Investigação Criminal de Braga. Os indícios recolhidos permitiram deter o professor esta terça-feira.
O docente foi levado ao Tribunal Judicial de Braga esta quarta-feira, mas acabou por não ser presente para primeiro interrogatório judicial e aplicação de medidas de coacção, devido à greve dos funcionários judiciais. Regressará ao tribunal esta quinta-feira.
Ainda segundo a Judiciária, foram também realizadas buscas na escola EB 1 onde o professor em causa dava aulas, na sequência das quais “acabaram por ser localizados e apreendidos alguns objectos que poderão estar relacionados com a prática dos referidos crimes”.