Astrónomos detectam finalmente um planeta rochoso com uma atmosfera

Descoberta obtida graças às observações do telescópio espacial James Webb, lançado em Dezembro de 2021. É um exoplaneta rochoso bem conhecido e agora indentificou-se-lhe a presença de atmosfera.

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Ilustração artística dop planeta chamado “55 Cancri e”, localizado a 41-ano luz da Terra Ralf Crawford/NASA/ESA/CSA
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Os astrónomos têm procurado durante anos planetas rochosos fora do nosso sistema solar com uma atmosfera – ​uma característica considerada essencial para qualquer possibilidade de albergar vida. Finalmente parecem ter localizado um. Mas este planeta infernal aparentemente com uma superfície de rocha derretida – não oferece esperança de habitabilidade.

Os investigadores disseram na quarta-feira que o planeta é uma “​super-Terra” ​– um mundo rochoso significativamente maior do que o nosso planeta, mas mais pequeno do que Neptuno – e que orbita perigosamente perto de uma estrela mais fraca e ligeiramente menos maciça do que o nosso Sol, completando rapidamente uma órbita a cada cerca de 18 horas.

As observações por infravermelhos, utilizando dois instrumentos a bordo do telescópio espacial James Webb, indicaram a presença de uma atmosfera substancial – se bem que inóspita –, talvez continuamente reabastecida por gases libertados por um vasto oceano de magma.

“A atmosfera é provavelmente rica em dióxido de carbono ou monóxido de carbono, mas também pode ter outros gases como o vapor de água e o dióxido de enxofre. As observações actuais não permitem determinar a composição atmosférica exacta, disse o cientista planetário Renyu Hu, do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA e do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), autor principal do estudo publicado na revista Nature.

Os dados do telescópio James Webb também não deixam clara a espessura da atmosfera. Renyu Hu disse ainda que poderia ser tão espessa como a da Terra ou mesmo mais espessa do que a de Vénus, cuja atmosfera tóxica é a mais densa do nosso sistema solar.

O planeta, chamado 55 Cancri e (ou Janssen), é cerca de 8,8 vezes mais maciço do que a Terra, com um diâmetro cerca de duas vezes maior que o do nosso planeta. Orbita a sua estrela a uma distância 25 vezes superior à distância entre o planeta mais interior do nosso sistema solar, Mercúrio, e o Sol, pelo que a sua temperatura à superfície é de cerca de 3140 graus Fahrenheit (1725 graus Celsius/2000 graus Kelvin).

“De facto, este é um dos exoplanetas rochosos mais conhecidos”, disse o astrofísico Brice-Olivier Demory, também co-autor do estudo, do Centro do Espaço e Habitabilidade da Universidade de Berna (na Suíça), usando o termo para planetas fora do nosso sistema solar.

Provavelmente, o planeta está bloqueado pelo efeito de maré, o que significa que está sempre com o mesmo lado virado para a sua estrela, tal como a nossa Lua está virada para a Terra. O planeta localiza-se na Via Láctea, a cerca de 41 anos-luz de distância da Terra, na constelação do Caranguejo. Um ano-luz é a distância que a luz percorre num ano. Quatro outros planetas, todos gigantes gasosos, são conhecidos por orbitarem a estrela 55 Cancri.

Num sistema de duas estrelas

Essa estrela está gravitacionalmente ligada a outra estrela num sistema binário. A outra é uma anã-vermelha, o tipo mais pequeno das estrelas comuns. A distância entre estas companheiras é 1000 vezes superior à distância entre a Terra e o Sol, e a luz demora seis dias a ir de uma para a outra.

Depois de tanta procura, o exoplaneta rochoso para o qual os cientistas finalmente encontraram provas de uma atmosfera acabou por ser um que provavelmente nem sequer deveria ter uma. Estando tão perto da sua estrela, qualquer atmosfera deveria ser destruída pela radiação estelar e pelos ventos. Mas os gases dissolvidos no vasto oceano de lava que se pensa cobrir o planeta podem continuar a borbulhar para reabastecer a atmosfera, explicou Renyu Hu.

“O planeta não pode ser habitável”, considerou Renyu Hu, porque é demasiado quente para ter água líquida, que é considerada um pré-requisito para a vida.

Todos os exoplanetas anteriores com atmosfera eram planetas gasosos e não rochosos. À medida que o telescópio James Webb empurra as fronteiras da exploração de exoplanetas, a descoberta de um planeta rochoso com uma atmosfera representa um progresso.

Na Terra, a atmosfera aquece o planeta, contém o oxigénio que as pessoas respiram, protege contra a radiação solar e cria a pressão necessária para que a água líquida permaneça na superfície do planeta.

“Na Terra, a atmosfera é a chave para a vida”, disse Brice-Olivier Demory. “Este resultado no ‘55 Cancri e’​ alimenta a esperança de que o James Webb possa fazer investigações semelhantes em planetas muito mais frios do que o ‘55 Cancri e’​, que poderiam ter água líquida à sua superfície. Mas ainda não chegámos lá.”

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