Stormy Daniels descreve em tribunal relação com Trump e acordo de silêncio
O depoimento de Daniels, uma das principais testemunhas de acusação no julgamento de Donald Trump em Nova Iorque, pode ser crucial para a decisão final dos jurados.
A antiga actriz de filmes pornográficos que está no centro do julgamento de Donald Trump em Nova Iorque, Stormy Daniels, reafirmou em tribunal, nesta terça-feira, que teve relações sexuais com o ex-Presidente dos Estados Unidos num hotel no estado do Nevada, em 2006, e que a ligação entre os dois se prolongou pelo menos até 2007. A versão de Daniels, que é conhecida desde inícios de 2018, mas que só agora foi contada sob juramento, é determinante para a decisão final dos jurados, num caso em que Trump é acusado de falsificar os registos da sua empresa para manter em silêncio o encontro com a actriz.
O depoimento de Daniels, de 45 anos, começou na manhã desta terça-feira (hora local, menos cinco horas do que em Portugal continental), depois de a defesa de Trump ter feito uma derradeira tentativa para impedir a actriz e produtora de falar sobre o seu encontro com o ex-Presidente dos EUA.
O juiz responsável pelo julgamento, Juan Merchan, rejeitou o pedido dos advogados de Trump e instruiu os procuradores do Ministério Público de Manhattan a evitarem perguntas que pudessem expor pormenores constrangedores, incluindo referências feitas por Daniels, num livro publicado em 2018, aos órgãos genitais do ex-Presidente dos EUA.
Segundo Daniels, Trump abordou-a em 2006, durante um torneio de golfe no Nevada — onde a actriz se encontrava a representar uma produtora de filmes pornográficos, que era uma das patrocinadoras do torneio —, e convidou-a para jantar na sua suíte. Após uma conversa demorada, durante a qual Trump foi cordial e mostrou interesse nos aspectos comerciais da indústria pornográfica, Daniels saiu da casa de banho da suíte e encontrou o empresário — e, na altura, apresentador do concurso de televisão O Aprendiz — sentado na cama e em trajes menores.
Nesta terça-feira, durante o julgamento, Daniels repetiu grande parte dos pormenores que já tinha contado à revista InTouch em 2011, numa entrevista que não foi publicada na altura, por receio de processos judiciais, e que só foi conhecida em 2018 — depois de o jornal Wall Street Journal ter noticiado que um advogado de Trump pagara 130 mil dólares (121 mil euros) à actriz, a poucos dias da eleição presidencial de 2016, para manter a história em segredo.
Questionada por uma das procuradoras do Ministério Público de Manhattan, Daniels descreveu a suíte em pormenor e disse que Trump desvalorizou o eventual impacto de um relacionamento entre os dois no seu casamento com Melania Trump, com quem se tinha casado no ano anterior e de quem acabara de ter um filho, Barron Trump. Segundo Daniels, Trump disse que ele e Melania não dormiam no mesmo quarto — uma declaração que levou o ex-Presidente dos EUA a abanar a cabeça em sinal de desagrado.
Não é possível antecipar de que forma irá o júri receber o depoimento de Daniels, mas o Ministério Público não podia deixar de convocar a antiga actriz como uma das suas principais testemunhas no julgamento.
Neste processo, Trump foi acusado de falsificar os registos da sua empresa num período de 11 meses, entre 2016 e 2017, com o intuito de esconder o pagamento pelo silêncio de Daniels, feito poucos dias antes da eleição presidencial de 2016; neste contexto, os argumentos da acusação só têm sustentação se os jurados ficarem convencidos da veracidade da versão de Daniels sobre o encontro com Trump em 2006.
Segundo a acusação, o pagamento a Daniels permitiu esconder dos eleitores uma informação potencialmente prejudicial para um candidato a eleições, o que é um crime em Nova Iorque. Poucos dias antes de o então advogado de Trump, Michael Cohen, ter feito o acordo com a actriz, o jornal Washington Post tinha revelado uma gravação em que o então candidato do Partido Republicano à Casa Branca se gabava de forçar contactos sexuais com várias mulheres — um escândalo que, na altura, foi visto na campanha de Trump como um golpe fatal na sua candidatura, e que levou o candidato, segundo a acusação, a pagar pelo silêncio de Daniels.