Portugueses são dos mais europeístas, mas criticam inacção da UE perante Gaza e Kiev

Percentagem de inquiridos que diz que Portugal beneficiou da adesão à União Europeia atingiu um “máximo histórico”, indica novo estudo realizado para a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

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Maioria dos portugueses inquiridos em novo estudo diz ter uma imagem positiva das instituições europeias JULIEN WARNAND / EPA
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Portugal está entre os países mais pró-União Europeia, apoia sobretudo a adesão da Ucrânia e defende mais decisões sobre a guerra na Faixa de Gaza, segundo o Barómetro da Política Europeia divulgado esta quarta-feira.

O estudo, realizado para a Fundação Francisco Manuel dos Santos no início de 2024 através de 1107 entrevistas a residentes de Portugal Continental com 18 ou mais anos, foi divulgado na véspera do Dia da Europa, que se assinala a 9 de Maio.

A percentagem de inquiridos que diz que Portugal beneficiou da adesão ao espaço comunitário atingiu um "máximo histórico", com respostas acima dos 90% a uma questão que tem sido colocada em euro barómetros desde 1986, enquanto o apoio ao euro, questionado desde 2009, é afirmado por mais de 70%.

Sobre a imagem das instituições europeias, foi recordada a trajectória descendente de avaliação entre 2000 e os anos da crise económica, existindo agora uma imagem positiva (52,3%) do Parlamento Europeu (PE), Comissão Europeia (CE) e Banco Central Europeu.

Portugal (com uma média de 56,3% entre 2000 e 2023) também demonstra confiança nas instituições acima da média europeia (50,7%), o que traduz, segundo o estudo, a posição do país entre os Estados mais pró europeus.

"A confiança nas instituições políticas europeias é largamente superior à confiança nas instituições nacionais, como o Parlamento ou o Governo", lê-se no estudo, que mostra que cerca de um em cada três inquirido diz confiar a nível nacional contra os cerca de dois em três que manifestam confiança no PE e na CE.

As mulheres e os inquiridos com 55 ou mais anos e os com formação de nível superior tendem a avaliar melhor a imagem das instituições europeias e a confiar mais nelas.

Porém, quanto à acção das instituições face a desafios, a resposta é mais negativa, com maior insatisfação demonstrada em relação à redução da pobreza e das desigualdades ou à guerra em território palestiniano, "assuntos em relação aos quais menos de um terço se diz satisfeito" com a resposta comunitária.

A insatisfação maior é registada entre os mais jovens, inquiridos com menor escolaridade e os que se situam ideologicamente à direita.

Os inquiridos defenderam maior tomada de decisão europeia quanto à guerra em Gaza, a guerra na Ucrânia, a imigração proveniente de países terceiros e as alterações climáticas, sendo a preferência para decisões nacionais os temas como a pobreza e as desigualdades.

Mais de 80% considera que a UE deve poder expulsar Estados que desrespeitem a democracia

Mais adesões aos 27 são apoiadas por 44,5% dos inquiridos e têm oposição de 38,8%, com a Ucrânia (58%) a recolher o maior número de preferências.

À pergunta sobre influência nas decisões da União Europeia (UE) em termos de países, 74,5% aponta a Alemanha, seguindo-se, a larga distância, as menções a França (13,3%) e à Bélgica (2,3%).

Mais de 83% indicam que a UE deve ter o direito de expulsar membros cujos governos desrespeitem regularmente os princípios democráticos e quase metade considera que actualmente há países que não respeitam esses princípios (48,2%), designadamente a Hungria, em termos de valores democráticos e de direitos humanos. Portugal é mencionado por 3,3% neste capítulo, à frente da Polónia (3%).

Neste quadro, mais de 90% dos inquiridos defendem que a concessão de fundos deve estar condicionada ao respeito pelo Estado de direito e princípios democráticos.

Os dados mostram ainda que mais de 76% dos inquiridos em solo nacional sabem que a Suíça não integra a UE e que há 27 estados-membros, enquanto o maior desconhecimento prende-se com a data de adesão, nomes de eurodeputados portugueses e da presidente da Comissão Europeia.

De um modo geral, os inquiridos admitem não ter muito conhecimento sobre a actividade do Parlamento Europeu e "pouco mais de 50%" afirma que os eurodeputados representam bem ou muito bem os interesses nacionais, segundo o inquérito.

No caso de um hipotético referendo realizado amanhã sobre a adesão de Portugal à UE, 84,5% respondeu "sim".

A confiança, o apoio e o conhecimento sobre a UE são maiores entre quem concluiu o ensino superior, os mais jovens e os mais velhos que se lembram do país antes da adesão. Os inquiridos à esquerda e as mulheres tendem a ter uma visão mais positiva. Já os que advogam posições populistas tendem a ser mais pessimistas e negativos sobre o espaço comunitário.

Os portugueses também preferiam ver maior influência do Governo nacional e dos eurodeputados em contraste com as grandes empresas multinacionais e altos funcionários.