Vídeos falsos de colaboradores de Modi causam tensão nas eleições indianas

A partilha dos vídeos já levou à detenção de alguns trabalhadores do partido rival de Modi, o Congresso Nacional Indiano.

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Francis Mascarenhas / REUTERS
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A divulgação de vídeos manipulados de dois dos principais colaboradores do primeiro-ministro Narendra Modi está a aumentar a tensão na campanha eleitoral na Índia. A partilha dos vídeos já levou à detenção de alguns trabalhadores do seu partido rival, o Congresso Nacional Indiano, na oposição.

Modi denunciou na semana passada a utilização de vozes falsas que colocam líderes a fazer "declarações impensáveis", chamando-lhe uma conspiração "para criar tensão na sociedade".

A polícia indiana — que já está a investigar a disseminação de vídeos falsos que mostram actores de Bollywood a criticar Modi — está agora a investigar um clip online adulterado que mostra o ministro federal da Administração Interna, Amit Shah, a dizer que o seu partido, Bharatiya Janata (BJP)​, de Modi, no poder, vai acabar com certas garantias sociais para as minorias, um assunto sensível para milhões de eleitores.

Shah respondeu na rede social X, publicando o seu discurso "original" e o discurso "falso" editado, alegando sem apresentar quaisquer provas que o Congresso Nacional Indiano, principal partido da oposição, estava por detrás da criação do vídeo para enganar o público. O ministro disse que "foram dadas instruções à polícia para resolver esta questão".

A polícia indiana deteve pelo menos nove pessoas, incluindo seis membros das equipas de redes sociais do Congresso, nos estados de Assam, Gujarat, Telangana e Nova Deli, na semana passada, sob suspeita de terem feito circular o vídeo falso.

Cinco dos trabalhadores do Congresso foram libertados sob fiança, mas a detenção mais mediática efectuada pela unidade de cibercrime da polícia de Nova Deli ocorreu na sexta-feira, quando detiveram um coordenador nacional das redes sociais do Congresso, Arun Reddy, por ter partilhado o vídeo. Nova Deli, capital indiana, é onde o ministério de Shah controla directamente a polícia.

A detenção provocou protestos dos trabalhadores do Congresso, com muitas publicações no X com a etiqueta #ReleaseArunReddy. O deputado Manickam Tagore afirmou que a detenção é um exemplo de "abuso autoritário do poder por parte do regime".

A directora de redes sociais do partido Congresso, Supriya Shrinate, não respondeu às mensagens e a um e-mail da Reuters.

IA e desinformação na Índia

As eleições indianas, que decorrem desde 19 de Abril e terminam a 1 de Junho, são o maior evento democrático do mundo.

Com quase mil milhões de eleitores e mais de 800 milhões de utilizadores da Internet, combater a propagação da desinformação é uma tarefa de alto risco. Implica um controlo permanente por parte da polícia e das autoridades eleitorais que frequentemente emitem ordens para a retirada de conteúdos do Facebook e do X.

No estado mais populoso da Índia, Uttar Pradesh, mais de 500 pessoas vigiam os conteúdos online, assinalando os posts controversos e coordenando-se com as empresas detentoras das redes sociais para a sua remoção, quando necessário, disse à Reuters o chefe da polícia, Prashant Kumar, no sábado.

Outro vídeo manipulado que causou polémica na semana passada mostrava Yogi Adityanath, o ministro-chefe do estado de Uttar Pradesh, criticando Modi por não fazer o suficiente pelas famílias daqueles que morreram num ataque terrorista em 2019. Embora verificadores de factos tenham dito que o vídeo foi criado usando diferentes partes de outro vídeo, esse sim original, a polícia estadual disse que se tratava de "deepfake gerado por IA" (inteligência artificial).

Utilizando o rastreio de endereços de Internet, a polícia estatal prendeu um homem chamado Shyam Gupta a 2 de Maio, que tinha partilhado o vídeo falso no X um dia antes, recebendo mais de 3000 visualizações e 11 gostos.

A polícia acusou Gupta de falsificação e de promover a inimizade, acusações que podem implicar uma pena de prisão até sete anos, se for condenado. A Reuters não conseguiu contactá-lo, uma vez que está actualmente a cumprir uma pena de prisão preventiva de 14 dias.

"Esta pessoa não é um técnico. Se ele tivesse conhecimentos técnicos, não teria sido possível prendê-lo rapidamente", disse o oficial de polícia Kumar.